O relógio eleitoral

(*) Carlos Brickmann –

O pessoal mais ligado ao Governo parece convencido de que José Dirceu, o réu mais conhecido do processo do Mensalão, será condenado pelo Supremo Tribunal Federal. A luta agora é para evitar que a sentença saia antes das eleições de domingo que vem, o que prejudicaria os candidatos do PT. Só isso explica por que foi tão festejado o ministro Dias Toffoli, que interrompeu seu voto para ir a uma sessão de uma corte hierarquicamente inferior, o Tribunal Superior Eleitoral, jogando para o dia seguinte (ou não tão seguinte, já que o STF cuida do Mensalão três dias por semana, segunda, quarta e quinta) a continuação do julgamento; ou as copiosas páginas dos votos do ministro Ricardo Lewandowski. Importante, no caso, não é a sentença; é a demora em dá-la.

O objetivo é fazer com que as eleições se realizem com no máximo dois votos, em dez, no caso Dirceu. Supõe-se que o ministro relator, Joaquim Barbosa, o condene; supõe-se que o ministro revisor, Lewandowski, não acompanhe o voto. Outros ministros não terão tempo hábil para dar a sentença antes das eleições. Mesmo desfavorável, o julgamento de Dirceu terá menor impacto nas urnas.

E por que tanta certeza de que Dirceu corre o risco de condenação? Pelas decisões anteriores do Supremo, que demoliram as explicações dos réus. O Supremo já concluiu que houve compra de apoio político no Congresso, com dinheiro público. Caixa dois? Não, nada disso – e se fosse não teria importância, já que o dinheiro era público. O que se julga, em Português claro, é a ladroeira.

Interpretando o idioma

A língua evolui, caro leitor. “Julgamento justo e técnico” significa, conforme quem use a frase, condenar os réus do Mensalão ou absolvê-los. “Espetacularização” é uma palavra negativa, usada por quem é favorável aos réus; a mesma coisa, quando citada pelos adversários dos réus, chama-se “transparência da Justiça”. “Direito de ampla defesa” é o nome que os aliados dos réus dão àquilo que os adversários dos réus chamam de “jogar o julgamento para depois da prescrição dos crimes”.
Tudo lembra a clássica frase de Millôr Fernandes: “Democracia é quando nós mandamos neles. Ditadura é quando eles mandam em nós”.

As esperanças

Da coluna Confidencial, de Aziz Ahmed, no Jornal do Commercio do Rio: “O advogado Marcelo Leonardo, defensor de Marcos Valério, não crê que o STF vá quebrar – no caso do Mensalão – a tradição de só executar sentenças após o chamado trânsito em julgado, ou seja, depois de esgotados eventuais recursos e pendências. Conclusão: a prisão de condenados pode levar meses e meses”.

País rico é outra coisa

A presidente Dilma Rousseff não foi ao Peru de mãos vazias: levou US$ 500 milhões para obras em rodovias, lá. Para o Metrô paulistano, jamais veio um centavo de investimento do Governo Federal: no máximo, empréstimos com juros. Os US$ 500 milhões de Dilma para o Peru equivalem ao investimento que a Prefeitura paulistana faz todos os anos nas obras do Metrô, que é estadual.

Paulista, sim…

O ex-presidente Lula se esforça para que a presidente Dilma se livre de sua chefe da Casa Civil, a paranaense Gleisi Hoffman. Com isso, o PT paulista, que já trocou o Ministério da Educação pelo apoio de Marta Suplicy a Fernando Haddad, candidato de Lula à Prefeitura paulistana, ganharia mais um Ministério para trocar por apoio, se Haddad conseguir chegar ao segundo turno. Dilma estuda uma alternativa: passa o ministro Fernando Pimentel do Desenvolvimento para a Casa Civil, passa Aloízio Mercadante da Educação para Relações Exteriores e fica com dois Ministérios para a negociação – entre eles o preferido do candidato do PMDB, Gabriel Chalita, que o receberia em troca do apoio a Haddad.

…paranaense, não

Nos dois casos, Gleisi perde o cargo. E isso pode prejudicar sua candidatura ao Governo do Paraná. Teme-se que, tendo fracassado em sua tentativa de ser a Dilma da Dilma, Gleisi ficaria com a marca da incapacidade administrativa.

O motivo das coisas

Guarulhos é a segunda cidade do Estado de São Paulo, tem o maior aeroporto do país e tem problemas sérios de qualidade de vida. Aqui, três motivos:

1 – Dois ex-prefeitos de Guarulhos, Eloi Pietá, do PT, e Jovino Candido, do PV, têm problemas com a Justiça, por episódios ocorridos quando ocuparam a Prefeitura. Os bens de ambos estão indisponíveis;

2 – O candidato do PSDB à Prefeitura de Guarulhos, Carlos Roberto, já foi condenado à prisão, em primeira instância, por apropriação indébita. É acusado de recolher as contribuições sociais dos empregados de suas empresas sem fazer o competente repasse ao INSS. Sua candidatura só foi possível, diante da Lei da Ficha Limpa, porque há recurso contra sua prisão, ainda não julgado.

Nariz fino e comprido

O governador paulista Geraldo Alckmin, PSDB, insiste em dizer que “há muitas lendas” sobre o PCC, grupo criminoso organizado. Há mesmo – inclusive dizer que o PCC já foi desarticulado. Não foi, e Alckmin sabe disso. Por que nega?

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.