Cidadania – a lição que os jovens têm nos ensinado

(*) Lígia Fleury –

Vimos, nos últimos dias, jovens do país inteiro indo às ruas, reivindicando escola, saúde e segurança, o fim da corrupção. O que se pede não é nada além dos direitos do cidadão. Isso chama-se cidadania. E cidadania aprende-se em casa e na escola. Como?

As famílias precisam conversar sobre esse movimento das últimas semanas, frisando que é apenas a ponta de um novelo enorme, mas que precisa ser desenrolado e enrolado novamente, da maneira correta. Como? Com ética, sem se deixar corromper. O poder corrompe? Não generalizo; pessoas éticas não são corrompidas; pessoas que têm essência e dignidade podem assumir o poder e se manterem incólumes. São princípios que nascem na família!

As escolas não podem deixar passar essa oportunidade de aprendizagem que ultrapassou as paredes e os muros da sala de aula. Se, por um lado, a rua traz a droga, a sexualidade pervertida, os desencantos, dessa vez a rua está trazendo a melhor chance para se fazer educação. Os professores precisam discutir questões históricas, sociais, políticas, noção de grupo, de trabalho pela sociedade; precisam instigar seus alunos a pensarem como se faz história e para qual mundo querem trabalhar. É hora de tirarmos aquela frase linda do papel – que existe na quase totalidade das escolas, em seu Projeto Político Pedagógico, “desenvolver o senso crítico e o espírito de cidadania do aluno”- e colocá-la em prática. É hora de levar a rua para a sala de aula.

Os jovens são eleitores! Quem colocou no poder o cantor, o estilista, o palhaço, o ex-jogador? Eleição não é brincadeira e Brasília precisa deixar de ser uma tenda de circo, um campo de futebol, um palco, um ateliê, para virar capital do Brasil.

O Brasil, depois desse movimento todo, não pode se calar diante das aberrações que aí continuam. Vamos aceitar médicos estrangeiros? Vamos permitir que continuem as filas nos hospitais? Crianças fora da escola? Vamos deixar passar a oportunidade de refletir com crianças e jovens sobre a diferença entre lutar pela cidadania e agir como vândalos?

É grandiosa a oportunidade de refletirmos com filhos e alunos sobre o cuidado com o patrimônio público, o respeito a si próprio, ao outro, ao alheio.

É chegada a hora de planejar. Planejar o que fazer com esse barulho. É o momento de as escolas trabalharem o voto, a consciência política em cada aluno. Isso é escola. Isso é cidadania. E cidadania é Educação.

Em nossas mãos, pais e educadores, há uma oportunidade que não é a primeira, mas que precisa colocar um ponto final nessa “desgovernança”, nessa baderna, na total falta de respeito a uma nação inteira.Precisamos ser cidadãos responsáveis na formação de nossas crianças e jovens, dialogando, oferecendo leituras e argumentos para que possam criar a própria ideia; todas com ética. Não percamos essa possibilidade!

(*) Lígia Fleury é psicopedagoga, palestrante, assessora pedagógica educacional, colunista em jornais de Santa Catarina e autora do blog educacaolharcomligiafleury.blogspot.com.