Vedetes da bola e chuteiras de salto alto

(*) Ucho Haddad –

futebol_feminino_02Muita gente não consegue compreender as razões que me levam a torcer contra a seleção brasileira. Como o meu patriotismo não hiberna durante quatro anos e desperta para ficar acordado apenas um mês, continuo insistindo em defender o Brasil muito além das linhas brancas que delimitam os gramados futebolísticos. O que se viu na Arena Castelão, na capital cearense, foi no mínimo um desrespeito aos que colocaram a mão no bolso na esperança de presenciar uma goleada dos brasileiros sobre a seleção nacional do México.

Histriônicos, Neymar e Daniel Alves pintaram o cabelo acreditando que seriam protagonistas de um baile de gala em Fortaleza. Os mexicanos, como mariachis da bola, tiraram os brasileiros pra dançar e por pouco não quebraram o salto alto verde-louro. Era o que mereciam as vedetes da seleção canarinho que de novo apostaram na repetição de uma manchete galhofeira construída para denegrir o futebol mexicano: “Jogamos como nunca, perdemos como sempre”. Na verdade, os mexicanos jogaram como nunca e mostraram ao mundo que os brasileiros da seleção estão longe de ser invencíveis. Pelo contrário, são presas fáceis. Que o digam Ochoa, Guardado, Giovani dos Santos, Peralta e Ciciarito Hernandes.

Veículos de comunicação e profissionais da imprensa tupiniquim insistiram em vociferar estatísticas, todas contra os mexicanos, como se o futebol fosse uma ciência exata. Deram-se mal, porque os números falharam desta vez, como é normal acontecer. Até porque, futebol é bola na rede, não levantamento, cruzamento e análise de dados. Espertos, os mexicanos, sempre uníssonos, disseram antes da partida que favoritos eram os incompetentes comandados por Luiz Felipe Scolari, que agora discorrerá sua conhecida enxurrada de desculpas.

Em vez de despejar sobre o torcedor nacional estatísticas sobre os confrontos entre brasileiros e mexicanos, a imprensa deveria contratar algum especialista para interpretar as expressões faciais de Scolari à beira do campo. No mínimo seria confirmado que o técnico não apenas desgostou do que fizeram seus comandados, mas que não sabe colocar ordem na casa. Considerando que no campo de batalha todo soldado cumpre as ordens do comandante, há algo de errado na seleção que vem sendo incensada como uma das favoritas para levantar o caneco. Se isso acontecer, ficará provado que Deus é brasileiro e nada entende de futebol.

Sou do tempo em que o futebol era um esporte de gente corajosa e números financeiros magros, quase anoréxicos. Nos dias atuais, tudo no futebol tem o tilintar da caixa registradora. Até o reatamento do namoro de um suposto craque é planejado de acordo com os interesses dos seus patrocinadores. Mesmo assim, os estádios continuam cheios, pois o povo brasileiro parece que não mais consegue viver sem o moto contínuo da enganação. A política dessa barafunda chamada Brasil é o melhor espelho dessa realidade, triste e dura.

Em relação à gente corajosa, sou do tempo em que o futebol era um esporte cujos atletas não tinham medo da bola. Considerado o zagueiro mais caro da história do esporte bretão, pelo menos até agora, David Luiz parece ter medo da bola. Em mais de uma ocasião, durante a partida contra os mexicanos, o Sansão da zaga brasileira tirou o corpo para não ser atingido pela bola chutada por um mexicano.

Se o empresário catariano Nasser Al-Ghanim Khelaïfi, controlador do Paris Saint-Germain e que desembolsou R$ 186 milhões para tirar David Luiz do Chelsea, acompanhou atentamente a partida entre brasileiros e mexicanos, a essa altura por certo está arrependido. Foi dormir de cabeça quente e refazendo contas.

Alguém há de dizer que na seleção os jogadores estão a defender a pátria e não recebem por isso (continuem acreditando nisso), mas a defesa que faço diuturnamente do Brasil passa a anos-luz da “covardia” de David Luiz diante da bola e da soberba desmedida de Neymar. Que não surjam os oportunistas de plantão para acusar-me de ser contra o Brasil, pois durmo pensando na terra natal e acordo sempre disposto a defendê-la cada vez mais.

Como já assumi publicamente – e disso não me arrependo –, não sou dado a ufanismos, muito menos aos quadrienais, e por isso torço contra seleção, apenas porque penso e ajo ininterruptamente a favor do Brasil. Sendo assim, o bailão mexicano me agradou sobremaneira, pois quanto antes terminar a Copa, melhor. A minha preocupação é com o povo que adora ser enganado, mas que em dado momento, em outros campos, poderá ser chamado para reagir. E então, como será? Se deixará levar por mais uma enganação.

(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.

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