Requião ataca jornalista para defender dono de pedágio; PT destaca desequilíbrio do senador

roberto_requiao_26Camisa de força – Roberto Requião foi eleito governador do Paraná em duas ocasiões (2002 e 2006) sob a promessa de acabar com os pedágios ou reduzir as tarifas. Mas nada do que foi prometido aconteceu: os pedágios continuam existindo e as tarifas estão nas alturas. Mesmo assim, Requião, que na folclórica Boca Maldita, em Curitiba, é conhecido como “Maria Louca”, acabou tornando-se fã incondicional dos concessionários de rodovias.

Já em campanha na tentativa de voltar ao Palácio Iguaçu, Requião tem em sua chapa, como candidato ao Senado, Marcelo Almeida, herdeiro do grupo CR Almeida e dono dos dois pedágios mais lucrativos do Paraná (Ecovia e Ecocataratas). O senador peemedebista altera ainda mais o seu comportamento nada suave quando alguém o questiona sobre a nova ligação afetiva e política com alguém que representa tudo o que ele combatia com tanto vigor até recentemente.

Na última segunda-feira (21), quem sentiu a ira e o descontrole do senador foi uma jornalista de Irati. Ela teve a ousadia (sic) de questionar Requião sobre a contradição flagrante de sua posição em relação aos pedágios. A repórter quis saber o que significa a inclusão de Marcelo Almeida na chapa e se tal fato, eventualmente, poderia facilitar uma negociação das tarifas de pedágio que são notoriamente altas no Paraná. Na resposta, Requião levou o caso para o campo pessoal e fez insinuações sobre a família da jornalista.

Sugeriu que os pais da repórter haviam “pecado” e que ela não tinha culpa por essas transgressões. “Por que você esta incomodada com o Marcelo? o Marcelo é filho do Cecílio [Almeida, fundador da CR Almeida] que tinha pedágio. Você, por exemplo, não tem nada com os pecados do seu pai, e os prováveis pecados da sua mãe, da sua avó e da sua bisavó. O Marcelo é um político limpo, sério, e vai me ajudar no Senado a governar o Paraná”.

O constrangimento imposto à repórter foi apontado pelos partidários da candidata do PT, Gleisi Hoffmann, que distribuem o áudio da entrevista nas redes sociais, como mais uma evidência de que Requião é um político excessivamente desequilibrado para ser governador. O senador é conhecido por incidentes graves e truculentos com jornalistas. Em 2004, torceu o dedo e tirou o gravador de um jornalista que questionou-o sobre as críticas que fazia ao então presidente Lula, cujo apoio havia sido crucial para sua eleição.

Em 2011, Requião apropriou-se do gravador de um jornalista da Rádio Bandeirantes que questionou o senador sobre sua aposentadoria de ex-governador (R$ 26,5 mil). Quando tentou explicar o episódio, Requião se comparou a Jesus Cristo. “Há momentos que a indignação é uma virtude como foi a de cristo ao responder aos vendilhões do templo”. O caso da aposentadoria milionária, denunciada com frequência pelo PT, é outra contradição que enfurece o senador. Em 1990, Requião elegeu-se governador do Paraná pela primeira vez denunciando seu principal adversário, que era ex-governador, de ser um “marajá” por receber esse tipo de aposentadoria.

Para o PT, todas essas demonstrações de truculência e autoritarismo de Roberto Requião só sinalizam sua dificuldade de conviver com o contraditório. Lembram os petistas que, além de agressões verbais e físicas a representantes da imprensa, Requião frequentemente insulta jornalistas nas rede sociais. Citam como exemplo um ataque a jornalistas do jornal “O Globo” e da revista Veja, feito no Twitter em maio passado. “PQP é desabafo bem brasileiro, mostra a indignação com canalhices. Mandei um safado da Globo, mando agora o Augusto Nunes da Veja, e a Veja”, postou o senador.

Marcelo Almeida, dono de um patrimônio pessoal de R$ 740 milhões, o que o qualifica como o político mais rico do Brasil, é herdeiro do grupo CR Almeida, conglomerado que reúne mais 30 empresas e um patrimônio de quase R$ 10 bilhões. Entre as áreas de atuação estão a construção pesada, portos, logística, mineração, pedágios e concessão de estradas – como o sistema Anchieta-Imigrantes, em São Paulo, a Ecovia (Curitiba-Paranaguá) e a Ecocataratas (Cascavel-Foz do Iguaçu).

Os “pecados” do pai candidato ao Senado apoiado por Requião foram muitos, lembram os petistas ironizando a resposta do senador à jornalista. Além do grupo CR Almeida, Cecílio Almeida ficou conhecido por ter obtido ilegalmente a fazenda Curuá, na região central do Pará, com 4,8 milhões de hectares, área maior do que a Holanda. A fazenda era composta por áreas públicas, como terras indígenas e reservas ambientais. O Ministério Público Federal considerou a aquisição da fazenda a “maior grilagem do mundo” e a Justiça Federal ordenou, em 2011, que a área fosse devolvida à União.

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