De: Ucho Haddad – Para: Dilma Rousseff – Assunto: Óleo de peroba

    (*) Ucho Haddad –

    Dilma, você provou mais uma vez que para se eleger no Brasil não é preciso talento. Basta dinheiro (se for público, melhor), desfaçatez e conversa fiada. Sobre esse tripé qualquer um chega onde quiser. Você é o melhor exemplo dessa fórmula eleitoral mágica.

    Acompanhei sua participação na cerimônia que marcou a abertura do pontificado do papa Francisco. Você foi tão magistral encenando, que logo pensei que no palco do teatro nem mesmo Dulcina de Moraes, Tônia Carrero e Fernanda Montenegro, juntas, seriam capazes de superá-la. Ter dito logo em seguida que se emocionou durante a missa mostrou sua inconteste vocação para o drama. Já estou pensando em criar o Prêmio Dilma para a classe teatral.

    Sabe, Dilma, ainda forço o cérebro para tentar compreender como você consegue estar presidente. Um governo que é desmascarado por uma receita de miojo enxertada em redação do Enem não merece o respeito de quem quer que seja. Certa vez, Dilma, o seu padrinho político, o fugitivo Lula, demitiu o então ministro da Educação (Cristovam Buarque) pelo telefone. Coisa de gente covarde, é verdade (o que não piora o currículo do seu antecessor), mas é preciso lembrar que essa degola foi fruto de algo bem menos importante que o escândalo do miojo.

    Estivesse no seu lugar, afogaria o ministro da Educação na água fria da Fontana di Trevi, aproveitando que você e seu séquito de bajuladores estão em Roma a passear. Você até poderia usar outro método para se livrar do ministro, mas não há opção para quem comanda uma pasta com integrantes que conseguem a proeza de afirmar que o miojo não fugiu ao tema da redação, que era processo migratório. Provavelmente porque o néscio que chegou a essa brilhante conclusão tem miojo no lugar da massa cinzenta.

    Dilma, você é defensora confessa do aborto, convida uma “abortista” para fazer parte do seu governo e se emociona na principal igreja do Catolicismo? Definitivamente você é uma mulher ousada. Falta com a verdade ao pé da cruz e ainda consegue agendar um papo com o papa. Na mesa de pôquer você certamente é imbatível, pois “nunca antes na história deste país” alguém blefou com tanto talento. Essa ousadia explica seus índices de aprovação e de seu governo inoperante. Em terra de gente séria, que não é o caso do Brasil, a última pesquisa do Ibope já teria recebido o Oscar da mitomania.

    Dilma, como você está fazendo turismo na Itália com o suado dinheiro dos contribuintes brasileiros, aproveite e vá comemorar mais essa farsa estatística. Convide a sua horda de seguidores e refestelem-se no cardápio preciso e elegante do La Pergola. Não se avexe com a conta, pois aqui no Brasil há um bando de palhaços financiando essa farra oficial. Dilma, tenha modos, porque o La Pergola é um lugar de gente em ordem. Não vá passar carraspana nos assessores dentro do restaurante, porque o La Pergola não é o refeitório do Palácio do Planalto. E segure o ministro da Educação para que ele não peça no restaurante um miojo só porque no Brasil essa “gororoba” agora é cult.

    Ao ler mais esse capítulo do nosso quase interminável colóquio redacional, você poderá pensar que estou com zombaria, mas não. Na verdade, Dilma, estou preocupado, pois em breve você estará com o papa Francisco para falar de pobreza e fome. Considerando que você está hospedada em um hotel cuja diária chega a 7,5 salários mínimos, o que não é coisa de pobre, não fica bem uma chefe de Estado chegar ao Vaticano com fome e pedindo uma hóstia para mastigar. Por isso sugeri o La Pergola, na certeza de que nesse restaurante, impecável e que tão boas lembranças me traz, você poderá pensar melhor na desoneração mentirosa da cesta básica, que serviu apenas para turbinar a pesquisa do Ibope. Fique tranquila, Dilma, sem se preocupar com desculpas. Depois de décadas fazendo jornalismo político, sei muito bem como funciona a política. À base de um cardápio de sacanagens dos mais variados matizes e para todos os gostos.

    Contudo, Dilma, minha preocupação maior é com o papa Francisco, que acaba de estrear oficialmente na Santa Sé. Depois da missa que marcou o início do pontificado do cardeal argentino Jorge Bergoglio, agora papa Francisco, você disse, na meteórica entrevista que concedeu aos jornalistas brasileiros que insistiram em atrapalhar sua sequência de passeios, que o fato de o pontífice “ter essa opção preferencial pelos pobres tem a ver com o nosso continente, que está passando por um processo de superação da pobreza, o que deve comover, de fato, um padre da nossa região”.

    Por isso, Dilma, peço que seja comedida, pois Bergoglio não é mais um adolescente, está com 76 anos e não tem parte de um dos pulmões. Ele pode perder o fôlego se souber das inúmeras conquistas patrocinadas por Lula e você nessa última e dourada década. Não conte que o PT, o seu partido, conseguiu o milagre de elevar o salário mínimo para R$ 678. Vá com calma quando revelar ao papa que você está conseguindo vencer a miséria com R$ 80 por mês. Omita também a tristeza e a preocupação que carrega por causa da nova tragédia de Petrópolis. Nem toque no assunto das 6 mil residências que, em janeiro de 201, você prometeu aos desabrigados da cidade da histórica cidade fluminense, mas que esses ingratos insistiram em continuar morando no barranco apenas porque as casas não saíram do papel. O papa é capaz de excomungar essa gente.

    Dilma, se contar que você e o Lula conseguiram colocar 40 milhões de pessoas na classe média e que esse batalhão não mede esforços para diariamente escalar as montanhas de carnês vencidos, o papa é capaz de acreditar que o Brasil é uma usina de milagres e que o povo brasileiro é mais obediente que a vaca do presépio do Menino Jesus.

    Para finalizar, Dilma, não mais tomando seu tempo porque você precisa caprichar na maquiagem e pisar no Vaticano com semblante angelical, confesso que meu maior medo é que o papa Francisco descubra que você é a Virgem Maria, que Deus caiu de paraquedas em Garanhuns, perdeu o dedo mindinho e agora, usando um chapéu de Al Capone, vive a fugir da legião de fãs. Não esqueça, Dilma, de colocar na bolsa um vidro de óleo de peroba, pois o frio que nessa época do ano sopra na Praça São Pedro costuma danificar faces lenhosas.