Ainda na dianteira – Quando, há exatos dez anos, o Facebook nasceu, os brasileiros já tinham sua rede social – e praticamente a dominavam. E demorou até que a criação de Mark Zuckerberg suplantasse o Orkut, numa pequena batalha por usuários, rica em polêmicas, que refletiu divisões sociais e hábitos do país.
Início de 2012. O Orkut havia acabado de ser ultrapassado pelo Facebook em número de usuários no Brasil, quando uma mensagem falsa, atribuída a Zuckerberg, acusava os brasileiros de estarem estragando sua rede social.
No texto, que logo se tornou viral, o falso Zuckeberg afirmava que os brasileiros não sabiam se comportar na internet e, assim como faziam no Orkut, estavam enchendo sua rede com recados coletivos e spams. A polêmica exemplifica a distinção que existia na época entre os usuários das redes sociais – e um pouco de preconceito.
“O grande site de redes sociais que tínhamos no Brasil era o Orkut. Quando o Facebook entrou com uma nova proposta, ele agregou um grupo que é reconhecido como uma elite socioeconômica e durante um tempo houve uma espécie de distinção, como se as classes mais baixas estivessem no Orkut e as mais altas, no Facebook”, afirma Vinícius Andrade Pereira, professor de comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Segundo ele, a distinção está relacionada à história do Facebook no mundo. Muito presente nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, o site atraiu primeiramente brasileiros que tinham amigos em outros países – logo a parcela mais elitizada da população. E a experiência dos brasileiros no Orkut acabou, de tabela, facilitando a transição de uma rede social para outra.
“Eles se viam obrigados a ter um perfil nessa rede para poder se relacionar com esses amigos. Assim, o Facebook é ajudado com essa história singular, mas, mais do que isso, ele ganhou essa popularidade também porque já tínhamos na cultura brasileira uma experiência anterior forte com o Orkut”, diz Pereira.
Democratização da rede
A migração em massa dos brasileiros para o Facebook se tornou logo irrefreável. E o site acabou sendo o grande vencedor da batalha entre as redes sociais. Em 2008, foi lançada sua versão em português. No ano seguinte, apenas 1,3 milhão de brasileiros estavam cadastrados nessa rede.
Mas, no fim de 2011, a empresa se tornou a maior rede social presente no território brasileiro, com mais de 30 milhões de usuários, deixando para trás o Orkut, então com cerca de 29 milhões. Atualmente, mais de 76 milhões de pessoas de todas as faixas etárias acessam o Facebook no Brasil.
“Em três anos o Orkut perdeu mais de 95% dos acessos que costumava ter no Brasil. Há um ano, por exemplo, contava com apenas 2% do público de redes sociais brasileiras, enquanto o Facebook superava 66%”, conta Maria Paula Sibilia, professora de comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF). Hoje há cerca de 6 milhões de brasileiros no Orkut.
Além de desbancar a concorrência, o Facebook bateu recordes no país. Em 2012, o Brasil foi onde a rede mais cresceu em número de usuários. Segundo a consultoria SocialBaker, naquele ano o Brasil era o terceiro país com o maior número de pessoas registradas, atrás de EUA e Índia. Não há ainda estudo consolidado sobre 2013, mas dados preliminares apontam a manutenção das três primeiras posições do ranking.
Compartilhar a vida
A inovação no design e a facilidade de usar as suas ferramentas foram essenciais para o sucesso do site. Com um visual mais dinâmico e moderno, além de possuir uma versão para smartphones, o Facebook conseguiu roubar a comunidade do Orkut e atrair usuários de todas as idades, inclusive de gerações que descobriram a internet nos últimos anos.
Esse espaço que possibilitou novas formas de expressão, além da comunicação rápida e ampla entre seus integrantes, acabou se tornando fundamental no cotidiano de muitos usuários. Para alguns, o site é quase um diário aberto de suas vidas.
“O brasileiro adora essa exposição pública da vida privada na timeline da rede social”, conta Pollyana Ferrari Teixeira, professora de comunicação da PUC- SP. Para a especialista, o brasileiro possui verdadeira adoração em compartilhar indignações, sonhos, protestos e informações. “E o Facebook ajudou a popularizar esse hábito”, completa.
Em 2012, os brasileiros foram o público mais ativo do site, responsáveis pelo maior número de publicações, segundo a SocialBaker. Eles postam quase de tudo: textos, fotos, vídeos, músicas, artigos de jornais. A família, assim como na sociedade em geral, é um tema central. Uma pesquisa da AVG mostrou que, no Brasil, 94% dos pais publicam fotos de seus filhos no Facebook.
Na rede, outro motivo de orgulhos dos brasileiros são as viagens. Os aeroportos do país são os lugares preferidos de marcação. Além disso, uma pesquisa da E.life apontou que 98% dos entrevistados no Brasil destinam às redes sociais a maior parte do tempo em que ficam na internet.
Futuro incerto
Mas nem tudo é perfeito no Facebook. Com a expansão da empresa, mudanças de ordem econômica estão alterando, aos poucos, o perfil da rede social. Nos últimos anos, além de informações de amigos, os usuários passaram a ser bombardeados com propagandas. O fluxo das postagens também começou a ser controlado e, para uma mensagem atingir mais usuários, é preciso pagar.
Além disso, o site também é acusado de armazenar informações sobre seus usuários e de não garantir a privacidade ao repassar dados para a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA).
“Estamos falando de uma ideia de liberdade de comunicação em múltiplos canais de maneira livre, democrática e gratuita. Se esses princípios que regiam a expressão nas redes sociais estão sendo abalados por interesses econômicos e eventualmente políticos, é possível que isso comece a minar o Facebook, que já começa a experimentar algumas turbulências”, opina Pereira.
Nesse espaço onde a comunicação é rápida e as mudanças são aceleradas é difícil prever como serão os próximos dez anos do Facebook no Brasil e no mundo. Para especialistas, a hegemonia da rede não está garantida. Segundo Teixeira, nos últimos anos várias redes sociais nasceram e morrem, e o destino do Facebook pode estar ameaçado por um concorrente já existente, o Google Plus. (Deutsche Welle)