Só sei que nada sei

(*) Carlos Brickmann –

O ex-presidente Lula não sabia de nada, gente! O Paulo Okamoto, que ele conhecia desde muito jovem, deve ter arrumado dinheiro com algum amigo para generosamente cobrir despesas que ele havia feito e que não o deixavam nem dormir de tanta preocupação. O líder de uma igreja que dizia que “o demônio tem nove dedos” aliou-se a ele graças ao charme, à simpatia e à compulsão de ambos de ajudar os pobres. Os parlamentares que fizeram dura campanha contra ele e depois viraram lulistas desde criancinhas foram levados a isso porque, eleitos para beneficiar o povo mais humilde, reconheceram em Lula a mesma tendência benemérita que os fez sacrificar-se para exercer seus mandatos com dignidade, apesar dos baixos salários e do gigantesco trabalho que realizam.

Os golpistas horrorosos de sempre andaram inventando histórias de emissários com dólares na cueca, de jatinhos carregados de dinheiro, quanta mentira! Tudo bem, foram flagrados por autoridades federais, mas uma autoridade federal também pode se enganar, não é verdade? Até o próprio Lula já se enganou, na época em que o Mensalão foi revelado, e declarou-se traído. Como poderia ter sido traído, uma vez que hoje sabe e proclama que o Mensalão não existiu? Dizem até que o Delúbio Soares foi expulso do PT – mas não deve ser verdade, pois não está aí o nosso Delúbio, mais dentro do partido do que nunca?

Sócrates – o grego, que provavelmente jogava no Panathinaikos – dizia: “Só sei que nada sei”. Isso é sabedoria. Esta é a sabedoria de nossos líderes políticos.

Quem sabe, sabe

O debate sobre o Mensalão, travado agora, foi resumido em 2004 pelo Bloco do Pacotão, formado por jornalistas de Brasília, pouco após a queda de Waldomiro Diniz, assessor da Casa Civil de José Dirceu. Waldomiro foi filmado ao negociar propina com (lembra? Faça um esforço!) Carlinhos Cachoeira, o bicheiro. Waldomiro pegou 12 anos de prisão. Cachoeira? Esqueceram dele até 2012.

A imprensa demorou, mas os jornalistas não. A marchinha daquele ano do Bloco do Pacotão trazia a seguinte letra: “Ô Waldomiro, ô Waldomiro/ me responda por favor/ Se neste rolo, o bicho pega/ o Lulinha paz e amor/ Ô Waldomiro, ô Waldomiro/ Diga o bicho que deu/ e o Zé Dirceu?/ E o Zé Dirceu?/ O Zé Dirceu também comeu?”. Aí entra o refrão: “ô Zé Dirceu, ô Zé Dirceu, ô Zé Dirceu que bicho deu? Ô Zé Dirceu, ô Zé Dirceu/ ô Zé Dirceu eu quero o meu”.

Relembrar é preciso

Essa história do Waldomiro com o Cachoeira talvez ajude a entender por que a CPI do Cachoeira foi suspensa até depois das eleições (e talvez seja esquecida).

A hora do confronto

O PT está convocando sua militância, seus parlamentares, prefeitos e governadores, “para uma batalha do tamanho do Brasil”. A convocação é assinada pela Executiva Nacional. Não há referência a Mensalão, nem às denúncias atribuídas a Marcos Valério contra Lula: fala-se em “fazer a defesa do partido, de Lula, dos mandatos e lideranças, bem como do legado dos nossos governos, que melhoraram as condições de vida e fortaleceram a dignidade do povo brasileiro”.

Entenda direitinho

Fernando Haddad, candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, criticou duramente seu adversário José Serra por ter deixado o mandato no meio para disputar o Governo (Serra ganhou, com ampla votação na capital). Mas disse que a situação de Marta Suplicy, que abandonou o mandato de senadora para ganhar um Ministério e em troca apoiar sua candidatura, é muito diferente: ela pode, ele não. Da mesma maneira, quando Lula convidou Gilberto Kassab a apoiar a candidatura de Haddad, e o levou à convenção do PT, Kassab era um excelente prefeito. Quando Kassab preferiu apoiar Serra, passou a ser um prefeito muito ruim.

Muita maldade

Cabeça de jornalista às vezes se deixa levar pela maldade. Meio mundo está dizendo que Marta Suplicy foi nomeada ministra da Cultura para apoiar a candidatura de Fernando Haddad, que está longe de ser seu preferido, à Prefeitura de São Paulo. Mas há algo curioso nessa história: a ministra anterior, Ana de Hollanda, tinha como credencial maior ser irmã de Chico Buarque, petista histórico, de indiscutível prestígio. Pois foi só ele participar de um espetáculo em homenagem a Marcelo Freixo, do PSOL, candidato a prefeito do Rio contra Eduardo Paes, favorito de Lula e Dilma, que sua irmã foi demitida. Deve ser coincidência.

Coincidências

Os gastos de publicidade da Presidência da República, em julho, foram maiores que os ocorridos de abril a junho. Em um mês, gastou-se mais do que nos três anteriores, segundo o Contas Abertas. Em julho de 2011, os gastos atingiram a metade dos de julho de 2012. Mas certamente a proximidade das eleições nada tem a ver com o aumento dos gastos publicitários. Haverá explicações estritamente técnicas a respeito de targets, etc.

Eleição, é claro, não entra nisso.

Frase italiana

Console-se: não é só aqui. Uma frase que está sendo distribuída pela Internet italiana sugere que se vote em Ali Babá, porque os ladrões serão só 40.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.