Como está, fica

(*) Carlos Brickmann –

A Justiça criminal não se destina, no Brasil, a pessoas poderosas. Houve um avanço extraordinário com o julgamento, pelo Supremo, dos réus do Mensalão; mas, terminado o julgamento, como é que se faz? Esperar a publicação do acórdão, os embargos, as discussões, com deputados condenados exercendo o mandato até que tudo seja resolvido, cristalizará na opinião pública a certeza, ao menos temporária, de que tudo o que ocorreu foi apenas um jogo de sombras.

Entramos agora no recesso. Há um plantão no Supremo, chefiado pelo ministro Joaquim Barbosa, em revezamento com o ministro Ricardo Lewandowski. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, deve pedir a prisão imediata dos réus, que considera essencial. O ministro Barbosa pode tomar a decisão sozinho.

Imaginemos que a rejeite – o caso fica então para o ano que vem, após os embargos, com novos ministros entrando na votação. E só quando tudo estiver definitivamente findo, transitado em julgado, as penas serão enfim aplicadas.

Mas imaginemos que Barbosa aceite o pedido do procurador-geral e determine a prisão imediata dos réus condenados a regime fechado. Haverá pedidos de habeas-corpus. E, como o ministro Barbosa não pode examinar habeas-corpus contra sua própria decisão, quem receberá os pedidos e tomará as decisões será o ministro Lewandowski. Imaginemos que Lewandowski solte os réus. Ganha força a ideia de que ninguém será punido. Mas imaginemos que Lewandowski rejeite os habeas-corpus.

Então – mas será que alguém consegue imaginá-lo?

É mas não é

O jogo de sombras quem manipula, por incrível que pareça, é um deputado dos mais toscos, Marcos Maia, do PT gaúcho, presidente da Câmara. Ele é que diz que não vai cumprir a decisão do Supremo de cassar o mandato dos deputados condenados (e que, fora o problema óbvio – como exercer o mandato estando na cadeia – perderam os direitos políticos).

Não vai, mesmo: deixa o cargo em 31 de janeiro, e quem vai obedecer à decisão do Supremo será seu sucessor, provavelmente Henrique Eduardo Alves, do PMDB potiguar. Henrique Alves é de briga, mas só por seus interesses políticos. Fora isso, é cordato e conciliador.

Vem, Corinthians!

Este colunista é, sem concessões, imparcialmente corinthiano. Mas não escreve para louvar o vencedor do Campeonato Mundial, já bastante louvado (e, além disso, quem ganha prestígio com a vitória corinthiana é o Campeonato Mundial, não o Corinthians, que não precisa de outro título exceto o de Corinthians).

Mas o que precisa ser assinalado é que um grupo de bons jogadores, nenhum estelar, mas todos motivados e dedicados, derrotou um elenco milionário, que anteriormente já havia desclassificado o Barcelona. O Brasil, quando é sério, funciona.

Boa notícia

O médico brasileiro Luiz Loures é o novo diretor-executivo adjunto do Programa da ONU de Combate à Aids. Loures, 25 anos de profissão, se formou na Universidade Federal de Minas Gerais, especializou-se em tratamento intensivo e concluiu os estudos nos EUA. Já foi assessor do Ministério da Saúde para Aids.

Tiros em Newtown

O massacre de crianças em Newtown traz de volta o debate sobre o comércio legal de armas. Este colunista não gosta de armas, é contra o comércio legal, é favorável ao desarmamento civil, mas a discussão é outra: o fato é que quem está disposto a matar sempre consegue suas armas.

No Brasil, o jornalista Pimenta Neves, avesso a armas, decidiu matar sua ex-namorada Sandra Gomide. Conseguiu um revólver emprestado e aprendeu a usá-lo. As armas moderníssimas em poder dos traficantes não foram compradas legalmente na loja da esquina, mas o arsenal do crime sempre contou com armas à vontade e munição abundante. Na Suíça e em Israel, quem fez serviço militar tem obrigatoriamente seu fuzil em casa, e o índice de criminalidade é baixo. Crimes como o de Newtown são difíceis de evitar, pois envolvem maníacos.

Mas crimes como os dos narcotraficantes se resolvem com a presença do Estado e a disposição nacional para exercer legalmente o monopólio da força. Fora daí é lutar para resolver o problema errado.

O dia raiou

Lembra do primeiro apagão, ainda nos tempos de Fernando Henrique? A culpa, disseram, era de um raio que atingiu o sistema na região de Bauru, SP. Um raio diferente, sem dúvida: onde é que já se viu raio em dia seco, sem chuva? O presidente Lula, como nunca dantes na história deste país, nomeou uma gerenta, competenta e inteligenta, para que os apagões nunca mais repetissem.

Os apagões se repetiram, claro (ou escuro); e a gerenta competenta e inteligenta, eleita presidenta, também proclamou o fim dos apagões. Os apagões continuaram bem, e neste Governo vêm batendo recordes (foram seis nos últimos três meses). E, prova de que a história se repete, um raio levou a culpa do último apagão. Mas como é que um simples raio desliga o sistema elétrico de todo o país?

Agora vem a resposta correta: a usina de Itumbiara, Goiás, tem mais de 40 anos e pede modernização. Itumbiara, caindo, não deveria desligar o sistema todo. Mas o sistema pede investimentos, também, e se desligou.

O caro leitor que não reclame: basta lembrar a expressão portuguesa “raios que os partam”.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.