O meu Brasil lindo e trigueiro

(*) Carlos Brickmann –

A Polícia ocupou o gabinete do presidente do Senado, Renan Calheiros, do PMDB alagoano, neste início de semana. Vários delegados passaram ali um bom tempo. Mas nada de conclusões precipitadas, caro leitor ingênuo. Estamos no Brasil! Os delegados representavam a Associação dos Delegados de Polícia, Adepol, e foram ao gabinete de Renan entregar-lhe um prêmio: a Medalha Romeu Tuma, “por suas ações de fortalecimento da segurança pública nacional”.

Quando o caro leitor parar de rir, preste atenção às linhas seguintes:

A Comissão de Ética da Câmara Distrital de Brasília bem que tentou, mas a lei não permitiu que Agaciel Maia se tornasse o seu presidente. Como Agaciel já é vice-presidente da Câmara Distrital, não poderia ocupar simultaneamente a presidência da Comissão de Ética, como era desejo de seus pares.

Agaciel Maia, lembre-se, foi por 14 anos o diretor-geral do Senado, homem de confiança de Sarney. Foram coisas de Agaciel os atos secretos – nomeações de parentes e funcionários-fantasmas, concessões de vantagens, tudo sem a divulgação obrigatória no Diário Oficial; sua mansão, avaliada em R$ 5 milhões, não declarada à Receita; o quarto subterrâneo secreto, no Senado, onde havia um famoso sofá todo manchado. Agaciel é alvo de diversos processos movidos pelo Ministério Público. E lhe cobram a devolução do pagamento de contratos firmados sem licitação.

Mas não estranhe, caro leitor: se há cara-dura para existir Comissão de Ética na Câmara Distrital, é pena que Agaciel não possa comandá-la.

Mas chegou lá

E, caro leitor, não ponha a culpa só nos políticos. Depois de todos os escândalos, Agaciel foi eleito deputado distrital pelo PTC, com mais de 14 mil votos.

Pagando a conta

Doar dinheiro para a campanha eleitoral é uma coisa (que envolve até a aposta na vitória do candidato); doar dinheiro depois da campanha, já com o vitorioso no cargo, é outra coisa. O aroma que se desprende de doações feitas a quem tem condições de retribuí-las é definitivamente outro. E acaba de acontecer: o Diretório Municipal do PT de São Paulo promoveu jantar no luxuoso restaurante Leopolldo, cobrando R$ 10 mil por pessoa. O objetivo foi pagar parte da dívida da campanha de Fernando Haddad à Prefeitura paulistana. “Tivemos a felicidade de obter ajuda para saldar a dívida”, diz o homem de finanças do partido, Alfredo Alves Cavalcanti, “Alfredinho”.

E quem doou? Segredo: Alfredinho prometeu só revelar os nomes à Justiça Eleitoral. “Vamos manter a ética”, disse. O gasto oficial da campanha de Haddad é de R$ 67,9 milhões. Antes da eleição, tinham sido levantados R$ 42 milhões.

Com o prefeito já no posto, o resto chega mais fácil.

Gente não falta

Os temporais em São Paulo deixaram muita gente sem energia; e os consertos demoraram, segundo informou a distribuidora AES Eletropaulo, porque houve apagões demais, acumulados. Mas não pense que a AES Eletropaulo tem falta de gente. Nada disso. Suas contas, por exemplo, não são enviadas pelo Correio. São entregues (e às vezes em cima da hora) por seus funcionários.

Pelo jeito, as vagas para substitutos de carteiros são aquelas que não existem para eletricistas.

Caça às bruxas

Um dos mais espantosos casos de vingança pessoal na área jurídica está acontecendo neste momento. O desembargador aposentado Pedro Gagliardi é acusado por um antigo e público desafeto de ter falsificado o resultado de um julgamento (a “tira”), o acórdão, de mandar tudo para a publicação e a jurisprudência. Só que, como está claro nos autos do processo, ele não fez a tira (nem seria sua atribuição: era relator, e a anotação da tira é feita por outro desembargador, o presidente); não mandou nada para a publicação nem para a jurisprudência (quem enviou, e assina o envio, não foi ele); e não fez a folha de rosto do acórdão.

É simples assim; mas sofre a perseguição assim mesmo, e continuará a sofrê-la até que seja julgado o habeas-corpus em que pede o trancamento do processo. Terminada esta fase, o jogo vira. Ainda haverá muita emoção neste caso.

Bicho sim, gente não

Um fazendeiro de Mato Grosso do Sul, Orlandino Carneiro Gonçalves, 61, matou a tiros, dia 16, um garoto índio de 15 anos, Denílson Barbosa, em sua fazenda na região de Caarapó. Segundo disse, seus cachorros latiram e correram em direção a um grupo de índios, perto de um criadouro de peixes; ele atirou no grupo.

Segundo testemunhas, foi diferente: o rapaz teria sido capturado por dois seguranças, que atiraram a sangue frio. Mas o fazendeiro Orlandino Carneiro Gonçalves confessa ser o matador. Dois fatos importantes merecem destaque:

1 – a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, viajou ao Mato Grosso do Sul para conversar com o governador e tomar conhecimento dos fatos. Nada que não pudesse fazer, e mais depressa, por telefone, Internet e jornais. Prometeu rigoroso inquérito, ação urgente – e o assassino confesso continua solto.

2 – Se o fazendeiro matasse um jacaré, uma cobra ou uma paca, estaria preso sem direito a fiança. Como matou um garoto, prestou depoimento, confessou o assassínio e foi imediatamente libertado.

A vida humana já não vale nada.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.