São dois pra lá, dois pra cá

(*) Carlos Brickmann –

Quem ganhou as eleições, PT, PSDB, PMDB, PSB?

Depende: o vereador Antônio Carlos Rodrigues, serrista desde criancinha, se reelegeu em São Paulo. Em Brasília, o mesmo Antônio Carlos Rodrigues é aliado radical do PT e ocupa no Senado, como suplente, a cadeira de Marta Suplicy – que ganhou um Ministério para apoiar em São Paulo o adversário de Serra.

Em Brasília, ninguém é mais Dilma do que Geddel Vieira Lima, do PMDB baiano. Na Bahia, Geddel tenta derrotar o dilmismo, aliando-se a ACM Neto – cujo avô o chamava de “agatunado”, além de distribuir contra ele o vídeo Geddel vai às compras. O governador pernambucano Eduardo Campos, do PSB, deu uma surra histórica em Lula, Dilma e no PT, derrotando seus candidatos no primeiro turno; em São Paulo, Campos é aliado de Kassab, aliado de Serra, mas pode perfeitamente apoiar Haddad contra Serra (tudo bem, tudo bem: não faz tanto tempo, Kassab foi recebido festivamente pelo PT, que pedia seu apoio a Haddad. Só quando ele o negou é que Haddad passou a considerá-lo um mau prefeito).

O mundo gira. Gustavo Fruet, estrela tucana, feroz crítico do Mensalão, virou brizolista de falar com sotaque de São Borja e chegou ao segundo turno em Curitiba tendo ao lado no palanque a petista (e ministra de Dilma) Gleisi Hoffman.

Mas há coisas que mudam para ficar iguais. Delfim Netto, lulista e dilmista, ficou com Chalita em São Paulo. O PMDB de Chalita deve ficar com Haddad. E Delfim retomará a eterna aliança com o novo guru de Haddad, Paulo Maluf.

A tua voz me acalmava

Frase de Maluf, que recebeu Haddad, Lula e José Dirceu em casa, permitiu que fossem fotografados a seu lado e prometeu que, um dia (se ganharem), lhes oferecerá um vinho caro: “Haddad estaria melhor se tivesse me usado mais”.

Te convidei pra dançar

O ministro da Pesca, Marcello Crivella, articula a adesão de Celso Russomanno a Haddad (e até já pediu um ministério melhor, com mais minhocas que abasteçam muito mais anzóis, para o PRB, seu partido). Campos Machado negocia com o governador Alckmin, velho amigo, o apoio do PTB a Serra. Em Manaus, o PSDB e o PCdoB lutam a machadadas por novos aliados. Na Bahia, ACM Neto, do DEM, e Nelson Pelegrino, do PT, disputam mais legendas a caneladas.

Só falta avisar o eleitor. Será que alguém contou a quem vai votar no segundo turno que ele precisa obedecer às alianças lá de cima?

Torturante

Gilberto Carvalho, o poderoso secretário-geral da Presidência, atuou com força no Paraná. Sua irmã, Márcia Lopes Carvalho, não chegou nem perto da Prefeitura de Londrina (teve 14% dos votos). A bancada de vereadores do PT caiu de 3 para 1. Nilton Micheletti, irmão de Nedson, o primeiro petista a ganhar a Prefeitura de Londrina, teve 251 votos. Sidnei Bola, presidente do PT de Londrina, teve apoio de Gilberto Carvalho e do deputado federal André Vargas, secretário da Comunicação do PT nacional. Conseguiu 1.481votos. Ficou fora.

Minha cabeça rodando

O presidente nacional do PSOL, Ivan Valente, deu parabéns ao partido pelo resultado que obteve nas eleições municipais. A derrota subiu-lhe à cabeça.

Falso brilhante

Do blogueiro Augusto Nunes (http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/), referindo-se às afirmações de Dilma Rousseff de que, embora tenha feito carreira política no Rio Grande do Sul, embora vote em Porto Alegre, foi fazer campanha em Belo Horizonte porque, embora nem apareça por lá, nasceu em Minas:

“A presidente discursou numa capital, votou em outra e foi derrotada nas duas. Perdeu uma boa chance de ficar descansando em Brasília.”

Cabeça rodando

A propósito, aqueles especialistas em eleições que abundam nos meios de comunicação e proclamaram que a orientação de campanha de Serra estava errada não vão se manifestar? O pessoal do marketing de Serra é o mesmo que trabalhou com Kassab, recebeu as mesmas críticas e chegou ao mesmo resultado, a vitória. A propósito, também, os institutos de pesquisa que puseram Gustavo Fruet em último lugar nas pesquisas (chegou ao segundo turno) e empataram Vanessa Grazziotin, do PCdoB, com o favorito Artur Virgílio (de quem ficou muito atrás) não vão explicar nada, nem ser perguntados?

Tremia mais que as maracás

Alguém saberá explicar por que a CPI do Cachoeira, que já foi interrompida para repouso coletivo, será encerrada sem investigar as ligações da empreiteira Delta com empresas diversas e com o próprio Carlinhos Cachoeira?

Não, deve ser maldade imaginar que a possibilidade de existência dessas ligações seja exatamente o motivo da paralisação dos trabalhos. Deve haver algum outro motivo. O relator da CPI prometeu acelerar ao máximo o relatório, para que esteja ponto até o dia 15 próximo. Trabalho eficiente, sem dúvida, e rápido: pena que deixe tanta coisa para trás – até mesmo ameaças explícitas ao juiz do caso. E todos os partidos, aparentemente, concordam com o fim da CPI.

Devem ter seus motivos. Agora já podem voltar a comemorar em Paris, com guardanapos na cabeça.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.