Nem bateu, mas doeu

(*) Carlos Brickmann –

João Sayad, ex-secretário da Fazenda e da Cultura de São Paulo, ex-ministro do Planejamento, ex-secretário paulistano de Finanças, deixando agora a presidência da TV Cultura (serviu administrações do PMDB, PSDB e PT), publicou “Taxonomia dos ratos“, sobre corrupção. Diz, basicamente, que os grandes casos de corrupção pública deixam algum resultado concreto – por exemplo, o prédio do TRT de São Paulo, superfaturado, está lá, funcionando, e com o fim da obra cessou o prejuízo que causava. Já a pequena corrupção – compras superfaturadas, nomeação de parentes, propinas – só deixa como resultado o apodrecimento e a destruição do serviço público.

Sayad diz que está indignado e não tem mais disposição para prosseguir nessa tarefa (de descrever tipos de corrupção). Não cita nomes, não cita setores. Mas, tendo ocupado cargos importantes no Município, no Estado e na União, sob vários partidos, é curioso notar que as reações se concentraram na possibilidade de que tenha criticado a TV Cultura ou sua mantenedora, a Fundação Padre Anchieta. Tucanos eriçaram as penas: por exemplo, Alberto Goldman diz que, se Sayad queria se referir à Fundação, teria obrigação “de ser mais explícito”. O presidente do Conselho Curador da Fundação, Belisário Santos Jr., ex-secretário do Governo Covas, diz que Sayad nada levou ao Conselho contra gestões anteriores.

Se Sayad não citou TV Cultura, nem Fundação, nem Governo estadual, por que só tucanos reagiram? Há perguntas mais esclarecedoras do que as respostas.

Então, ta

Do ministro da Educação, Aloizio Mercadante: “Não sou pré-candidato ao Governo de São Paulo”.

Diz a verdade: não é pré-candidato. É candidatíssimo.

Dr. Jekyll

Guilherme Afif Domingos é preparado, organizado, um ótimo executivo. Luta há anos pela reformulação tributária, para reduzir os impostos que sufocam a economia e o cidadão; defende o livre mercado. Tem ficha limpa e a virtude de considerar os adversários como adversários, não como inimigos. Está sempre aberto a conversas; é leal aos amigos. E aí é que mora o perigo. Para atender ao amigo Gilberto Kassab, presidente de seu partido, o PSD, que quer firmar presença no Governo Federal, aceitou ser ministro de um Governo que adora impostos e gosta de intervir na economia.

E que ele, Guilherme Afif, sempre criticou.

Mr. Hyde

Opiniões de Afif sobre Dilma, antes de ser convidado para o Governo:

“PAC é Plano de Abuso da Credulidade. É muita espuma e pouco chope”.

“Dilma não tem biografia política para comandar o país”.

(Dilma na Presidência) “é a mesma coisa que entregar um Boeing para quem nunca pilotou um teco-teco”.

Dúvida pertinente

Afif assume o 39º Ministério de Dilma, o da Micro e Pequena Empresa, sem deixar de ser vice-governador de São Paulo. Segundo disse, fez um acordo com o governador Alckmin, que irá avisá-lo quando se licenciar para que o ministro possa sair do país e o presidente da Assembléia assuma.

Pergunta-se: se não é para cumprir a obrigação de vice, por que manter o posto, em vez de renunciar?

Pacto de sangue

Do governador paulista Geraldo Alckmin, na convenção do Diretório Estadual do PSDB: “Estamos unidos. Aqueles que pregarem desunião vão errar redondamente”.

Como de hábito, Alckmin tem razão: como podem os tucanos se desunir, se nem conseguem arrancar o punhal das costas uns dos outros?

De cima do muro

O vereador mais votado do PSDB, Andrea Matarazzo, não compareceu à convenção. Mas é falsa a informação de que os tucanos estejam brigados.

Como podem brigar, se um nem consegue olhar a cara do outro?

Bilhões, bilhões

O caro leitor se enganou: esta não é uma nota sobre roubalheira. É uma questão jurídica que envolve algo entre dois e cinco bilhões de reais, e que entra hoje na pauta do Supremo Tribunal Federal. Na década de 80, os vários congelamentos de preços provocaram gigantescos prejuízos no balanço das empresas aéreas, que enfrentaram a alta do petróleo sem poder mexer nas tarifas. Em 1992, a Varig entrou na Justiça pedindo a reposição da diferença entre as correções autorizadas e o aumento real do custo.

Ganhou em todas as instâncias. O que se discute a partir de hoje (a relatora é a ministra Carmen Lúcia) é o valor da indenização.

Los cubanos

O Governo brasileiro estuda a sério a contratação de seis mil médicos cubanos, para atender a regiões hoje desassistidas. OK: e por que só cubanos? Médicos formados na Espanha, em Portugal, nos Estados Unidos, precisam revalidar seus diplomas; serão os cubanos liberados da revalidação? As associações médicas brasileiras poderão avaliar a competência dos médicos importados?

Recordemos: quando o presidente venezuelano Hugo Chávez, seu amigo, ficou doente, Lula se esforçou para tratá-lo no Brasil, não em Cuba. Lula sabia por que.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.