(*) Opera Mundi –
Depois de um grande ato de encerramento da campanha no último domingo (30) em Caracas, o candidato da oposição, Henrique Capriles, disse nesta segunda-feira (01/10) em coletiva de imprensa com meios estrangeiros, que irá “respeitar a vontade popular” diante dos resultados das eleições, mas não confirmou se reconhecerá o resultado emitido pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral). Ele também afirmou que, se eleito, o Brasil será um dos primeiros países que visitará.
Respondendo se iria “respaldar” os resultados eleitorais, sejam eles favoráveis ou contrários, Capriles se contradisse. Apesar de dizer que aceita “a vontade do povo”, sublinhou que ela não seria a mesma que a do “governo”. O CNE é um órgão independente que rege todo o sistema eleitoral no país. De acordo com a Constituição da Venezuela, não pode sofrer ingerência dos poderes executivo, legislativo nem judiciário.
Desde o início da campanha eleitoral, os chavistas pressionam Capriles a declarar se vai “aceitar” os resultados emitidos pelo CNE. Até o momento o candidato não respondeu à pergunta objetivamente. “Para mim, a expressão do nosso povo é sagrada, mas não posso me antecipar. Comprometa-se o governo a aceitar os resultados sejam quais sejam e eu me comprometo a aceitar a vontade do nosso povo”, disse.
Em julho, o CNE emitiu um documento onde pedia que todos os candidatos assinassem um compromisso em aceitar os resultados, mas Capriles foi o único candidato que não assinou. Em seu lugar, firmou o documento o deputado nacional Juan Carlos Caldera, agora afastado da campanha após ser flagrado recebendo dinheiro de um empresário. O flagra foi captado em um vídeo divulgado pelo PSUV (Partido Socialista Unificado da Venezuela), ao qual Chávez é filiado.
Brasil
Ao dizer que tem interesse em visitar o Brasil, Capriles acabou afirmando que as atuais relações entre os dois países trazem desvantagens para a Venezuela. “Vou buscar no Brasil investimentos, para que também possamos exportar para eles, não só comprar”, afirmou.
O ex-governador do Estado de Miranda assegurou também que suas relações com o governo da presidenta Dilma Rousseff será “melhor” que o atual. “Este governo defende um modelo do passado e fracassado e nós devemos seguir o exemplo de casos exitosos como Brasil e China”, disse. O PT (Partido dos Trabalhadores) declarou apoio a Chávez desde o início da campanha.
Gabinete
Apesar de ter dito há duas semanas que anunciaria alguns membros do seu futuro governo e depois ter declinado da proposta, Capriles disse que já tem o nome do seu Ministro da Defesa, mas se negou a revelá-lo. “Posso dizer que é um general ativo das Forças Armadas”.
Capriles aproveitou o tema para dizer que as forças armadas têm baixos salários e estão desamparadas, sem aposentadorias dignas. A categoria forma parte do respaldo à Presidência de Chávez, que é ex-paraquedista e coronel reformado do exército.
O candidato disse que também já escolheu seu vice-presidente, mas que também só vai informar o nome depois das eleições, na hipótese de sua vitória. Na Venezuela o vice é escolhido pelo presidente eleito, após o resultado.
Denúncia
Como é de costume, o canal de TV Globovisión transmitiu ao vivo a coletiva de Capriles, mas estranhamente censurou a participação do jornalista da agência Reuters, que perguntou sobre uma denúncia, transmitida no canal estatal VTV, onde o empresário Gustavo Zingg conversa com o pai de Capriles lhe oferecendo “uma contribuição para sua campanha”.
Zingg é empresário do Estado de Zulia e suspeito de participar de um grupo que planeja um atentado contra Chávez. No áudio, o pai de Capriles sugere que o empresário faça um depósito na conta pessoal do candidato, o que seria financiamento irregular de campanha.
“Presentes”
Desde o comício do último domingo, Capriles vem “denunciando” as promessas não cumpridas de Chávez e oferecendo uma lista de “presentes” que o governo da Venezuela vem dando, segundo ele, para outros países, dentre eles, o patrocínio para o desfile da Escola de Samba Vila Isabel, no Rio de Janeiro.
O ex-governador também fez comparações entre seu governo em Miranda e o federal. “Agora prometem eficiência, mas para eles não importa se não havia luz, água, o único que importa é a revolução. Estão equivocados, aqui o que importa são os venezuelanos”, falou.
O candidato criticou também o lançamento do segundo satélite venezuelano, “Francisco Miranda”, feito em parceria sino-venezuelana e que custou US$ 140 milhões. O satélite irá monitorar o território nacional com imagens em alta resolução. “Qual a necessidade da Venezuela ter dois satélites quando os hospitais aqui não têm gaze nem ataduras?”, perguntou. O primeiro satélite venezuelano, lançado em 2008 também em parceria com a China, chamado Simón Bolívar, hoje é responsável por boa parte dos sinais de rádio e TV estatais, por teleconferência e internet entre órgãos públicos e escolas em todo o país.
Capriles insistiu em atacar a polarização do país, novamente se apresentando como o “presidente de todos os venezuelanos”. Faltando seis dias para as eleições, o oposicionista também afirmou que percorrerá os estados de Amazonas, Bolívar, Mérida, Anzoátegui, Portuguesa, Zulia, Apure e Lara.