Saia justa – Continua a tensão em torno do plano de ajuda à Grécia. Nesta terça-feira (17), uma fonte do governo grego afirmou que Atenas não aceitará um ultimato da União Europeia, que tenta forçá-la a manter o programa de austeridade. O governo grego estaria “determinado a honrar o mandato popular e a história da democracia na Europa”, priorizando o combate à crise humanitária que deriva da crise financeira e não o contrário.
Na segunda-feira (16), o ultimato, que obriga os gregos a aceitar até sexta-feira a continuidade do chamado programa de ajuda da UE, pôs um fim abrupto à reunião dos ministros das Finanças da zona do euro. Para o secretário de Estado da Grécia para as questões europeias, Nikos Chuntis, ultimato, que ele chama de “chantagem”, é inaceitável.
“O atual plano de ajuda provocou uma crise humanitária e conduziu a economia a um impasse absoluto”, afirma a fonte governamental. “São o resultado das eleições de 25 de janeiro (que elegeu o partido de extrema-esquerda Syriza, contrário à austeridade) e o senso comum que impõem o fim deste programa”.
Em contrapartida, Atenas defende um texto que considera mais justo, que limita o impacto humano da crise, reduz os juros da dívida e muda o sistema de impostos. “Esses pontos são as bases para uma extensão da ajuda atual, que poderia assumir a forma de um programa intermediário de quatro meses. Essa seria uma fase transitória em direção a um acordo que conduzirá ao crescimento na Grécia”.
Não à Grécia
Mas o eurogrupo diz não, em uníssono. Na terça-feira, o comissário europeu dos Assuntos Econômicos, Pierre Moscovici, afirmou que “não existe plano B” para Grécia, desmentindo uma informação divulgada ontem pelos gregos. Moscovici teria apresentado um plano que Atenas estava propensa a aceitar. Mas este documento teria sido descartado pelos europeus, o que ele negou nesta terça.
“Não tem o ‘bom policial’ e o ‘mau policial'”, disse o comissário. “Não tem um documento ou outro. O que existem são contribuições que visam um acordo global”, afirmou. A porta-voz da Comissão Europeia Margaritis Schinas foi na mesma linha: “O plano A é um acordo na sexta-feira (que prolongaria o programa de ajuda à Grécia). É preciso passar da ideologia para a lógica”, alfinetou, garantindo que a Comissão tentará agir como um facilitador na busca por um acordo.
Para o ministro francês das Finanças, Michel Sapin, “o único cenário que nos permitiria ganhar um pouco de tempo, calma e tranquilidade, é o prolongamento do programa precedente. É um trabalho intenso que devemos desempenhar nas poucas horas que nos restam”. Para ele, a extensão do programa traria a “flexibilidade inerente às regras”.
Contágio grego
O impasse coloca em risco a própria permanência da Grécia na zona do euro, o que já suscita o medo de um “contágio”. Na saída de um conselho de ministros em Viena, o chanceler austríaco Werner Faymann pediu que a Grécia “não brinque” com o risco de sair da zona do euro.
O social-democrata disse que luta para que a União Europeia “faça um gesto em direção aos gregos. Mas eles têm de pedir isso”. De acordo com ele, “ir um em direção ao outro não significa que um deva ficar parado enquanto o outro caminha em sua direção”.
A bola da vez
“A bola está no campo dos gregos”, afirmou o ministro espanhol da Economia, Luis de Guindos. “O que o governo grego deve fazer é expor claramente seu plano, mostrar o que está disposto a sacrificar, sabendo que existem linhas intransponíveis. A dívida deve ser paga integralmente”.
Para o holandês Jeroen Dijsselbloem, a Europa não pode “forçar nem implorar” para que os gregos deem continuidade ao atual programa de austeridade. “O único cenário positivo é que a Grécia permaneça na zona do euro. E, para isso, dissemos ao governo grego que ele deve encaminhar um pedido de prolongamento do programa”, reiterou Pierre Moscovici.
As esperanças com relação a um acordo são moderadas, dos dois lados. Para Yanis Varufakis, ministro grego das Finanças, agora é a hora da responsabilidade. “Vamos continuar as deliberações a fim de melhorar as chances de finalmente chegarmos a um resultado que seja bom para os cidadãos europeus”, afirmou antes de uma reunião com seus colegas das Finanças europeias. (Com RFI)