A força das gerações

(*) Lígia Fleury –

Em 1932, os paulistas se organizaram em um movimento contra Getúlio Vargas, movimento esse originado nos estudantes que buscavam oficializar os limites dentro dos direitos e deveres do Presidente, com as devidas obrigações e limitações de cada poder.

Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo perderam a vida nesse movimento e tornaram-se símbolo da Revolução Constitucionalista de 1932. São lembrados no estado de São Paulo ao menos uma vez ao ano, no feriado de 9 de julho.

Os jovens têm uma força enorme , principalmente quando, em grupo, unem seus interesses em favor da comunidade. Muitas vezes essa união pode ser ruim, como no caso das gangues, dos grupos rivais que se hostilizam por pré conceitos e utilizam a violência como a única possibilidade de ganhar uma causa. No meu entendimento, devemos lutar contra os preconceitos, nos valendo do diálogo e dos argumentos e, em hipótese alguma, recorrer à violência para que as desigualdades continuem existindo.

Por outro lado, o poder da união dos jovens engrandece o humano quando, de caras pintadas com as cores de um Brasil que grita por justiça, por qualidade na educação e na saúde, que brada por um fim à corrupção, saem às ruas em paz, tendo como arma cartazes, palavras de ordem como Educação, Saúde, Segurança. São armas que poderiam ser brancas se de fato cortassem o mal pela raiz, tirando do poder essa corja corrupta que dilacera cada brasileiro, que ri de cada um de nós quando, aos nossos olhos, se dizem que estão dentro da lei ao utilizar aviões da FAB para interesses próprios. Ou então quando justificam o injustificável, no caso da falta de educação, saúde e segurança, os pilares de qualquer sociedade bem formada.

Ouçamos esses gritos: não há, em nenhum deles, algo que desonre um cidadão. São pedidos de socorro por um mundo melhor. São jovens que, conscientes de seus direitos de cidadãos, buscam pela realização dos mesmos desejos: um país menos corrupto, um país que forme pessoas e profissionais capazes de viver com dignidade. Em nenhum momento esses manifestantes pedem bolsa isso ou bolsa aquilo. Pedem decência.

Nesse movimento, o que há de baderna e violência é fruto de pessoas má intencionadas, de baderneiros que vislumbram manter no poder a sujeira e a inoperância dos mal intencionados que ali estão e que, provavelmente, custeiam suas ações violentas e inescrupulosas. Jogo sujo!

Esses jovens são os filhos dos jovens que já percorreram esse mesmo caminho, pedindo por eleições – Diretas Já -, ou pelo impeachment do então Presidente Fernando Collor de Mello.

Nossa reflexão precisa focar nos resultados. Qual o resultado das Diretas Já? Eleger quem nos representa é um ganho, não há dúvida. Porém, um povo que não recebe educação, que não tem escola é um povo que não é estimulado a pensar, a questionar, a comparar. Deu no que deu: o povo elege quem está na mídia do povo, ou seja, elege quem não tem competência parlamentar, quem está na mídia popular oferecendo agrados em forma de “bolsa de tudo um pouco”. Temos que escolher quem nos representa, mas mais do que isso,precisamos fazer chegar ao povo as informações corretas, para que possam escolher com os próprios critérios e não pelos interesses alheios.

Conseguir o impeachment foi um grande feito! Mas vê-lo senador é um tapa na cara dos que saíram às ruas por um país menos corrupto.

Então, se bradamos por Educação, Saúde e Segurança, temos que ter clareza de que o que está por trás desse clamor é um país justo, digno, de cidadãos honrados em seus direitos e cumpridores de seus deveres.

De nada adiantam mediadas paliativas. Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo não merecem que nos contentemos com o imediato. Se faltou planejamento aos jovens das Diretas Já e aos do Impeachment, que não nos falte novamente; que essa geração não pare de exigir seus direitos e de exercer suas obrigações.

Há um longo caminho a ser percorrido. Serão anos de trabalho honesto, de sabedoria parlamentar para se arrumar esse imbróglio no qual transformaram nosso país. Mas o jovem tem força. Precisa, também, perseverar e saber o que fazer com os resultados, positivos ou não, para que a Missão Maléfica que Dilma Construiu com seu antecessor e equipe, não substitua o brio dos nossos jovens que há muito lutam por um país decente.

(*) Lígia Fleury é psicopedagoga, palestrante, assessora pedagógica educacional, colunista em jornais de Santa Catarina e autora do blog educacaolharcomligiafleury.blogspot.com.