O tamanho da marolinha

(*) Carlos Brickmann –

José Dirceu informa que o crescimento da atividade econômica já começa a ser comprovado por pesquisas e indicadores divulgados nos últimos dias. Mas não é bem assim: o aumento do PIB, previsto pelo Banco Central, é de 1,6%, menor que o aumento da população. É menos renda para cada brasileiro.

Não é de espantar: só na área automobilística, seis empresas que anunciaram a construção de fábricas no país mudaram de planos. A GM e a Peugeot-Citroën construiriam uma fábrica conjunta. Desistiram. A BMW, que vive anunciando novos projetos (o último era uma fábrica de motores no Paraná), prometeu escolher o local de sua fábrica brasileira em fevereiro – de 2012. Até agora, nada.

A JAC, chinesa, cujos carros são anunciados por Fausto Silva (do lado de fora: nenhum dos anúncios o mostra sentado no banco), investiria R$ 900 milhões em Camaçari, na Bahia, criando 3.500 empregos e produzindo 100 mil carros por ano. Isso, naturalmente, se a fábrica fosse erguida – mas não foi.

A Jaguar Land-Rover, da gigante indiana Tata Motors, iria produzir no país, iniciando a construção de sua fábrica em janeiro último. Desistiu porque, a seu ver, a política brasileira para a produção de automóveis é pouco clara.

A Great Wall, chinesa, declarou-se impressionada com o mercado brasileiro e anunciou investimentos para produzir seus carros aqui. E, como as outras, também desistiu silenciosamente do projeto. Aliás, todas as empresas fizeram barulho ao anunciar fábricas, mas quando desistiram só se ouviu o som do silêncio.

Alô, Aloizio

O novo sistema operacional da Apple está dando problemas tremendos – de alto consumo de bateria a mapas mais cheios de erros do que pesquisa eleitoral. Deve ser efeito das mudanças causadas pela produção no Brasil. Conforme garantiu o então ministro Aloizio Mercadante (e, portanto, aconteceu), os chineses investiriam US$ 12 bilhões em cinco fábricas no país. Não eram US$ 12 bilhões, nem o dinheiro era deles: era nosso, do BNDES. Mas não faz mal, porque o investimento não foi mesmo feito. Como não houve investimento, nem fábricas, o novo sistema operacional vive falhando. Já Mercadante aproveitou e mudou de cargo.

Não ficaria bem para ele revogar mais uma promessa irrevogável.

Conta, conta

Luciano Agra, sem partido, prefeito de João Pessoa, mandou mensagem eletrônica a seu secretário Alexandre Urquiza, determinando que pedisse demissão. “Entregue o cargo antes que descubram o restante (…) Fique em silêncio que saberemos como lhe recompensar”. Talvez o prefeito não esteja muito a par de como funciona a Internet. Em vez de mandar mensagem fechada, mandou aberta.

E foi assim que este colunista e os caros leitores passaram a pensar em coisas meio esquisitas – por exemplo, por que recompensá-lo, se só ficou em silêncio?

Uma dúvida sobre o Mensalão

Um atento leitor resolveu analisar a tese petista dos “recursos não contabilizados” no Mensalão – ou seja, se tudo seria caixa dois. O dinheiro teria sido emprestado para repasse aos aliados. Todos os aliados teriam dívidas de campanha, e no montante exato dos repasses?

Não teria sobrado nada para o futuro?

Casa nova

O Governo paulista está reformando a Penitenciária de Tremembé, no Vale do Paraíba. É destinada a presos especiais, que por diversos motivos não devem ter contato com a massa de presidiários. A reforma deve terminar em dezembro.

Como a maldade humana é imensa, já lembraram que coincide com o fim do julgamento do Mensalão e a decisão das penas que serão aplicadas aos condenados.

Eu sou eu

Um cavalheiro foi aos Correios buscar uma encomenda para ele mesmo. Lá o fizeram assinar uma autorização para a retirada – uma autorização dele para ele mesmo, outorgando-se permissão para retirar sua encomenda. Quem tem toda a razão é Chico Buarque: o Fado Tropical é a pura verdade.

Patrulhas em ação

Não bastou a ofensiva contra as Caçadas de Pedrinho, magnífico livro infanto-juvenil de Monteiro Lobato. Agora, os patrulheiros em busca de uma causa querem impedir que outro livro de Monteiro Lobato, Negrinha, de 1920, seja adotado pelo Programa Nacional Biblioteca na Escola. País estranho, esse, em que o Ministério da Educação é mais criticado quando acerta do que quando erra.

Ataques futuros

Esta coluna toma a liberdade de sugerir outras obras para que os patrulheiros amantes da Censura exercitem sua posição “politicamente correta”. A primeira é Otelo, de Shakespeare; pode continuar com O Vermelho e o Negro, de Stendhal. E o Navio Negreiro, de Castro Alves, que identifica negros e escravos?

E Camões, que canta apenas a glória dos portugueses e não dos outros povos? Não fiquemos apenas na cor. A Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, tem de ser banida. “Minha terra tem palmeiras”.

E os outros times, são discriminados?

Frase

“A inocência dos petistas não admite prova em contrário”.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.