Voto pela condenação do mensaleiro Costa Neto invalida discurso moralista de FHC em prol de Serra

(Foto: Marcelo Justo - Folhapress)
Prazo vencido – Se comparado ao atabalhoado Luiz Inácio da Silva, o tucano Fernando Henrique Cardoso pode ser considerado um estadista, mas é preciso cuidado para que tal status não suba à cabeça e emoldure discursos inadequados.

Na terça-feira (18), em ato com artistas e intelectuais, o ex-presidente FHC fez referências veladas ao escândalo do Mensalão do PT e disse que José Serra, candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, é a “recuperação moral” na política.

“Serra é o candidato que representa um reencontro do Brasil com a sua história de luta pela democracia. Uma democracia que não é para favorecer a corrupção, mas para favorecer a cidadania”, disse Fernando Henrique, que se esquece que na procissão política é preciso calma para não trincar o andor.

É verdade que o Brasil vive um dos piores momentos de sua história política, quadro que está ligado diretamente à passagem de Lula pelo Palácio do Planalto, mas a política não é um reduto de inocentes e bem intencionados. Na verdade, ingressar na política exige doses mínimas de esperteza, que muitas vezes se transforma em senha para o caminho do mal. Não se trata de analisar a forma de maneira pasteurizada, colocando todos os seus operadores no mesmo balaio, até porque faltaria espaço para tantos transgressores.

Com o voto do ministro Joaquim Barbosa (STF) condenado Valdemar Costa Neto, cujo partido, o PR, faz parte da aliança da candidatura de Serra, a fala de FHC perdeu a validade e tornou-se sem efeito. Fora isso, uma chacoalhada não muito violenta nas listas de apoiadores de Serra e de candidatos a vereador da coligação tornaria a situação ainda mais difícil e obrigaria Fernando Henrique a repensar o discurso.

Política é negócio em qualquer seara ideológica. O segredo está em saber fazê-lo e não promover lambança. Daí a afirmar que todos são santos é utopia.