Covardia explícita – Muito se fala em ética no jornalismo, mas esse é um tema esquecido pela maioria dos profissionais da mídia quando a obsessão por uma manchete entra em cena. Nesse momento não importa se famílias serão dilaceradas em sua dignidade ou se marcas serão destruídas pelo sensacionalismo barato que embala os veículos de comunicação e entope seus cofres.
Esse comportamento condenável, que já mereceu destaque no ucho.info em diversas ocasiões, parece ter se transformado em prática comum no cotidiano do jornalismo. Entre os muitos casos que foram alvejados pela falta de ética de parte da imprensa, devem ser lembrados os trágicos acidentes da boate Kiss, em Santa Maria, e do Airbus da TAM, no Aeroporto de Congonhas, ocasiões em que os veículos midiáticos priorizaram o furo de reportagem, ignorando a dor das famílias das vítimas.
Outro caso que merece ser lembrado é o do sequestro e morte do então prefeito de Santo André, Celso Daniel. A TV Globo, que não exibe ou cita marcas ou nomes de empresas em entrevistas e matérias sem que ouça o tilintar da máquina registradora, levou ao ar reportagem realizada diante da churrascaria onde Celso Daniel jantou antes de ser sequestrado, tendo a logomarca do restaurante ao fundo, como se o local fosse o ponto de partida para a morte. Ora, se a Globo não exibe marcas de empresas e produtos em suas reportagens, não havia razão para interromper esse procedimento no rastro do sensacionalismo barato.
A situação aética acima se repetiu nas reportagens sobre a morte do compositor e vocalista do Charlie Brown Jr., Alexandre Magno Abrão, o Chorão. O cantor foi encontrado morto na última quarta-feira (6) em seu apartamento, na Zona Oeste da capital paulista, mas a imprensa não se contenta em noticiar o fato e tem se esforçado para antecipar, com base no achismo, a conclusão de um inquérito policial que ainda está em andamento.
Nas matérias levadas ao ar pela TV Globo, os jornalistas disseram que o pó branco encontrado no apartamento de Chorão seria supostamente cocaína. Ora, se o pó branco ainda está no campo da suposição, mesmo que Chorão fosse um usuário da droga, não há porque levantar a suspeita de que seja cocaína. Não bastasse a covardia cometida contra a memória do cantor, a Vênus Platinada noticiou que o vocalista do Charlie Brown Jr. teria misturado drogas, bebidas e calmante, fazendo questão de exibir a marca do medicamento.
Esse comportamento da TV Globo é absolutamente condenável, pois milhões de pessoas fazem uso desse medicamento, que só é vendido com receituário médico apropriado, e podem suspender o tratamento com base na associação do mesmo com a morte. Fora isso, exibir a marca do calmante foi um ato de leviandade contra o fabricante.
Há entre os atores da Rede Globo casos escabrosos de consumo de drogas, mas a emissora carioca prefere esconder a verdade, com medo de a revelação interferir na audiência de seus programas. No campo do sensacionalismo, um conhecido repórter da emissora, hoje guindado a apresentador de telejornal, certa vez chegou na 1ª Delegacia de Polícia da cidade de São Paulo e perguntou aos investigadores se naquele dia eles matariam alguém, pois precisava de um furo de reportagem.
Mesmo assim, a emissora da família Marinho já usou em um dos seus slogans o termo “tudo a ver”. Resumindo, ousadia é para quem pode, incoerência, para quem acha que pode.