O que devemos esperar do Poder Público?

(*) Fouad Mattar –

Aprendi na escola e confirmei ao longo da vida que a democracia, mesmo imperfeita, é o melhor regime político que uma nação pode ter.

Sempre acreditei que a divisão de Poderes deveria ser o principal pilar de sustentação, para que não falte respeito aos cidadãos, eleitores e contribuintes.

Contudo, infelizmente, me sinto exatamente assim: sendo cotidianamente desrespeitado pelos três poderes!!!!

Não justifica individualizar as críticas, pois a grande maioria dos homens e mulheres que fazem essas instituições está, coletivamente, dando a elas as feições ruins que têm.

O Poder Executivo com seus 39 apêndices não consegue fazer a gestão adequada do enorme volume de dinheiro que arrecada, sem dó, de toda a população, e de uma maneira ainda muito desproporcional, continua tirando mais de quem tem menos.

O Poder Legislativo transformado em balcão particular de negócios, sem dar qualquer importância às necessidades ou às opiniões de quem o elegeu, tem dado demonstrações inequívocas da sua falta de sintonia com a realidade do país.

O zelo pela saúde, pela educação e pela segurança, anseios pueris e mesmo assim, ainda os maiores da população, só são vistos quando existe a oportunidade de “participar” da distribuição das verbas destinadas a esses nobres fins.

Corporativista e insensível, esse Poder nos legou a pérola de sua índole tacanha, quando em votação covardemente secreta, manteve Deputado um criminoso julgado e condenado até a última instância.

Por fim, hoje pude constatar que também não me sinto representado pelo Poder que emana do Judiciário. Mesmo respeitando toda a sabedoria acumulada por 10 dos 11 membros dessa Corte (prometi a mim mesmo não individualizar críticas, mas tem um deles que está lá por uma aberração paneleira, e não tem predicados suficientes para vestir a toga) , me sinto muito à vontade para dizer que não é dessa Justiça que o Brasil precisa. Elitista e nada compreensível para a enorme maioria.

Debruçados sobre um emaranhado de Leis confusas, conflitantes, anacrônicas, homens que reputo serem de bem discordam da interpretação dos mesmos textos. Fruto de legislação concebida pelo Legislativo que critiquei acima, e que dispara diariamente normas em benefício próprio, interesseiras, parciais, e que acabam privilegiando um grupo muito pequeno de pessoas.
Não é assim que se faz Justiça para todos!

Estamos sem querer pagando os caríssimos honorários, que por um bom tempo ainda, receberão os advogados que continuarão defendendo nessa Corte os já condenados réus do Mensalão.
Certamente ouviremos a frase: se fez Justiça!

Só que não!

A instituição STF preferiu ouvi-la da boca de um grupo de “delinquentes que abusaram do uso de dinheiro público para fins particulares” (nas palavras registradas numa das próprias sentenças), mais seus parentes, advogados remunerados e protegidos, do que ouvi-la de milhões de pessoas, que acreditaram que a decisão tomada no final do ano passado ressuscitaria a confiança na soma dos Poderes, no Poder Público.

Decisões como esta temos que respeitar e nos resta apenas lamentar.

Se não nos imbuirmos da responsabilidade de votar em todas as eleições, e de votarmos bem, não mudaremos as feições desses mostrengos, avalizados legalmente por nós, e constituídos de forma inquestionavelmente democrática.

A democracia precisa ser cuidada e mantida para funcionar. Termos uma imprensa livre não é suficiente quando o que ela reporta não chega a mais que 15 ou 20% da população.

Se Você faz parte desse grupo e chegou até aqui nesse longo texto, acredite que pode ajudar muito dando suas opiniões (que não precisam ser iguais às minhas!!!), e simplesmente conversando sobre isso com as pessoas próximas. Com seu sócio(a), patrão ou patroa, subordinado(a) , parceiro de sinuca, vizinho(a), cabeleireira, motorista de taxi, porteiro ou zelador.

Ouvir os Filhos é também um exercício e tanto, eles têm muito a nos ensinar, e só compreenderão nossos valores e experiência, se pela mesma via entendermos seus anseios e necessidades.
Se pelo trabalho de cada um já tínhamos tarefas suficientes, aqui fica mais uma…….importantíssima……..imprescindível……

Se vamos e/ou queremos mesmo deixar um país melhor para nossos descendentes, diferente desse que nos decepciona todos os dias, com tantos exemplos de indiferença e descuido da administração pública (em todas as suas esferas, federal, estadual e municipal), representada pelos homens e mulheres que recebem dinheiro de todos nós, todos os meses, para cuidar do bem comum, precisamos nos mexer!

Exigir nas ruas e na hora de votar que nossos políticos e administradores sejam honestos e acima de tudo TRANSPARENTES!

Usamos pouco essa palavra, mas ela é a essência das nossas necessidades :

– um Poder Executivo que nos diga junto com seus ministérios o que está sendo feito com nosso dinheiro, obra por obra, programa por programa,

– um Poder Legislativo que reforme e crie as normas que regularão o respeito, os direitos e deveres de cada um, visando e oferecendo oportunidades igualitárias, como prevê a Constituição,

– um Poder Judiciário que preserve a honestidade e puna quem transgredir, com a simplicidade da educação e valores que aprendemos com nossos pais, entendendo que a grande maioria do povo brasileiro tem uma boa noção do que é certo e do que é errado, e que o bom senso não é privilégio de poucos e muito menos precisa se esconder em embargos infringentes para mascarar a impunidade de oportunistas e aproveitadores.

(*) Fouad Mattar, graduado em Economia e empresário do setor têxtil, além de reconhecido especialista em vinhos, está entre os milhões de brasileiros indignados.