Me engana que eu gosto

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_09A CPI da Petrobras está aprovada, por decisão liminar do Supremo; começar a trabalhar é outra coisa. Os partidos têm de indicar seus representantes, e é muito possível que os governistas adiem ao máximo as indicações. Isso obrigará a oposição a recorrer de novo ao Supremo, para que determine a imediata escolha dos membros da CPI. Mas estamos em 27 de abril. Há um feriadão no caminho. Não é preciso segurar muito: em 12 de junho começa a Copa. Mesmo que a CPI trabalhe, a repercussão será pequena. E depois da Copa começa a campanha.

Pode dar samba? Até pode; há tanto escândalo – o que inclui a informalíssima retirada de um cheque de US$ 10 milhões do caixa da Petrobras, sem autorização escrita – que talvez as barreiras sejam rompidas. Um dia, talvez, quem sabe.

O PT reclama do veto judicial à CPI ampliada, que investigaria também o cartel do Metrô e trens urbanos em São Paulo – cartel iniciado no Governo Covas, no começo da dinastia do PSDB. O PT reclama de barriga cheia, só para efeito público: a CPI ampliada é ilegal, mas criar outra CPI para o cartel que envolve o tucanato paulista é absolutamente legal. Com maioria no Congresso, os governistas só não abrirão a nova CPI se não quiserem – e talvez não queiram, porque as empresas acusadas de cartel em São Paulo fizeram e fazem obras em todo o país, em governos de vários partidos.

Mas seria ótimo que a CPI do cartel fosse formada para valer. Não dá para acreditar que um único integrante do Governo Covas comesse sozinho todo o butim. Quem mais do Governo esteve na comilança?

Engane-me, eu gosto

O deputado goiano Carlos Alberto Lereia, do PSDB, amigo de fé e irmão camarada do bicheiro Carlinhos Cachoeira – tão próximo que Cachoeira lhe forneceu a senha de seu cartão de crédito – teve o mandato suspenso por 90 dias, por conduta inconveniente. Foi condenado por impressionante maioria: 353 a 26.

Na prática, Lereia perde oito dias de trabalho em maio (dois por semana, quarta e quinta), e três em junho (aí começa a Copa). Em julho há recesso. Em agosto o nobre parlamentar reassume suas funções. É campanha; o Congresso funcionará duas semanas, no total, em agosto e setembro. Lereia receberá por 60 dias e trabalhará quatro, se não faltar.

É o último sofrimento de sua punição.

Ludibrie-me, aprecio

O ex-presidente Lula disse que está “por fora” do caso de Pasadena. É evidente que Lula não sabia de nada. O negócio foi feito quando ele era presidente da República. A Petrobras, maior estatal do país, era dirigida por Sérgio Gabrielli, seu homem de confiança. A atual presidente da Petrobras, Graça Foster, era diretora de Gás e participante da reunião que decidiu a compra da Refinaria de Pasadena. A presidente do Conselho era a ministra Dilma Rousseff, tão próxima a Lula que ele a indicou para sucedê-lo na Presidência.

Não podia saber, mesmo!

Me iluda que amo

Já que o deputado André Vargas, do PT paranaense, não quer renunciar ao mandato, o PT ameaça expulsá-lo. Onde já se viu manter no partido um político amigo de um doleiro? É comovente tamanha preocupação ética. De acordo com o artigo 231 do Estatuto do PT, deve ser expulso o condenado por crime infamante ou práticas administrativas ilícitas, com sentença transitada em julgado.

Delúbio, José Dirceu e Genoíno, presos, com sentença transitada em julgado, continuam no partido. E Vargas, que nem a processo responde, seria expulso?

Amo quem me ilude

A promotora Márcia Milhomens Correa, que pediu à Justiça que grampeasse telefones de uma certa região, sem especificar que nela ficam o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, explicou-se: precisava “apurar denúncias trazidas ao Ministério Público em caráter informal”, feitas por informantes que preferiram manter-se anônimos. Não se sabe quem denunciou, nem o que, quando ou como. E se pede para grampear todo mundo. Pois é.

Gosto que me enrosco

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, Anfavea, procurou o Governo, buscando mais incentivos. A situação é difícil: com a queda do mercado, as fábricas pararam de comprar e muitas empresas de autopeças do ABC paulista deram férias coletivas. Mas, explicou o presidente da Anfavea, Luiz Moan, a preocupação da entidade, que a leva a buscar maneiras criativas de ordenhar o Tesouro para elevar o consumo, é com o desemprego.

Então, tá.

Tudo resolvido

Associações patronais e sindicatos de trabalhadores podem ficar tranquilos. Já, já, sai uma nova pesquisa do IPEA mostrando que não há nenhum problema.

Pode ser

Apesar dos esforços para manter em banho-maria a CPI da Petrobras, apesar da má vontade em criar a CPI do Metrô, pode ser que algo resulte dessas iniciativas. Divergências internas nos partidos talvez levem a boas revelações. O ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, exigiu que Dilma “assuma suas responsabilidades”. O ex-diretor Cerveró contemporiza, mas a oposição tenta convencê-lo a falar. E a Alstom, que pode ser vendida à GE, manterá seus segredos?

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.