De: Ucho Haddad – Para: Dilma Rousseff – Assunto: Curral eleitoral e o drible da vaca

    (*) Ucho Haddad –

    Dilma, sempre lembrando que a formalidade fica ao largo nesses nossos colóquios, você de fato é uma pessoa surpreendente. Conhecida pela falta de diplomacia, você resolveu abusar da utopia para explicar a boataria que marcou o Bolsa Família, levando milhares de beneficiários a correrem aos caixas eletrônicos e sacarem antecipadamente perto de R$ 100 milhões. Compreendo o seu desespero diante da necessidade de precisar explicar o inexplicável, pois faltando pouco mais de um ano para a eleição presidencial não se pode deixar a parcela não pensante da sociedade perceber que o programa é o que mantém o curral eleitoral do seu partido.

    Dilma, você estava no continente africano quando disse que “pode ter tido falhas” no sistema de pagamento dos benefícios do Bolsa Família, mas que isso não explica os boatos. Ou seja, o seu governo comete um erro, mas você quer, mesmo assim, encontrar um culpado. Tudo certo, Dilma, pois afinal mais um erro não cabe em governo tão errante. Considerando que vocês, petistas, são magnânimos, não demorará muito para que venha à tona aquele discurso ultrapassado do “golpe das elites”.

    Dilma, o seu governo é um fiasco tão grande, que uma besteira a mais não fará diferença alguma. O que não se pode é aceitar a ideia de que a Polícia Federal já tenha detectado a origem dos tais boatos, que na minha modesta opinião foram causados por uma interpretação equivocada que foi alcançada pelo efeito viral. Essa mesma Polícia Federal ainda não conseguiu, passados quase sete anos, descobrir a origem do dinheiro que seria utilizado pelos aloprados para pagar o malfadado Dossiê Cuiabá. A balela de que uma empresa de telemarketing do Rio de Janeiro foi a responsável é no mínimo script de última hora, pois até o momento o nome da companhia não foi revelado.

    Não causará estranheza se em breve algum incauto for execrado publicamente, sem que sua culpa seja comprovada. E se o boato tornou-se rapidamente uma verdade, Dilma, é porque o seu governo não tem a menor credibilidade. Fosse o contrário, o boato teria morrido no nascedouro.

    Contra fatos não há argumentos, Dilma. Pelo menos é isso que prega a sabedoria popular. E diante desse escárnio sugiro que você substitua urgentemente os integrantes da equipe palaciana de mentiras, que começam a falar ao mostrar desespero na feitura das desculpas oficiais. Em nenhum lugar do planeta um governo é 100% verdadeiro, até porque a política alimenta-se na vala da mitomania, mas vocês, doutos petistas, abusam da mentira. A situação torna-se ainda pior quando seus estafetas pegam carona no imbróglio na tentativa de arrastar os adversários políticos para o olho do furacão.

    É o caso da peremptória Maria do Rosário, sua companheira de PT e ministra da Secretaria de Direitos Humanos. Insuportável até de se ver, Maria do Rosário, sem saber o que de fato aconteceu no escândalo do Bolsa Família, disse que os boatos foram disparados pela oposição. Dilma, como a oposição ficou sabendo que a Caixa pagaria os benefícios com dias de antecedência? Por outro lado, como a Caixa soube dos boatos da oposição e reforçou o estoque de dinheiro nos terminais eletrônicos?

    No seu lugar, Dilma, eu já teria demitido a ministra Maria do Rosário por calúnia, pois é inaceitável que um ministro de Estado tenha um comportamento tão chicaneiro, típico de grupos mafiosos de quinta e sem imaginação. Levantar falso testemunho também é violação dos direitos humanos, pois em seu governo tudo caminha nessa direção, desde que isso atenda aos interesses espúrios da “companheirada”. Fosse eu um integrante da oposição, já teria ingressado com medida judicial contra essa desprezível senhora por danos morais e outros badulaques jurídicos.

    Dilma, se a oposição decidiu reagir a mais uma armação ilimitada do seu governo, por certo a população está cansada das mentiras e dos escândalos de corrupção que marcam a era do PT no poder central. Esses expedientes baratos a que vocês costumeiramente recorrem fazem com que os brasileiros se sintam um pouco bolivarianos, até porque na vizinha Venezuela, uma ditadura truculenta e utópica, a decadência do Estado obriga o estepe de caudilho Nicolás Maduro a práticas condenáveis.

    O povo brasileiro tem memória curta e pouco se interessa por política, mas é preciso lembrar que ainda restam no Brasil pessoas com a massa cinzenta em pleno funcionamento e dentro do prazo de validade. E não me obrigue a ressuscitar escândalos inaceitáveis que vocês petistas patrocinaram apenas com o intuito de minar a força dos adversários. Se você não entendeu a essência da mensagem, faço a gentileza de reavivar sua memória. Foi com a chancela do PT que o País enfrentou mentiras como a privatização da Petrobras pelos tucanos, o escândalo do Dossiê Cuiabá, o caso dos dólares na cueca, os gastos pessoais de FHC enquanto presidente.

    Como já afirmei em colóquio anterior, você, Dilma, é de uma desfaçatez sem precedentes. Falta com a verdade de maneira contumaz, mas ousa aparecer no programa político do PT, ao lado do mitômano fugitivo Lula, como se o partido fosse o derradeiro reduto da moralidade planetária.

    Dilma, pense na possibilidade de deixar um bom exemplo para o seu neto, pois avó mentirosa é uma tragédia. Adote a verdade, mesmo que dura, e abandone o status de marionete de luxo do lobista “latin lover” Lula, que ainda deve explicações sobre o escândalo envolvendo a Marquesa de Garanhuns. Em tempos outros você sempre foi contra o PT, a ponto de se referir aos petistas com o termo discriminatório “essa gente”. Não caia nessa esparrela partidária, pois ainda dá tempo de salvar o seu currículo, diuturnamente corroído pela peçonha da mentira esquerdista.

    Companheiros de legenda já admitiram nos bastidores, mais de uma vez e de forma escancarada, que o Bolsa Família mantém com o dinheiro público um obediente curral eleitoral, do qual você mesma já se beneficiou. Só não queira nos aplicar o drible da vaca apenas porque a mentira combinada não deu certo.

    (*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista político, cronista esportivo, escritor e poeta.