O jogo do perde-perde

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_16Dá para discutir por horas a imprevidência dos Governos paulistas, que não se prepararam para uma grande seca, de longa duração; e a imprevidência dos Governos federais, que não se prepararam para garantir eletricidade durante uma grande seca, de longa duração. Dá, mas no momento é inútil. O que se tem de fazer é reconhecer que o problema da energia e da seca é o mesmo, a falta dágua nas represas; juntar as autoridades dos Estados atingidos pela seca com as do Governo Federal, atingido pela falta de energia, e discutir a saída desse nó cego.

Soluções deve haver, talvez caras, talvez menos eficientes do que gostaríamos, mas possíveis. Só serão possíveis, porém, se parar a guerra imbecil cujo objetivo não é minimizar os problemas, mas botar a culpa nos adversários políticos. Como se atribuir a culpa ao PSDB reduzisse a sede dos petistas, como se atribuir a culpa ao PT oferecesse aos tucanos uma garantia de acesso à energia. Festejar a parada de uma linha do Metrô paulistano, que prejudicou milhares de clientes que têm nele seu único meio de transporte, porque isso prejudica a imagem do Governo tucano, é coisa de idiota – até porque a energia parou por ordem, ou falha, do Governo Federal, petista. E festejar eventos que prejudiquem a população já ultrapassa a imbecilidade, a idiotia: chega, sim, às raias da maluquice.

Na Inglaterra, dois adversários inconciliáveis se uniram para ganhar a Segunda Guerra. Que tucanos e petistas façam o mesmo. E deixem a briga para quando a água estiver jorrando e o ar condicionado funcionando com tranquilidade.

Música é cultura

Na frase que não foi dita pelo esplêndido Jorge Ben, “moramos/ num país tropical/ abençoado por Deus/ e governado pelo Governo”.

Bamboleio, que faz gingar

Como o Caapora, a Mula Sem Cabeça, o Saci-Pererê, o boitatá e o boi voador, que só existem no Brasil, temos aqui mais um fenômeno típico: a BR, Petrobras Distribuidora, empresa pertencente ao Estado, está proibida de fazer contratos com o Estado. É decisão judicial de segunda instância, mas ainda cabe recurso.

A Petrobras Distribuidora, subsidiária da Petrobras e dona dos Postos BR, a maior rede de distribuição de combustíveis do país, foi condenada por irregularidades na obtenção de permissões para instalar postos de gasolina em terrenos da Prefeitura carioca – na definição legal, improbidade administrativa. Em termos simples, em novas áreas reurbanizadas pela Prefeitura do Rio os postos foram entregues sem licitação à BR, que ali opera sem concorrentes. Por que? Bom, as más línguas devem ter o que dizer, mas oficialmente porque a BR “é nossa”.

A pena é maior do que não poder contratar com o Poder Público, seu proprietário. A BR pode ter que devolver 47 terrenos, com postos, à Prefeitura.

O vai-não-vem

Já está pronto o balanço da Saída Temporária de Presos do Fim de Ano: mais de dois mil presos simplesmente não apareceram. É pouco menos de 5% do total – uma porcentagem que não chega a ser enorme, mas dois mil condenados a mais circulando livremente, sem meios lícitos de sustento, é muita gente. Aliás, isso ocorre todos os anos, em todas as saídas temporárias.

Mas, como dizia a campanha publicitária lançada pela Associação Brasileira de Anunciantes, com apoio do então presidente Lula, “Eu sou brasileiro e não desisto nunca”.

A palavra de quem sabe

O político baiano Octavio Mangabeira criou há mais de 60 anos uma frase famosa: “Pense num absurdo. Na Bahia tem precedente”. No Brasil também.

Gerenta experienta

Dilma Rousseff foi secretária de Minas, Energia e Comunicações do Rio Grande do Sul de 1993 a 1994, e de 1999 a 2002. Foi ministra de Minas e Energia de 2003 a 2005. Presidiu o Conselho de Administração da Petrobras de 2003 a 2010. Desde então é presidente da República e escolhe o comando da área.

Dilma Rousseff disse que havia criado uma nova matriz econômica, deu conselhos à primeira-ministra alemã Angela Merkel, disse que não cortaria benefícios de jeito nenhum (“nem que a vaca tussa”), que não promoveria tarifaços. Aí se elegeu. Aumentou impostos, reduziu benefícios, promoveu o tarifaço.

Dilma decidiu ir à terceira posse consecutiva de Evo Morales na Presidência da Bolívia, e para isso desistiu de ir a Davos – onde se discutem as tendências da economia mundial e estão todos os líderes internacionais.

Dilma fez muito bem.

Um tiro na História

O promotor argentino Alberto Nisman, que investigava os dois atentados a bomba que mataram 114 pessoas e feriram 500 em Buenos Aires, estava pronto para provar o acobertamento, pelo Governo, de agentes iranianos que acusava dos crimes. Morreu antes – um estranho suicídio a bala, sem que tivesse nas mãos qualquer vestígio de pólvora. As denúncias de Nisman já tinham levado a Interpol a pedir a prisão de altos dirigentes iranianos, para responder pelos atentados contra a Embaixada de Israel e uma associação cultural, a AMIA.

Morreu na véspera de mostrar as provas de que a presidente Cristina Kirchner e o chanceler Hector Timmerman haviam trocado petróleo iraniano pela impunidade.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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