Mais cinco de minhas “n” razões para não votar no PT

Bolívar Lamounier –

Poucos dias atrás, expliquei aqui algumas de minhas “n” razões para não votar no PT. Abordei três delas, assim intituladas: (1) Um partido impregnado pela corrupção; (2) O ranço totalitário do partido; (3) O hábito de mentir como uma segunda natureza.

A respeito dos meus dois primeiros pontos, eu posteriormente me referi a conceitos coincidentes que vieram a ser usados por ministros do STF a respeito dos mensaleiros condenados: uma “sociedade de delinquentes” e um grupo empenhado na conquista do poder “de forma duradoura e ilimitada”.

Sobre o candidato da sigla a prefeito de São Paulo, me abstive de qualquer comentário, explicando que por enquanto eu o vejo “… como um apparatchik comum, tão obediente ao Chefe e tão devotado a sua mitologia soi-disant progressista como a grande maioria dos integrantes da sigla”.

Hoje eu vou tratar das cinco razões listadas abaixo, cada uma acompanhada de um breve comentário:

COMO GESTOR DA MÁQUINA PÚBLICA, o PT É UM DESASTRE; no setor de infraestrutura, por exemplo, o resultado dos 8 anos de Lula e dos dois primeiros de Dilma Rousseff foi zero multiplicado por zero. Levada pela ‘força das coisas’, Dilma finalmente balbuciou algo sobre a necessidade de privatizar algumas atividades, mas sua incapacidade de fazer acontecer é um verdadeiro espanto.

A POLÍTICA ECONÔMICA DO GOVERNO DILMA parece um keynesianismo de fundo de quintal: renúncias fiscais para animar a indústria, subsídios para animar a indústria e empréstimos de pai para filho através do Bndes para animar a indústria, mas ela continua “desanimada”. Ameaças e mais ameaças de intervir deixam potenciais investidores com o pé atrás, como é óbvio: empresário não é tatu. Reformas estruturais – tributária, trabalhista e outras, nem pensar.

NO QUE TOCA À FORMAÇÃO DE CAPITAL HUMANO, ninguém sabe, ninguém ouviu falar das realizações petistas. Mas isto não é um mau resultado: nada fazer deve ser melhor que tentar fazer algo com base nas ideias do partido.

A CONCEPÇÃO PETISTA DE POLÍTICA. Há nos quadros políticos do PT uma evidente super-representação de um certo tipo social: aquele sujeito que cursou a universidade, mas pouco ou nada aprendeu, porque seu objetivo era exclusivamente a política estudantil. Nisso ele se tornou exímio. De posse do diploma, ele foi trabalhar num ministério, numa estatal ou no que seja, mas continuou a fazer o que aprendeu: política estudantil. É o que parece condenado a fazer pelo resto da vida.

LULA E A ELEIÇÃO PAULISTANA. Qual é o objetivo de Lula em São Paulo? Ora, isso não é o óbvio ululante? Ele quer levar seu pupilo e o PT à vitória; o que mais poderia querer? Sim, em termos simples e imediatos, é disso que se trata. Mas é evidente que esse “isso” não se esgota aí.

Lula se empenha em conquistar a prefeitura da capital com dois objetivos estreitamente interligados. Primeiro, quer controlar os recursos financeiros, políticos e outros que a administração paulistana concentra. Esse é o primeiro degrau para em seguida tentar conquistar o governo de SP e firmar a hegemonia petista em todo o país. Zé Dirceu, seu sócio nessa empreitada, foi condenado por corrupção e periga de ser preso, mas engana-se quem pensar que Lula desinteressou-se de seu objetivo hegemônico.

Segundo, ele vê a vitória em São Paulo como o modo mais simples de destruir a única resistência séria a tal projeto, o PSDB. Conseguindo isso, ele terá afastado a última pedra que antevê em seu caminho e, de quebra, cobrirá de satisfação aquele órgão que o motiva e orienta na vida política: seu fígado.

(*) Bolívar Lamounier é sociólogo e cientista político. Bacharel em Sociologia e Política pela UFMG (1964) e Ph.D. em Ciência Política pela Universidade da Califórnia, Los Angeles (1974), foi membro da Comissão de Estudos Constitucionais (“Comissão Afonso Arinos”) nomeada pela Presidência da República em 1985 para preparar o anteprojeto da Constituição.