Se eleito papa, Odilo Scherer deixará supervisão do Banco do Vaticano

Armação ilimitada – A repentina inclusão do nome do cardeal Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, na lista dos possíveis sucessores de Joseph Ratzinger no comando do Vaticano agitou a comunidade católica brasileira, mas é preciso cuidado ao analisar tal fato. O jornal italiano “La Stampa”, na edição de domingo (3), anunciou que as chances de Scherer aumentaram sobremaneira, especialmente porque os cardeais Angelo Sodano, decano do Colégio Cardinalício, e Giovanni Battista Re, além de outros clérigos italianos, estariam por trás da iniciativa.

A explicação do La Stampa para o inesperado cacife de Dom Odilo Scherer é que se trata de um latino-americano bem considerado, com fluência no idioma italiano e um sobrenome alemão, além de “modos medidos” que o fazem parecer “pouco latino”. As chances de Scherer chegar ao posto máximo da Igreja Católica não devem ser descartadas, pois nos bastidores da Santa Sé a disputa pelo poder continua intensa e sórdida entre os grupos que há décadas se enfrentam por trás dos muros da Praça São Pedro.

Não se trata de duvidar da capacidade de Scherer para assumir o pontificado, mas como papa o arcebispo da capital paulista seria obrigado a abrir mão do cargo de supervisor das operações do Banco do Vaticano, cuja indicação foi feita por Bento XVI antes de sua renúncia. Na presidência do Banco do Vaticano, também nomeado por Ratzinger, está o advogado alemão Ernst Von Freyberg, membro da Ordem de Malta, uma das facções da Igreja Católica e da qual o papa emérito Bento XVI também faz parte.

O próximo papa terá de enfrentar a longeva guerra que acontece nas coxias da Santa Sé, travada entre integrantes da Ordem de Malta, dos Cavaleiros de Colombo, da Maçonaria e de conhecidas organizações mafiosas. Uma das incontestáveis provas do envolvimento da Ordem de Malta, que domina os bastidores do Vaticano, com a Maçonaria e a máfia foi o escândalo que mandou pelos ares o Banco Ambrosiano. Membro destacado da Ordem de Malta, Licio Gelli, chefão da loja maçônica P2, se juntou ao mafioso Michele Sindona (o Tubarão), ao finado cardeal Paulo Marcinkus (o Gorila) e a Roberto Calvi para transformar o Ambrosiano em uma escandalosa lavanderia financeira, que também foi alvo de desvio de dinheiro para o custeio das despesas pessoais de muitos clérigos de alta patente.

Não é por acaso que a eventual eleição de Odilo Scherer está condicionada à escolha de um italiano para a Secretaria de Estado do Vaticano. Em outras palavras, Scherer seria o garoto-propaganda da Igreja Católica, enquanto a bandidagem continuaria dominando o intramuros. Só mesmo os inocentes para acreditar que a eventual escolha de Odilo Scherer para substituir Ratzinger não faz parte de um enxadrismo criminoso.