Mensaleiro deveria deixar as críticas ao STF e revelar como conseguiu contratar advogado renomado

joao_paulo_05Óleo de peroba – Quem acompanhou o discurso do deputado mensaleiro João Paulo Cunha (PT-SP) no plenário da Câmara, na tarde de quarta-feira (11), não demorou a perceber que se tratava de mais um embuste com a chancela do partido responsável pelo período mais corrupto da história brasileira.

Disparando seguidas críticas ao presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, que foi acusado de conduzir de forma “seletiva” o julgamento do Mensalão do PT (Ação Penal 470), Cunha destacou sua atuação na presidência da Casa e afirmou não ter enriquecido com a política. Para dar ares de veracidade a um discurso enfadonho e cansativo, o petista disse, abusando da vitimização, que há vinte anos mora na mesma casa, localizada na periferia da cidade de Osasco, na Grande São Paulo. O detalhe da periferia foi apenas um pequeno ingrediente da ópera bufa que tomou conta do plenário. No contraponto, esse pobretão de araque lançou cem mil exemplares de uma revista que critica o julgamento da Ação Penal 470.

Arrogante e presunçoso, João Paulo Cunha não convence nem mesmo o mais incauto e bondoso monge tibetano. Quando presidiu a Câmara dos Deputados, o morador ilustre da periferia de Osasco fazia questão de circular por Brasília a bordo do veículo oficial da Casa, sempre acompanhado por uma dúzia de batedores que eram obrigados a acionar as sirenes. Esse exibicionismo é típico de personalidades histriônicas, sempre doentias, que precisam aparecer cada vez mais. Não será com esse discurso visguento que o ex-presidente da Câmara conseguirá que a parcela de bem da sociedade mude a opinião que tem a seu respeito.

Além de querer convencer a população de sua falsa inocência, Cunha mentiu por ocasião do estouro do Mensalão do PT, o maior escândalo de corrupção de toda a história verde-loura. Questionado sobre a o fato de sua mulher, Márcia Milanésia da Cunha, ter ido à agência do Banco Rural, em Brasília, onde recebeu na boca do caixa, em dinheiro vivo, R$ 50 mil, o deputado petista disse à época que foi para pagar faturas da operadora de televisão a cabo da residência oficial da presidência da Câmara. Uma mentira deslavada, porque todas as despesas da tal residência são pagas diretamente pela Câmara dos Deputados.

Como a mentira não emplacou, João Paulo Cunha arrumou uma nova e nada convincente desculpa. Disse que o dinheiro recebido (R$ 50 mil) foi usado em pesquisas de campanha na região de Osasco. Ou seja, o petista mente de forma deslavada, cada vez de um jeito, mas ousa acusar o ministro Joaquim Barbosa de conduzir seletivamente o julgamento do processo do Mensalão do PT. Sua prepotência é tão evidente, que ele chegou a profetizar que Ação Penal 470 não terminará tão cedo. “Engana-se quem pensa que (o processo) se encerrará em breve, com as prisões ou com os embargos”, disse.

Ousado e mitômano incorrigível, João Paulo avançou em sua estratégia de se fazer de vítima e acionou a pedra filosofal. “Fiz opção pelo silêncio porque aproxima a gente da gente mesmo”, afirmou. Ao que parece, essa técnica de aproximar de si mesmo falhou no caso de Cunha, que deveria rever seus equívocos, antes que mais escândalos surjam pelo caminho. Apenas para que os leitores entendam a extensão da falácia, João Paulo Cunha conseguiu a proeza de concluir a faculdade de Direito, em Osasco, ao mesmo tempo em que estava em Brasília cumprindo suas obrigações parlamentares.

Em vez de ficar vociferando sandices, o deputado mensaleiro deveria revelar que financiou a impressão de uma revista inócua e afrontosa, não sem antes informar onde encontrou dinheiro para pagar os honorários de um dos mais caros e requisitados criminalistas do País, responsável por sua defesa no Supremo Tribunal Federal.