Os problemas herdados do “comandante” não são poucos. Inflação alta, gastos públicos excessivos, dólares insuficientes para pagar a importação de alimentos e honrar a dívida externa, além de falta de alguns produtos nos supermercados são alguns dos problemas que chamam a atenção.
No comando da Venezuela por 14 anos, Chávez nacionalizou diversas empresas – sendo que muitas delas se tornaram ineficientes – e não conseguiu romper com a dependência histórica do país da receita gerada pela extração do petróleo.
“Além de não escapar da dependência do petróleo, o governo não conseguiu fortalecer outros setores industriais. Esses são alguns dos graves problemas que não existem só desde [o governo] Chávez, mas que nos últimos anos só aumentaram de tamanho”, diz Stefan Peters, especialista em Venezuela da Universidade de Kassel, na Alemanha.
Benefícios sociais e “presentes” para países amigos
Os “petrodólares” foram usados para financiar as políticas sociais do governo chavista – em subsídios, por exemplo, para moradia, eletricidade, água, combustível e alimentos para a população mais pobre, além de beneficiar países amigos – especialmente do Caribe e da América Central – com a venda de petróleo mais barato.
Segundo o candidato oposicionista Henrique Capriles, Chávez teria “presenteado” as nações amigas com petróleo no valor total de 730 bilhões de bolívares – o que corresponde a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) gerado pela Venezuela durante os 14 anos em que o “comandante” governou o país.
Em contrapartida, o governo venezuelano não conseguiu investir em melhorias na engenharia e na infraestrutura da companhia petrolífera estatal, a PDVSA, a fim de aumentar a extração e refino de petróleo e, também, diminuir os custos das importações de combustíveis – que aumentaram com a explosão da maior refinaria do país, em agosto de 2012. A empresa é fonte de 96 de cada 100 dólares que entram no país.
“Como típico governante latino, você precisa fazer escolhas que agradem à população, mas que lhe garantam no poder o máximo de tempo possível. Este foi o ponto crucial da gestão Chávez: juntar dois projetos, um pessoal – que o deixou por 14 anos no poder – e um de país, de transformação da realidade social”, analisa Thiago Galvão Gehre, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB).
Corte de subsídios pode gerar instabilidades sociais
Para tentar amenizar a crise, o governo deveria criar um ambiente político mais estável para recuperar a confiança dos investidores nacionais e internacionais, de acordo com especialistas ouvidos pela DW Brasil. Caso contrário, será difícil resolver os problemas econômicos do país.
“Apesar da participação do Estado na economia, o setor privado ainda é muito importante”, diz Antonio Carlos Alves dos Santos, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Outra possibilidade diz respeito ao investimento para aumentar a produção da PDVSA e, assim, receber mais dinheiro com a venda do petróleo. “Mas, por outro lado, o problema da diversificação da economia venezuelana não seria resolvido”, pondera Peters, da Universidade de Kassel.
Caso insista na desvalorização da moeda bolívar, como até agora vem realizando, o governo terá maior facilidade para pagar a dívida interna do país, principalmente com os rendimentos provenientes do petróleo. Mas, com isso, a inflação pode aumentar e atingir os que não têm condições de comprar dólar, quer dizer, os mais pobres.
Alguns dos especialistas acreditam que o governo deverá cortar parte dos subsídios oferecidos à população mais pobre, como aos combustíveis, e à exportação de petróleo mais barato para nações amigas. Já os subsídios aos alimentos não podem ser cortados – caso contrário, haverá piora da qualidade de vida dos venezuelanos.
“Não é possível cortar o gasto público ou os benefícios sociais, especialmente o da moradia e dos combustíveis, sem que haja o perigo de uma grande instabilidade social na Venezuela”, avalia Ana Soliz Landivar, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), em Hamburgo.
Para Peters, da Universidade de Kassel, a pergunta é até quando será possível manter grande parte desses benefícios, principalmente se a situação econômica piorar de forma drástica depois do período eleitoral. (Do Deutsche Welle)