Ao culpar Dilma por operação da PF na empresa do filho; Lula dá a entender que é o dono do Brasil

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Completando 70 anos nesta terça-feira (27), o ex-presidente Luiz Inácio da Silva não esconde a mágoa com sua sucessora, Dilma Rousseff, a quem responsabilizou pela operação de busca e apreensão feita pela Polícia Federal na empresa LFT Marketing Esportivo, pertencente a seu filho Luís Cláudio.

Em conversa com pelo menos três amigos, recentemente, em momentos distintos, Lula se queixou de Dilma e disse que a situação “passou dos limites”. De acordo com o ex-metalúrgico, Dilma só ouve o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, que “quer apenas aparecer”, e não entende que, em nome do combate à corrupção, pode destruir o projeto político do seu partido, o PT.

Contudo, o Instituto Lula divulgou nota na segunda-feira afirmando que “não têm qualquer fundamento” as informações de que o ex-presidente responsabilizava Dilma, como também havia divulgado o site do jornal “Folha de S. Paulo”.

Na próxima quinta-feira, a “estrela” petista estará em Brasília para participar da reunião do Diretório Nacional do partido, ocasião em que pregará forte reação do PT ao que chama de “ofensiva” orquestrada para destruir a legenda e o seu legado.

Além de Luís Cláudio, o presidente do Sesi, Gilberto Carvalho – chefe de gabinete de Lula de 2003 a 2010 e ministro da Secretaria-Geral da Presidência no primeiro mandato de Dilma – também foi citado no relatório da Operação Zelotes. Carvalho, braço direito de Lula, prestou depoimento na segunda-feira, espontaneamente, no inquérito que investiga a denúncia de compra de medidas provisórias para favorecer o setor automotivo.

Um dos amigos que conversaram com Lula revelou que ele estava “furioso” e chegou a chamar o esquema de delação premiada de “mentirão” premiado. O ex-presidente ainda afirmou que o governo Dilma “perdeu o controle” das investigações e que ilações são vazadas, sem qualquer prova, para enfraquecê-lo politicamente e impedir uma nova candidatura dele, em 2018.

Na avaliação do petista, a Polícia Federal está cometendo “abusos”, com desrespeito à Constituição e vazamentos seletivos, sem que os acusados possam ter acesso às acusações para se defender.

“A gente não pode permitir que ladrões queiram pôr na nossa testa o carimbo da corrupção”, bradou.

De acordo com esses amigos, Lula está abatido, e ressaltou não querer impedir nenhum inquérito. Ele ainda lembrou que, em 2007, até seu irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, foi investigado pela Polícia Federal na Operação Xeque Mate. Entretanto, afirmou que, à época, não havia uma “perseguição” contra ele nem contra o PT.

O ex-presidente disse ter perdido até mesmo o ânimo para comemorar o seu aniversário. Apesar disso, o Instituto Lula não perdeu a oportunidade de levantar a moral de Lula, organizando para tal uma reunião para lembrar a data, encontro que contará com a participação de Dilma.

Inclusive, os amigos queriam promover uma festa para Lula, na quinta-feira, no restaurante São Judas, em São Bernardo do Campo, conhecido pela especialidade do “frango com polenta” e onde foram realizadas muitas reuniões do PT, nos anos 80. Na semana passada, porém, o ex-presidente já havia pedido para cancelar a reunião.

Aliás, Lula culpa Dilma não só pela situação de seu filho, mas também pela crise que assola o Brasil, a sua própria situação (de rejeição perante o eleitor brasileiro), e a situação do Partido dos Trabalhadores. Para o ex-presidente, ele foi traído pela sua sucessora, sem levar em conta que ela apenas deu andamento ao projeto iniciado pelo próprio petista: o de poder, sem levar em consideração as consequências. Agora, coube ao ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, tentar pôr panos quentes na situação e procurar acalmar o petista.

Entre o que Lula pensa e a realidade dos fatos há uma enorme distância, pois o Brasil está longe de ser capitania hereditária de políticos criminosos, que debaixo do populismo barato foram protagonistas do período mais corrupto da história nacional, além de responsáveis primeiros pelo escândalo do Petrolão, que durante uma década sangrou os cofres da Petrobras.

A nota divulgada pelo Instituto Lula nem de longe traduz o desejo e o pensamento do ex-metalúrgico, que continua acreditando que a nova fase da Operação Zelotes poderia ter sido evitada apenas por que um dos seus filhos estava na alça de mira. O Brasil transformou-se em um país sem lei, que agora luta para retomar o Estado Democrático de Direito, aviltado de forma inequívoca pelos atuais donos do poder. Tudo porque os “camaradas” têm um projeto de poder do qual não desistem.

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