No meio da tarde desta quinta-feira, dia normal de trabalho, o plenário do Senado abrigava três senadores

Caso de cadeia – Para que não nos acusem de proteger o Senado Federal e dedicar à Câmara dos Deputados doses de intransigência, abordamos nesta matéria o que acontece costumeiramente no Congresso Nacional, em ambas as Casas legislativas, nas tardes das quintas-feiras. A famosa debandada generalizada.

Enquanto o brasileiro trabalhava sob o sol a pino das 15h25, para inclusive sustentar a classe política, no plenário do Senado, que realizava a chamada Ordem do Dia, estavam presentes apenas três senadores. Considerando que a Casa abriga 81 senadores, apenas 3,7% do contingente de parlamentares estavam a postos. Um verdadeiro atentado contra a democracia, não sem antes configurar um deboche com os contribuintes.

Em qualquer empresa privada brasileira, nesse horário os funcionários estão à plena carga, pois do contrário o olho da rua é serventia da casa. No mundo da política, onde uma minoria é mais igual que o restante da população, a vadiagem é consentida e remunerada.

O clima de constrangimento no plenário do Senado era tamanho, que, meia hora mais tarde, o senador Wellington Dias, do PT piauiense, reclamou com indignação do número de parlamentares presentes à sessão que naquele instante era plenária.

Cada senador, assim como cada deputado, custa aos brasileiros US$ 7,5 milhões por ano. E igualmente ao que ocorre na Câmara, no Senado os parlamentares trabalham efetivamente, na melhor das hipóteses, 120 dias por ano. Isso significa que cada senador custa ao erário US$ 62,5 mil por dia trabalhado. Como a tarde desta quinta-feira pode ser classificada como perdida em termos de produção parlamentar, o Senado conseguiu a enorme proeza de ajudar o Brasil a arremessar pela janela do descaso US$ 2,5 milhões.

Para quem desconhece o real funcionamento do Congresso, afirmamos que esse valor é pouca letra. E explicamos a razão. Certa vez, enquanto tramitava no Congresso o projeto do Novo Código Civil, a troca de um “e” por um “ou” em determinado artigo custou a bagatela de R$ 3 milhões. No âmbito das comparações, o estrago desta ensolarada tarde de quinta-feira não foi tão grande assim. O Senado mandou pelo ralo pouco menos do que a última das vogais, o “e”, “ou”, para os mais exigentes, financiou o ócio oficial com o dinheiro público. Mas o que são R$ 5 milhões em um país onde o salário mínimo vale a fortuna de R$ 678?

Mesmo diante dessa sequência de absurdos, há no Brasil quem acredita que o comodismo é sinônimo de esperteza.