O conto do foguete russo e os xis da questão na Hora H

    (*) Marli Gonçalves –

    Está chegando a hora, apavorante, até propícia a tirar as crianças da sala. A cidade de São Paulo está fazendo graça muito sem graça ao apontar para a nova versão masculina e de terror da galinha pintadinha, o galinho enxerido, e pode se meter numa historinha e aventura real, de final bem duvidoso

    Era uma vez um menino magrinho e pálido, que queria ser alguma coisa entre advogado e jornalista. Ele tinha uma câmera na mão e nenhuma ideia na cabeça, até que filmou uma tragédia pessoal pavorosa e foi ficando famoso, gostando cada vez mais de criar casos e aparecer. Justiceiro, xerifinho, dedo em riste, aqui e agora, aqui e ali. Gostou da brincadeira e virou político. Foi crescendo, crescendo sorrateiro no baixo clero, mas ninguém lhe dava muita atenção, o que o ajudou muito a não ser combatido, trabalhando sempre nos bastidores da política, onde também dizia – e praticava – a famosa frase “… estando bom para ambas as partes…”

    Aprendeu muito no galinheiro, mas passou a renegar os galos e esporões que tanto admirava. Virou um resumo mais jovem, piorado e canhestro do passado nacional, cantando em tudo quanto é freguesia. Aprendeu a língua do P – PPB, PP e finalmente, PRB. O menino foi crescendo, dizendo amém, salve-salve, dançando conforme a música, como faz até hoje. Sabonete, escorregadio, indefinível, camaleão, engomadinho, continua magrinho e pálido, mas escondendo as garras, dissimulado. Antes, bem galinho, asa curta, tentou voar para uma cidade próxima, que nem conhecia bem, e onde nem morava, para governar. Se deu mal.

    Hoje, bem de vida, dono de tevê, amigo de uma tevê, amigo de quem tem tevê, resolveu partir como um foguete, e aterrissar na cidade grande. Aproveitando a moral de uma fábula, descrita por Monteiro Lobato – quando dois brigam, um terceiro se dá bem.

    (Na fábula, dois ladrões furtaram um burro, mas como não conseguiam reparti-lo passaram a se engalfinhar, e se distraíram. Um terceiro ladrão montou no burro e fugiu a galope).

    Agora, só um apelo decidido, à consciência de todos, um safanão do tipo “Acorda, São Paulo!”, com trombetas, pode salvar a cidade de entrar numa aventura boba que será vista por milhões, igual à tal galinha pintadinha, mas nem precisará do YouTube.

    Vamos parar de brincadeiras com a cidade! Presta atenção. Não briguem mais entre amigos, como vejo, por causa de política, de partidos, de pts e pitis.

    A cidade não está em frangalhos como se diz, mas bater no atual prefeito virou esporte, inclusive nacional. O que é pior: se nem a turma dele abre o bico, seja de tucano, sabiá, pombo ou andorinha, vem o galinho alvoroçado e se aproveita. Já vivi para ver tipos assim, nome de novela, Salvador da Pátria. Quem viveu também, sabe o que deu. Só que os capítulos se desenvolvem na real, onde vivemos, na porta de nossas casas, e adivinha quem serão os figurantes…

    Neste últimos anos, um monte de coisas boas e más aconteceram, e também o tempo só aumentou carros e pessoas, assim como buracos e problemas e falta de tudo. Tampa aqui e aparece ali, com dizia minha mãe, igual bunda de vedete.

    O prefeito estava indo bem e ficou pelo caminho? OK. Foi fazer um partido, o que, aliás, fez mesmo, contra tudo e contra todos? OK. Esse prefeito se descuidou da comunicação? Descuidou. Deixou que falassem o arco-da-velha – e mais um pouco, inclusive sobre sua vida pessoal – e ficou sem reagir? Ficou. Dá raiva? Dá. Adianta votar no aventureiro que se posta de popular, usando igreja e dogmas? Não. É igual descontar dando troco em nós mesmos.

    Tudo bem que quem está nessa disputa, todos, não são de dar excitação, tampouco carismáticos que possam nos levar alvoroçados às ruas, com bandeiras e apitos (que saudades das festas de outrora que fazíamos nas ruas!). Até desanimam só de pensar. Mas quem não ajudou a formar e indicar novos quadros fomos nós. E novos quadros não querem dizer pau-mandado, tipo o que chegou, o zé bonitinho, com padrinho e madrinhas, puxando a cordinha de um trem cheio de vagões. Nem o que não larga o colarzinho de pérolas e tem de ter as mãos amarradas para não ter que admitir o que é, e o que não teria problemas numa cidade moderna como São Paulo. E a mulher? Legalzinha,bonitinha, boazinha, tudo inha, mas precisaria ficar mais um tempo no calor para estar no ponto. Restam – sobrou – aqueles olhos fundos, do senhorzinho, mas que a gente pelo menos já sabe o que pensa e pode (ou não) fazer, mesmo que não simpatize pessoalmente com ele, como é inclusive o meu caso. Mas, afinal, não é para levá-lo para a cama, nem para ir ao cinema de mãos dadas. É eleição para prefeito.

    Nossa cidade são os nossos passos, os nossos caminhos, os sistemas de saúde, educação, habitação, transportes, a busca por qualidade de vida e contra a poluição urbana de todos os níveis, a recuperação dos rios, das calçadas, da dignidade, da segurança. Onde trabalhamos e onde esperamos que ajudem nosso lazer, abrindo espaços, inclusive com empregos para que possamos trabalhar muito e querer/ poder descansar. A cidade não é uma coisa particular para se ficar fazendo birra, votar no primeiro que aparece batendo no peito, posando de galã, de povo, dizendo que é diferente, e não é.

    Lembro da frase dita pelo rei espanhol, ao Chávez (¿por qué no te callas?):

    – ¿Por qué no nos unimos?Ya!

    São Paulo, por uma mudança rápida de rumo, em dias, 2012

    (*) Marli Gonçalves é jornalista – Paulistana. Positiva e operante. Conhece a cidade, em todos os seus limites. Gosta de brincar de Patrulhinha Urbana, quando fotografa e publica todos os problemas que vê. Para que eles sejam solucionados. Acha que brincar com foguete russo queima, mano!

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