Saindo de cena – Ronald Biggs escapou da prisão e passou décadas fugindo da Justiça britânica, tornando-se um dos mais célebres criminosos do Reino Unido. Mas agora uma vida de aventuras chegou ao fim: após vários derrames cerebrais, o mais famoso protagonista do assalto ao trem pagador, crime ocorrido em 1963, morreu em Londres nesta quarta-feira (18), aos 84 anos
Biggs passou 36 anos em fuga, a maioria dos quais no Brasil, onde teve um filho, Michael Biggs, que integrou o grupo infantil Turma do Balão Mágico. Após o roubo ao trem pagador, a maior parte dos assaltantes foi presa, incluindo Ronald Biggs. No entanto, a sua espetacular fuga da prisão londrina de Wandsworth e sua posterior viagem ao Brasil lhe garantiram celebridade.
Após voltar voluntariamente para o Reino Unido por motivos de saúde, em 2001, Biggs foi preso novamente. Em 2009, foi beneficiado por indulto humanitário em razão da saúde debilitada, ficando aos cuidados do filho, Michael, nos últimos anos. Nesta quarta-feira, Michael deixou um recado na secretária eletrônica de seu celular, dizendo que não estaria recebendo chamadas “por motivos óbvios”.
Fuga para o Rio de Janeiro
Ronald Biggs era o mais conhecido do bando de 15 assaltantes que roubou, em 8 de agosto de 1963, um trem postal que ia de Glasgow a Londres com pagamentos no valor de 2,6 milhões de libras, o que equivaleria hoje a 46 milhões de libras ou 173 milhões de reais. Pouco tempo depois, 11 dos 15 assaltantes foram presos. Biggs foi então condenado a 30 anos de prisão.
Provavelmente seu nome teria sido esquecido se ele tivesse cumprido toda a sentença, mas 15 meses depois de ser preso, Biggs escapou da prisão de Wandsworth escondido num caminhão que transportava móveis. Em Paris, submeteu-se a uma operação plástica no rosto, fugindo então para a Austrália até chegar ao Rio de Janeiro, em 1970.
No Brasil, Biggs teve um filho com uma brasileira, o que impediu a sua deportação para o Reino Unido, já que na época o país não tinha acordo de extradição com o Brasil. No Rio de Janeiro, Biggs levou uma vida relativamente calma, vivendo da venda de camisetas ou levando turistas para churrascos em seu jardim, onde narrava e se gabava do famoso roubo.
Biggs também foi um dos proprietários do clube dark-gótico carioca Crepúsculo de Cubatão e chegou a gravar a música “No one is innocent” com o grupo punk britânico Sex Pistols, em 1978.
Sem arrependimentos
Depois de décadas de exílio, Ronald Biggs voltou ao Reino Unido, em 2001, para tratar da saúde. Mal havia pisado em seu país, foi detido e encarcerado novamente. Oito anos mais tarde, foi libertado após vários acidentes cardiovasculares, mas se recuperou.
Em várias ocasiões, Biggs declarou que não estava arrependido e que até mesmo sentia orgulho do que fez. “Se querem me perguntar se me arrependo de ter sido um dos ladrões do trem, eu diria que não”, declarou por ocasião do cinquentenário do roubo ao jornal Daily Mirror. “Eu até mesmo me atreveria a ter ido mais longe. Sinto-me orgulhoso de haver participado.”
No entanto, Biggs também disse saber que, no assalto, o condutor do trem sofreu ferimentos graves, dos quais nunca se recuperou. Para o ladrão, esse foi um fato “lamentável”, mas ele também disse pensar nas famílias das pessoas que participaram do assalto, que pagaram um preço muito alto, argumentou.
Dividindo opiniões
Biggs foi visto pela última vez em público em agosto deste ano. Ele participou de uma cerimônia no cemitério londrino Highgate em memória do mentor do assalto ao trem pagador, Bruce Reynolds, que havia morrido em fevereiro deste ano, aos 81 anos de idade.
Frágil e cadeirante, Biggs já não podia mais falar após os vários derrames cerebrais. Além dele, somente três outros membros do bando ainda estavam em condições de participar da cerimônia. No total, após serem presos, os assaltantes receberam penas de mais de 300 anos de prisão.
Mas os ladrões caíram nas graças do público, que passou a ver neles uma espécie de Robin Hood. O roubo do trem pagador e a fuga de Biggs e de outros assaltantes também foram temas de vários filmes.
No entanto, essa fama também dividiu opiniões devido ao ataque ao condutor do trem. Durante o assalto, o condutor Jack Mills foi golpeado na cabeça. Ele morreu sete anos mais tarde, possivelmente em decorrência dos ferimentos sofridos durante o roubo. (Com agências internacionais)