John Kerry segue em sua desafiadora empreitada no Oriente Médio

(Foto: Brendan Smialowski - AFP)
(Foto: Brendan Smialowski – AFP)
Parada dura – Desde que assumiu a chefia da diplomacia americana, em fevereiro do ano passado, John Kerry já visitou dez vezes o Oriente Médio. Para ele, não é mistério que o caminho da paz na região é tortuoso – e que, como aconteceu com a maioria de seus antecessores, costuma levar a lugar nenhum.

Ao desembarcar na quinta-feira (2) em Israel, Kerry teve uma amostra do que o espera mais uma vez. Logo ao chegar, afirmou que sua missão “não é impossível”. Mas do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, com quem se reuniu em Jerusalém, ouviu uma declaração reticente.

“Sei que o senhor está comprometido com a paz. Sei que eu estou comprometido com a paz, mas, lamentavelmente, e a julgar pelos atos e declarações dos líderes palestinos, há uma crescente dúvida em Israel sobre se eles estão comprometidos também com a paz”, afirmou Netanyahu.

Desafio pessoal

Kerry só deve voltar aos Estados Unidos no domingo. Na bagagem, leva uma proposta que inclui todos os principais pontos polarizadores entre israelenses e palestinos: delimitação de fronteiras, mecanismos de segurança, a divisão de Jerusalém e o futuro dos refugiados.

O processo de paz no Oriente Médio já é tido como uma cruzada quase pessoal do secretário de Estado americano – e que ele quer completar com sucesso antes do fim do segundo mandato de Barack Obama à frente da Casa Branca.

“Logo chegará o momento em que os líderes [palestino e israelense] deverão tomar decisões”, afirmou Kerry. “Pretendo trabalhar intensamente com os dois lados nos próximos dias, para diminuir as diferenças, o que levará a linhas básicas para negociações permanentes.”

Segundo fontes da diplomacia americana, o veterano político, de 70 anos, tenta convencer Israel a reconhecer um Estado palestino que tenha as fronteiras como antes da Guerra de 1967, com leves modificações. Os palestinos, por sua vez, deverão admitir a existência de um Estado judeu com direito a defender seu território, além de declararem o fim definitivo do conflito.

Nos 11 meses à frente da Secretaria de Estado, Kerry já teve algumas conquistas. O governo israelense está liberando, aos poucos, mais de cem presos palestinos, em sua maioria condenados por atentados realizados antes dos acordos de Oslo, mediados em 1993 por Bill Clinton. A Autoridade Nacional Palestina (ANP), por sua vez, se comprometeu a não comparecer sozinha a instituições internacionais até 29 de abril, quando se encerra o prazo para início oficial das negociações.

Presos e colônias

Nesta sexta-feira, Kerry vai se reunir em Ramallah com o presidente da ANP, Mahmud Abbas, principal alvo das recentes críticas de Netanyahu.

“Na terça-feira, em Ramallah, Abbas abraçou terroristas como se fossem heróis. É um escândalo bajular assassinos de mulheres, crianças e inocentes, e ainda chamá-los de heróis”, disse o premiê israelense, em referência aos presos palestinos libertados nos últimos dias.

Em outro exemplo das dificuldades que Kerry enfrenta, o ministro israelense do Interior, Gideon Saar, reivindicou nesta quinta-feira, à frente de uma delegação de 15 parlamentares, a soberania de Israel sobre o Vale do Jordão.

Com a mediação de Kerry, israelenses e palestinos negociam neste momento os mecanismos de segurança nesse vale fronteiriço com a Jordânia, que aparentemente incluem uma redução da presença militar israelense. (Com agências internacionais)