Missão de Maduro no exterior não deve gerar benefícios à economia da Venezuela

nicolas_maduro_18Primo pobre – Antes de partir para a Rússia, a primeira parada da viagem, o presidente venezuelano Nicolás Maduro afirmou que a ideia é “levar uma campanha para restabelecer o mercado de energia e petróleo”. Maduro viaja acompanhado dos ministros de Relações Exteriores, Defesa, Educação, Comunicação e da Economia, além da “primeira combatente”, como é chamada na Venezuela a primeira-dama, Cília Flores.

Após visita-relâmpago à Rússia, a delegação venezuelana grupo chegou à China a convite do presidente Xi Jinping. Na agenda, a reunião dos países integrantes da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), também estão no roteiro Arábia Saudita, Irã e Argélia. A viagem foi motivada pela tentativa de dar fôlego à economia venezuelana, que está em fase crítica por causa da queda do preço do petróleo nos mercados internacionais, da alta inflação e da recessão, de acordo com números anunciados pelo Banco Central da Venezuela.

Economia refém do petróleo

Há pouco menos de um mês, Nicolás Maduro afirmou que se dedicaria exclusivamente aos problemas econômicos da Venezuela. Logo, antes de fechar o ano, disse que faria importantes anúncios econômicos, mas saiu em viagem deixando no ar uma grande interrogação. Isso se explica porque a crise que derrete a economia venezuelana é muito maior do que parece. Para manter o poder na rota do totalitarismo, Maduro tem gasto verdadeiras fortunas, sendo que é cada vez mais alto o volume de dinheiro para manter as milícias que enfrentam os dissidentes.

Grupos críticos ao governo lembram que o próprio presidente havia alertado sobre a necessidade de reduzir despesas, incluindo o corte salarial do alto escalão do governo. Embora Maduro tenha afirmado que busca uma “estratégia de recuperação por causa da queda dos preços do petróleo”, em novembro passado o então chanceler venezuelano Rafael Ramírez visitou alguns países integrantes da OPEP com este mesmo pretexto. Até hoje, o resultado formal por parte do governo venezuelano não ficou claro, mas nas entrelinhas percebe-se que foi muito aquém do esperado.

Pouca margem para ajudar a Venezuela

Maduro chegou à Rússia quando os preços do petróleo caíram ainda mais por causa de um recorde na produção petroleira daquele país. Embora sejam países amigos, a Rússia também está frágil economicamente e não fará empréstimos à Venezuela. Já a China é um grande parceiro econômico, mas não deverá conceder novos empréstimos porque já tem muitos créditos investidos no país latino-americano e sabe que as reservas internacionais da Venezuela estão em seu menor nível. Além disso, o governo de Pequim já adiantou a Caracas grandes somas em dinheiro como pagamento antecipado por aquisição de petróleo.

A Arábia Saudita se negou anteriormente a reduzir a produção petroleira e tampouco tem ambições na América Latina. O plano saudita é derrubar o preço do petróleo no mercado internacional para forçar os Estados Unidos a desistirem de explorar suas jazidas de xisto, o que deve acontecer tão cedo. O governo norte-americano está decidido a avançar na exploração de petróleo e gás a partir da fragmentação hidráulica das jazidas de xisto, enquanto Riad tem dinheiro de sobra para bancar essa estratégia de dumping no preço do produto no mercado internacional.

Já o Irã pode representar um aporte geopolítico, mas o país também está em um mau momento econômico, principalmente pelo fato de a cotação do petróleo ter despencado A Argélia é um sócio comercial contraditório, já que o país africano começou a exportar, em 2014, petróleo para a Venezuela.

Situação econômica crítica

Para os críticos, esta viagem ao exterior é vista como uma perda de tempo e dinheiro. Os mais críticos afirmam que estas são ações típicas do governo venezuelano, que busca fazer barulho para que seus seguidores interpretem como um esforço para manter o país no bom caminho.

A Venezuela precisa de cerca de US$ 25 bilhões para colocar as contas em dia, o que não significa que a crise cessará. Diante da queda do preço do petróleo, a situação tende a ficar cada vez mais crítica. Para Elie Habalian, ex-governador da Venezuela na OPEP, o país poderia aplicar regimes especiais à população, algo similar ao que fez Cuba quando perdeu o apoio da antiga União Soviética.

Maduro está com a popularidade em baixa, com uma eleição parlamentar a caminho e diante de uma situação sem precedentes na história econômica da Venezuela.

Ufanismo tirano

Nicolás Maduro culpa especialmente o “império americano” pela queda nos preços do petróleo. O aprendiz de caudilho acusa os Estados Unidos de inundarem o mercado com petróleo barato, extraído das jazidas de xisto, fazendo cair os preços da commodity.

“Eles planejaram uma guerra para destruir a Rússia e a Venezuela, para nos recolonizar, para destruir nossa independência e nossa revolução”, atacou o atual inquilino do Palácio de Miraflores em seu discurso de Ano Novo.

Entretanto, Maduro não comentou que na Venezuela, graças aos subsídios do governo, os consumidores pagam apenas dois centavos por um litro de gasolina e que a inflação de 64% é uma das mais altas do mundo, porque o país continua imprimindo dinheiro para pagar sua dívida externa.

“O discurso de Maduro é uma tentativa de criar inimigos políticos para justificar a crise econômica. É uma estratégia para se proteger das críticas”, opina o cientista político venezuelano Victor Mijares, professor da Universidade Simón Bolívar, em Caracas, e pesquisador visitante do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), em Hamburgo.

Via de regra, a esquerda sempre culpa a direita pelos seus fracassos, mas no caso da Venezuela é grande a dependência dos governantes locais em relação a ataques à Casa Branca, como se os norte-americanos não tivessem o direito de explorar as riquezas naturais do país. Maduro sabe que o agravamento da crise econômica pode desmoronar a criminosa fantasia bolivariana, pois venezuelanos hão de despertar para a realidade.

Novos protestos

A política de Maduro tem sido duramente criticada por especialistas, começando por Luis Vicente León, presidente do renomado instituto de pesquisas venezuelano Dataánalisis. “Evitar um problema, em vez de enfrentá-lo, torna a solução, que terá de ser aplicada de qualquer maneira, ainda mais cara”, escreveu o analista no Twitter, tendo recebido diversos comentários favoráveis de seus muitos seguidores.

Foi seu instituto que indicou que em dezembro apenas 24,5% dos venezuelanos apoiam seu presidente, o menor índice de aprovação de Maduro até agora. Apenas 1,9% dos entrevistados considera o desempenho do governo Maduro “muito bom”.

Diante de tal cenário, Nicholas Wenz, cientista político na Universidade de Rostock, acredita que o risco de novos protestos sociais continua elevado. E ele não é o único a apostar nessa possibilidade. Se o preço do petróleo não voltar a subir, muitos países produtores de petróleo certamente enfrentarão distúrbios, prevê o jornal britânico “The Independent”. (Com agências internacionais)

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