Culpa no cartório – Desde a chegada do papa Francisco ao Brasil, a presidente Dilma Rousseff tem se esforçado para ser protagonista de alguns episódios questionáveis sob a ótica da liturgia do cargo. O destempero comportamental começou logo no desembarque do papa na Base Aérea do Galeão, onde a presidente cumprimentou o pontífice de forma nada formal. O fiasco continuou no Palácio Guanabara, onde o governo do Rio de Janeiro organizou uma cerimônia oficial de boas vindas. Na ocasião, Dilma, após a execução dos Hinos de ambos os Estados, Vaticano e Brasil, beijou o líder da Igreja Católica e deu-lhe leves tapas nas costas durante abraço.
O cerimonial do Palácio do Planalto deveria ter avisado com antecedência a presidente sobre o protocolo, o que evitaria as cenas de constrangimento que envergonharam os brasileiros. O desdém em relação às regras básicas para encontros entre chefes de Estado marcou presença durante a missa celebrada pelo papa Francisco, evento para o qual o governo brasileiro convidou o presidente do Suriname, Desiré Delano Bouterse, condenado a dezesseis anos de prisão por tráfico de cocaína. O Planalto tinha conhecimento da posição crítica do papa em relação ao tráfico de drogas, mas mesmo assim manteve o convite.
Longe da Jornada Mundial da Juventude, que ocupou toda a semana que passou, a assessoria de Dilma Rousseff cometeu uma gafe no mínimo imperdoável. Preocupada em reverter os altos índices de desaprovação do seu governo, a presidente vem se expondo além do necessário. Em Belo Horizonte, ao lado de Pelé e do governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSBD), Dilma posou para uma foto em que o trio aparece segurando uma camisa do Clube Atlético Mineiro, que na última quarta-feira (24) conquistou o título da Copa Libertadores da América.
É verdade que o fato de pegar carona em eventos futebolísticos remete seu comportamento ao ex-presidente Lula, que abusava do tema em seus discursos galhofeiros, mas o episódio teria sido menos grave se a camiseta do Galo Mineiro não ostentasse o logotipo do BMG, um dos bancos do criminoso Mensalão do PT. Que Dilma queira aproveitar as coisas do futebol por causa da proximidade da Copa do Mundo é compreensível, mas esse novo constrangimento seus assessores poderiam ter evitado com excesso de facilidade. Bastava apenas acionar o motor da memória, que mesmo seletiva apontaria o BMG como o banco mensaleiro.
A partir dessa cena grotesca, que estranhamente não foi explorada pela oposição até o momento, são permitidas três conclusões: 1) Dilma Rousseff é inocente, assim como sua assessoria. 2) A presidente não se preocupa com detalhes e seus assessores conspiram nos bastidores para lhe deixar em situações difíceis. 3) Dilma é abusada e não se importa com o que pensam os brasileiros.