Português para brasileiros

(*) Carlos Brickmann –

Nosso idioma é muito rico, cheio de sutilezas. Serve para dizer muitas coisas, sem que haja a necessidade de mudar as palavras ou expressões que utilizamos. As mesmas palavras ou expressões podem exercer diversas funções no texto, sem que seja preciso decliná-las, como no Latim, ou modificá-las.

Por exemplo, “sem-vergonha”, que aqui tomamos como exemplo, sem qualquer referência político-partidária, varia muito de função conforme a frase. Um bom exemplo: é adjunto adnominal em “Votei num corrupto sem-vergonha”.

Já em “o corrupto é um sem-vergonha”, trata-se de objeto direto, e o sujeito da frase é “corrupto”. As funções se invertem quando a frase é modificada.

Em “Esse sem-vergonha é um corrupto”, é sujeito. “Corrupto” é objeto direto. Na frase “agora nega o roubo, sem-vergonha!”, é vocativo.

Em “o corrupto, aquele sem-vergonha, participou do Mensalão”, é aposto. Aposto é aquela expressão, normalmente entre vírgulas, que descreve o sujeito da frase. Algo como “o ex-presidente, silencioso desde a descoberta dos pontos turísticos de Porto Seguro, continua afastado das entrevistas de que tanto gosta”.

Há uma variação importantíssima, que não pode ser esquecida: “Afastado há anos da Esplanada dos Ministérios e condenado em última instância por corrupção, continua ordenando a seus adeptos que se exponham para defendê-lo e para tentar prejudicar a reputação dos juízes que o julgaram”.

Nesse caso, “sem-vergonha” é o sujeito oculto.

Controle social…

O pessoal favorável à censura da imprensa não precisa mais explicar seu conceito de democracia. “Controle social da imprensa” é o que tentam fazer com a blogueira cubana Yoani Sánchez: juntar um grupo de brutamontes para impedi-la de falar.

Liberdade de expressão, sim; mas só para louvar a família Castro.

…da imprensa

É interessante notar que as tentativas de agressão à blogueira cubana ocorreram em dias úteis, no horário comercial. Aqueles manifestantes não trabalham?

A confissão

A informação de que o Governo cubano distribuiu material de propaganda contra Yoani Sánchez (e que envolveu um assessor direto do ministro-chefe da Casa Civil, Gilberto Carvalho, no trabalho sujo) é absolutamente correta: basta ler as manifestações diversas contra a blogueira que se atreve a não gostar dos irmãos Castro. Ela é acusada de ser “limpinha” (sim, é crime), de receber prêmios internacionais por sua coragem e persistência, de tomar cerveja com amigos, de ir à praia, de comer bananas.

Uma transgressora, a jovem! E, principalmente, é acusada de ser “impatriótica”. Razão tinha Samuel Johnson, crítico literário britânico: “Patriotismo é o último refúgio dos canalhas”.

A Rosa (não a Rose)

Frase da revolucionária comunista alemã Rosa Luxemburgo, personagem que o pessoal sério de esquerda conhece e respeita: “A liberdade é, quase sempre, exclusivamente, a liberdade de quem discorda de nós”.

Sobe!

Na semana passada, esta coluna comentou o notável crescimento da verba de publicidade do Governo tucano paulista – um escândalo, já que boa parte é utilizada em anúncios de produtos de consumo obrigatório e de fornecedor único.

Mas o governador Geraldo Alckmin não está sozinho: no Rio Grande do Sul, o petista Tarso Genro aumentou a verba de propaganda em 193%. O Amapá de José Sarney, governado pelo socialista Camilo Capiberibe, é mais ousado: elevou a verba de propaganda em 206%. O Maranhão, também de Sarney, governado pela filha de Sarney, Roseana, PMDB, vai gastar mais 166%. Que há em comum entre o tucano Alckmin, o petista Genro, o socialista Capiberibe, a peemedebista Roseana?

Simples: no ano que vem há eleição. É preciso gastar com propaganda!

Pobre paga

Depois de um longo período de Prefeituras tucanas, o PT de Carlinhos de Almeida ganhou em São José dos Campos, SP. Tão logo assumiu, Carlinhos colocou sua cidade no topo do ranking brasileiro: a passagem de ônibus é a mais cara do país. O ônibus ali custa R$ 3,30. Em São Paulo, onde há linhas com dezenas de quilômetros de extensão, o ônibus custa R$ 3,00, e há descontos. Mas São José dos Campos precisa de um reforço de receita.

Novo prefeito, novos cargos.

Verde Marina

O partido é apresentado como novo, mas começa plagiando Gilberto Kassab: não é situação nem oposição, mas “posição”. O nome não é “partido”, mas Rede; só que seus adeptos não são redistas, mas “sonháticos”. Com que sonham? Com um mundo sustentável, verde, em que os leões convivam com os carneiros. Sonhático sonha com mandatos efêmeros, que não permitam várias reeleições; e têm o apoio do senador Suplicy, que não tem a menor intenção de ir para a Rede nem de desistir de uma quarta reeleição.

Marina sonhou com muitas coisas que a Rede poderia fazer. Mas certamente não imaginou que seu novo partido também pudesse fazer rir.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.