Os sete pecados da Capital

(*) Carlos Brickmann –

Os pecados capitais são sete, mas tratemos do primeiro: a Gula. A gula com que meteram a mão no dinheiro público, conforme demonstrado pelo Supremo Tribunal Federal. E a maneira de reduzir o incômodo na parte do corpo que mais doi entre os condenados do Mensalão: o bolso. Pois não é que a primeira iniciativa em favor dos mensaleiros foi apelar à gula dos aliados para arrecadar mais algum, que ajudasse os coitadinhos a pagar a multa a que foram condenados?

Não deu certo: só os integrantes do núcleo político do Mensalão, João Paulo Cunha, José Genoíno e José Dirceu, foram condenados a multas de R$ 1,5 milhão (fora as penas de prisão). No banquete de arrecadação de fundos, cada participante pagou entre R$ 100 e R$ 1.000; deste valor, devem deduzir-se R$ 46, cobrados pelo restaurante. Como havia 170 convites, a arrecadação máxima possível seria de menos de R$ 110 mil – isso se não houve também dedução da taxa de serviço para remunerar os companheiros garçons. Falta dinheiro. E ninguém pensou ainda no condenado às maiores multas, o companheiro Marcos Valério!

Mas, cá entre nós, houve um erro sério: o tempo dos franguinhos passou, é da época de luta sindical. Hoje, para entusiasmar os companheiros, é preciso caprichar, trocar a cerveja por bons vinhos, colocar um cardápio de pescados da Capital que atraia os convidados e seus gurus políticos. Truta sempre faz sucesso. Quase todos ali gostam de robalo. E um prato mais chique, da cozinha francesa: escargot, por exemplo.

Escargot na entrada, escargot na saída.

A ordem dos fatores

É Brasil, é Brasília. Primeiro eles comem, depois eles jantam.

Perguntas sem resposta

1 – Por que senadores e deputados (estaduais e federais) precisam de um carro à disposição, mais motoristas, com gasolina e manutenção por nossa conta?

2 – Imaginando que precisassem, por que a concorrência foi especificada de tal maneira que só dois modelos de automóveis podem concorrer?

3 – Por que magistrados precisam de carro oficial? Nos Estados Unidos, só o presidente da Suprema Corte tem direito a carro oficial.

4 – O prefeito de Atibaia, bela cidade de 130 mil habitantes perto de São Paulo, deve precisar de carro oficial, pois tem de viajar muito à Capital. Mas precisa de um Ford Edge importado do Canadá, de mais de R$ 130 mil? Da mesma marca, um Ford EcoSport, que custa a metade, não resolveria o problema?

5 – Pouca coisa? Some o número de parlamentares, magistrados, prefeitos, multiplique pelo preço dos carros, mais motoristas, mais despesas. É por essas e outras que o dinheiro para atividades essenciais acaba ficando curtinho.

Me dá um dinheiro aí

Vereadores e prefeitos andaram promovendo fartos aumentos de salários nessas últimas semanas, pouco se importando com o atendimento das necessidades da população (as cidades serranas do Rio, por exemplo, continuam em ruínas desde as chuvas do ano passado, mas Suas Excelências tiveram bons aumentos).

Até aí, neste país, tudo normal. Mas o prefeito de Nova Iguaçu, RJ, o peemedebista Nelson Bornier, tripudia sobre o cidadão. Seu reajuste foi de 102,1% (algo que o caro leitor dificilmente terá obtido), e ainda disse que este tsunâmico aumento “é digno”. Completando: “É mais do que justo para quem quer fazer trabalho sério e honesto, principalmente no momento em que há gente que vive de corrupção”.

Ou seja, o corrupto só é corrupto porque ganha pouco. Marcos Valério, pobre moço, se ganhasse melhor não estaria entre os mensaleiros.

O livrinho, ora o livrinho

Quando foi presidente da República, o marechal Eurico Dutra, para ajudar a apagar seu papel de homem-forte da ditadura, fazia questão de obedecer rigorosamente à Constituição, à qual chamava de “livrinho”. Quando lhe sugeriam alguma medida, a primeira pergunta que fazia era sobre o que dizia o livrinho.

O livrinho, a nossa Constituição, proíbe a censura prévia. O juiz de Macaé, Estado do Rio, determinou que “obras eróticas” – como, por exemplo, 50 tons de cinza – sejam apreendidas, e só vendidas em embalagem lacrada. Ler trechos na livraria, nem pensar. Folhear o livro para decidir a compra, não: o juiz não deixa.

Mas o juiz não se manifestou sobre outro livro não apenas erótico, como também de extrema violência e que viola todos os conceitos de vida em sociedade. Trata de um rei, casado, que se apaixona pela esposa de um de seus maiores amigos, um dos seus generais mais próximos. Numa guerra, aproveitando a ausência do general, seduz e engravida sua esposa. Para evitar problemas, envia o marido para uma batalha impossível, onde certamente será morto. Seu filho com a adúltera herdará o trono; e terá 700 mulheres. Nome do livro? A Bíblia.

Militar na Defesa

Com a viagem do ministro da Defesa, Celso Amorim, ao Uruguai, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, ocupou o Ministério por dois dias. O que está passando despercebido dos meios de comunicação é que, desde a criação do Ministério da Defesa, no Governo Fernando Henrique, o brigadeiro Saito, profissional sério, competente e respeitado, é o primeiro militar a ocupá-lo.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.