PPS defende prorrogação da CPI do Cachoeira para investigar novos elos da quadrilha do contraventor

Lupa na mão – A CPI do Cachoeira poderá desvendar novos elos da empreiteira Delta Construção com partidos e rastrear financiamentos ilegais de campanha, se prorrogar seus trabalhos por mais 180 dias. A avaliação foi feita pelo líder do PPS na Câmara, deputado federal Rubens Bueno (PR), que adiantou que buscará, junto com outros parlamentares da comissão, apoios para ampliar o prazo de investigação.

O deputado argumenta que as informações que chegaram até agora à CPI apontam para a necessidade de aprovação de novas quebras de sigilo, o que somente será viável se os trabalhos do colegiado forem prorrogados. Rubens Bueno se refere em especial a 12 empresas de propriedade ou ligadas ao empresário paulista Adir Assad, que receberam mais de R$ 200 milhões da Delta.

“As empresas do grupo de Assad receberam mais de R$ 200 milhões da Delta fora do eixo Centro-Oeste, em operações consideradas atípicas pelo Coaf. Até o momento, Assad está blindado na CPI. Espero que, na próxima semana, quando retomarmos os trabalhos, possamos não só quebrar o sigilo dessas empresas, mas prorrogar nosso prazo de investigação. Não dá para manter o prazo final da CPI para o dia 04 de novembro”, defendeu o parlamentar, que, como membro da comissão, vem alertando desde agosto para a necessidade de ampliação do tempo de investigação.

Rubens Bueno ressalta, no entanto, que caminhar nessa direção exigirá uma grande mobilização daqueles que realmente querem investigar para valer as ramificações da organização criminosa comandada por Cachoeira e pela Delta. “Quebrar o sigilo bancário dessas 12 empresas de fachada ligadas a Adir Assad significa caminhar na direção de outras empreiteiras, o que pode revelar que há muitos outros “Cachoeiras” por aí”, ressaltou o deputado.

O esquema do Rio

Outro ponto nebuloso que ainda precisa ser desvendado pela CPI, aponta o líder do PPS, é o destino de R$ 174 milhões repassados pela empreiteira Delta para a MB Serviços de Terraplanagem, empresa localizada em Saquarema, no litoral fluminense. A firma é registrada em nome do contínuo Bruno Estefânio de Freitas, de 20 anos, apontado como laranja da construtora de Cavendish no Rio de Janeiro.

“Existem fortes indícios de que esse dinheiro tenha abastecido ilegalmente caixas de campanha. Além disso, serviria anida para o pagamento de propina. A CPI tem obrigação de ouvir Bruno e quebrar os sigilos dessa empresa”, defendeu Rubens Bueno.

Bruno é hoje uma figura guardada a “sete chaves”. Apesar de, segundo sua família, estar desempregado, vive em um condomínio fechado em Jacarepaguá, onde permanece sob escolta de seguranças.

R$ 36 bilhões em caixa e remessas ao exterior

O grande volume de recursos movimentados nas contas dos investigados pela CPI, calculado até o momento em R$ 36 bilhões, é, na avaliação do deputado, outro ponto que deve ser levado em consideração para a prorrogação dos trabalhos. “Trata-se de uma quantidade de informações imensa e que ainda precisa ser melhor analisada. A CPI precisa ainda, por exemplo, identificar a origem e o destino de transações que somam R$ 3 bilhões. É que os dados repassados pelos bancos estão incompletos. Deixar isso passar é uma irresponsabilidade. Então, espero que os membros da comissão compreendam a situação e apoiem a prorrogação”.

Rubens Bueno chama atenção também para a quantidade de remessas de dinheiro para o exterior, principalmente para paraísos fiscais. Somente a Delta transferiu, apenas no ano passado, R$ 85,34 milhões para contas nas Ilhas Cayman. Há, ainda, movimentações de outras empresas e pessoas ligadas à quadrilha para a Suíça, Uruguai, Dinamarca, Argentina, Eslovênia, Estados Unidos, Índia, Alemanha, México, Canadá, Taiwan, entre outros países. “Essa é outra questão que merece mais atenção da CPI, até porque são remessas que chegam à casa de milhões de dólares”, finalizou o membro da CPI.