Segundo o presidente iraniano, o Irã está negociando com os Estados Unidos como parte de um “engajamento construtivo” com a comunidade internacional e está buscando ações de Washington que respaldem tais palavras. Rohani disse também em Davos que as relações com a Europa serão normalizadas no decorrer da implementação do acordo interino em torno do programa nuclear iraniano.
Nesta semana entrou em vigor um acordo com validade de seis meses entre o Irã e o grupo 5+1 (as cinco potências com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha) que restringe o programa nuclear iraniano. Em contrapartida, parte das sanções econômicas a Teerã começou a ser suspensa a partir desta segunda-feira.
Rohani reiterou que o país não está interessado em obter armas nucleares. “Eu determinada e claramente afirmo que armas nucleares não têm lugar na nossa estratégia de segurança e que o Irã não tem motivos para seguir nessa direção”, afirmou.
Eleições como solução para a Síria
A Síria foi outro tema abordado por Rohani em seu discurso no Fórum Econômico de Davos. Por objeção dos Estados Unidos e da oposição síria, o Irã foi impedido de participar de uma conferência internacional sobre a Síria que acontece esta semana em Montreux e Genebra, na Suíça. Os EUA e a oposição foram contra a presença do Irã por causa do apoio do país ao regime de Bashar al-Assad.
Descrevendo o conflito que vem assolando a Síria há quase três anos como “uma catástrofe de ordem maior”, Rohani disse que o Irã está profundamente preocupado com o influxo de combatentes estrangeiros, que ele descreveu como “terroristas”.
“Milhões de pessoas foram mortas, mutiladas ou perderam suas casas – é uma situação miserável e muito ruim.” Depois que os “terroristas” tiverem deixado a Síria, disse Rohani no Fórum Econômico Mundial, “teremos que abrir caminho para que a oposição se sente à mesa de negociações com o governo”.
Segundo o presidente iraniano, a melhor solução para a Síria seria a realização de eleições livres e democráticas e que todos deveriam aceitar os resultados. Rohani afirmou que nenhum partido ou poder externo deve decidir em nome do povo sírio ou em nome da Síria. O chefe de Estado iraniano defendeu que os combatentes estrangeiros que apoiam os rebeldes sírios devam deixar o país para que eleições e negociações entre a oposição e o governo possam acontecer.
Turbinar a indústria petrolífera
À margem do Fórum Econômico Mundial, o Irã também se esforça pela revitalização de sua indústria petrolífera. De acordo com participantes do encontro, Rohani e o ministro iraniano do Petróleo, Bijan Zanganeh, disseram em encontro com empresas petrolíferas estrangeiras que pretendem definir um novo modelo de investimentos até setembro.
Três executivos, que participaram do encontro e preferiram ficar no anonimato, afirmaram à agência de notícias Reuters que os políticos iranianos sublinharam a importância dos combustíveis fósseis em meio ao crescimento da demanda energética global. “Foi uma apresentação impressionante”, disse um dos executivos.
Após o acordo interino, o Irã aposta numa suspensão completa das sanções ao país e, com a ajuda dos investidores estrangeiros, espera impulsionar novamente sua indústria petrolífera. Devido às sanções, a produção de petróleo foi reduzida e muitas instalações se tornaram antiquadas. Além disso, novos poços de petróleo e gás devem ser prospectados.
Questão nuclear no foco
Apesar da política de aproximação com o Ocidente do presidente iraniano, forças reformistas no Irã acreditam que o curso de distensão de Rohani poderá dificultar os progressos rumo à democracia e uma melhora da situação de direitos humanos no país.
Embora Rohani possa propagar a suspensão das sanções internacionais ao Irã como um êxito de sua política externa, para o acordo interino com o Ocidente ele teve de enfrentar a resistência dos conservadores iranianos liderados pelo líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei.
Os reformistas afirmam que a anuência de Khamenei ao acordo com o Ocidente custou a Rohani todo o seu capital político, e que ele não tem mais cartas para outras reformas. “Khamenei deu carta-branca a Rohani somente em relação à questão nuclear e nada mais”, disse um ex-funcionário de alto escalão do governo iraniano. (Com agências internacionais)