Cala-te, boca

(*) Carlos Brickmann –

1 – Do ex-presidente Lula, citado pela colunista Mônica Bérgamo, sobre o então candidato a ministro do Supremo Luiz Fux: uma pessoa que tem ao mesmo tempo o apoio de Delfim Netto e João Pedro Stedile não merece confiança.

Fux, que chegou ao Supremo pelas mãos da presidente Dilma, não é o único que tem ao mesmo tempo o apoio de Delfim Netto e João Pedro Stedile. O todo-poderoso ministro da ditadura militar e o todo-poderoso comandante do Movimento dos Sem-Terra dão apoio ao mesmo tempo também a Dilma. E a Lula.

2 – Está para começar uma ampla ofensiva publicitária do PT, comandada pelo marqueteiro de Lula e Dilma, João Santana, em favor do financiamento público exclusivo de campanhas eleitorais. Objetivo: juntar um milhão e meio de assinaturas numa proposta que proíba pessoas e empresas de contribuir para campanhas eleitorais. O financiamento privado de campanhas eleitorais seria crime inafiançável – mais grave, portanto, do que homicídio. Slogan da campanha: “É dinheiro sujo”.

Pois é: a campanha eleitoral de Dilma Rousseff, do PT, custou oficialmente R$ 177 milhões, obtidos por doações de pessoas e empresas privadas. Os acusados do Mensalão tentaram desqualificar seus crimes dizendo que tudo era apenas caixa 2 – ou seja, além de receber o tal dinheiro sujo, ainda deram um jeito de não contabilizá-lo. O tesoureiro Delúbio Soares disse que o PT usou “recursos não contabilizados”. O presidente Lula, naquela famosa entrevista em Paris, disse que o PT, seu partido, tinha operado uma caixa 2. Inafiançável!

Seu dinheiro

As informações de Lula e do PT revelam muito sobre a política brasileira. Mas não mostram exatamente quais as vantagens que o partido levará com o tal financiamento público de campanha. É simples: pelo sistema, cada partido recebe do Tesouro uma determinada quantia por voto conquistado nas últimas eleições. O PT e o PMDB, os maiores partidos, receberão as maiores quantias.

A história de que financiamento público evita a corrupção não se sustenta: na Alemanha, onde há financiamento público, e onde a Polícia é excelente, o primeiro-ministro Helmut Kohl caiu quando se apurou que, além do financiamento público, ele costumava também arrecadar ilegalmente dinheiro particular.

A propósito, o caro leitor está disposto a pagar a campanha dos candidatos?

Questão de status

As empresas de Eike Batista perdem valor em bolsa, pedem apoio ao Governo Federal (já tomaram mais de R$ 11 bilhões e querem porque querem que a Petrobras viabilize outro empreendimento, o Porto do Açu), demitem: a OSX despediu 15% de seus funcionários, a OGX demitiu há pouco seu presidente e 30 empregados, principalmente na área financeira. Crise? Crise para os demitidos; talvez para o caro leitor, que será chamado, via Tesouro e estatais, para ajudar a pagar os prejuízos. Para o comando da empresa, o mundo é belo.

Nesta semana, a OGX anunciou um aumento de 66% nos pagamentos de Eike Batista e de outros quatro diretores. O custo total passa de R$ 7,4 milhões, em 2012, para R$ 12,3 milhões neste ano. E isso numa só empresa: em todas as outras do grupo os diretores (e Eike) têm bons salários, como se houvesse lucro. De certa forma, há: o Governo financia o lucro dos “empresários privados”.

Tomate é no prato

Não se impressione com os preços do tomate – seja em alta, seja em baixa. O preço do tomate oscilou devido a fatores climáticos, excesso de calor e tempestades, e rapidamente voltará aos níveis normais, ou próximo disso. É até provável que os preços fiquem abaixo dos habituais, já que muitos agricultores, estimulados pela alta de agora, resolvam plantar mais, aumentando a oferta. A mesma coisa acontece com a farinha de mandioca e com o feijão carioquinha. Porém, se a alta do tomate não é inflação, mas variação ocasional de preços, outros fatores sérios geram pressões inflacionárias muito fortes: gastos excessivos dos governos, investimentos baixos (ou seja, falta de mercadorias na praça, o que provoca a alta de preços), uma certa despreocupação com despesas oficiais.

É a Norte-Sul que só tem custos e não rende nada, porque não fica pronta; é a transposição do São Francisco, atrasadíssima; são os gargalos de infraestrutura, que aumentam os custos. E como age o Governo? Atrasado: primeiro, assiste ao congestionamento dos portos; depois, cobra soluções. Isso joga a inflação para cima.

O Homem de La Mancha

O projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2014 já foi enviado pelo Governo ao Congresso. O quadro que traça é o sonho de qualquer planejador: a economia vai crescer 3,5% em 2013 e 4,5% em 2014; a inflação será de 5,4% em 2013, cairá para 4,5% em 2014. Não lembra o início da música-tema de O Homem de la Mancha, na magnífica versão de Chico Buarque e Ruy Guerra?

Cantemos juntos: “Sonhar/ mais um sonho impossível”.

É minha lei, é minha questão

Como comenta o jornalista gaúcho Gilberto Simões Pires, em seu blog Ponto Crítico (www.pontocritico.com), “em matéria de economia, o Governo Dilma – petista adotou uma péssima estratégia: em time que está perdendo não se mexe”.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.