Pancadaria na prévia do PSDB de São Paulo confirma racha partidário e pode ajudar o enrolado PT

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O Brasil sangra à sombra do período de maior decrepitude da política nacional, na esteira dos desmandos e escândalos protagonizados pelo PT, mas o partido que lidera a oposição nacional prefere abandonar o discurso e patrocinar um espetáculo pífio na maior cidade do País.

No último final de semana, o PSDB mostrou que as fissuras internas continuam comprometendo a existência da legenda, que acalenta o sonho de retornar ao Palácio do Planalto. Considerando que petistas e tucanos são trigo moído da mesma embalagem, o modus operandi é o mesmo, sendo que apenas a fantasia é que faz a cena diferente. Na prévia para escolher o candidato do PSDB à prefeitura paulistana, sobraram discussões, sopapos e destruição de computadores. Isso porque o tucanato congrega os esquerdistas acostumados ao duo casaca e polaina.

Como se fosse mais um desses bisonhos sindicatos comandados pela “companheirada” que os tucanos enchem os pulmões para criticar, o PSDB mostrou aos brasileiros, a partir da prévia realizada na capital paulista, que nada é possível esperar em termos de futuro da nação. A postura dos tucanos durante a escolha do candidato à corrida rumo ao trono da quarta maior cidade do planeta não apenas envergonhou o País, mas confirmou a condição de orfandade política dos cidadãos.

O que aconteceu na Pauliceia Desvairada foi o típico “barraco de grã-finos”, como pontuaram as conversas que sobraram nas portas dos botecos da cidade. Cacifados para o segundo turno da escolha tucana estão dois representantes da elite paulista: o vereador Angelo Andrea Matarazzo e o empresário-apresentador João Dória Jr.

Matarazzo entrou no páreo, mais uma vez, com o apoio de tucanos de fina plumagem, como Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Alberto Goldman. Por outro lado, Dória conta com o apoio do governador Geraldo Alckmin.

Quem não acompanha a política nacional nos bastidores não sabe o que acontece no PSDB, um partido que desde a fundação é marcado por uma divisão interna inexplicável. Essa cizânia míope, confirmada novamente na escolha do candidato tucano à prefeitura paulistana, tornou-se um prato cheio para os discursos insanos dos petistas, que cada vez mais afundam na lama da corrupção e buscam nos adversários defeitos similares aos seus.

No caso de o PSDB continuar rachado no âmbito da eleição municipal, mesmo após a definição do candidato do partido, sairá ganhando o PT, que usará o prefeito Fernando Haddad, que busca a reeleição, para nivelar todos por baixo e tentar salvar a legenda. Será algo desmoralizante, mas o eleitor terá de engolir um discurso do bem contra o mal, ou seja, de Haddad contra Celso Russomanno, por exemplo. Ou, então, do fiel contra a traidora, Haddad contra Marta Suplicy.


Penas ao ar

A grande questão nessa disputa ferrenha que marcou as prévias do PSDB é que há nas coxias do tucanato interesses maiores e que passam obrigatoriamente pela disputa presidencial de 2018. Geraldo Alckmin, governador do mais rico e importante estado da federação, é pré-candidato ao Palácio do Planalto, mesmo que seu projeto exija uma mudança de partido. Há quem diga que Alckmin jamais deixará o PSDB, mas o editor do UCHO.INFO não aposta nessa tese.

Para concorrer à Presidência da República é preciso dinheiro de sobra. E João Dória conhece o caminho das pedras. Apresentador de televisão e comandante de um grupo de ricos empresários que se reúne regularmente na órbita de autoridades e figuras de destaque, Dória é a chave do cofre que Alckmin tanto precisa. Não por acaso, João Dória passou a cortejar Alckmin e FHC, incursão que se tornou mais acintosa nos últimos meses.

Em 2015, o apresentador e pré-candidato levou Fernando Henrique a Nova York em seu avião, por ocasião da entrega do prêmio “Homem do Ano”, concedido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. Lá, na Grande Maçã, Dória também organizou um caríssimo café da manhã, reunindo empresários poderosos para palestra matinal de Alckmin. Algo que de graça consegue-se em São Paulo, mais precisamente no Palácio dos Bandeirantes.

O apoio de José Serra a Matarazzo já era esperado. São amigos de longa data, sem contar que Serra também está de olho na sucessão de Dilma Rousseff. Tanto é assim, que não está descartada a ida de José Serra para outro partido, possivelmente o PMDB, com quem o senador tucano tem flertado sem cerimônia e com muita constância. Mesmo assim, o importante é marcar território no partido atual, o que Serra faz com competência e muitos dissabores.

Serra sabe que não será fácil tirar Aécio Neves, presidente nacional da legenda, da briga, por isso é importante costurar apoios desde as bases do partido. E nada melhor do que começar essa costura por São Paulo. FHC é um “general de pijama” dentro do PSDB que só se manifesta quando provocado à exaustão, também não quer perder a pompa e a circunstância. Por isso declarou apoio a Andrea Matarazzo, estratégia para isolar Alckmin, por quem o ex-presidente não morre de amores. Sem contar que Matarazzo foi ministro de Fernando Henrique.

Escolher entre Matarazzo e Dória é uma missão hercúlea, mas é melhor ter um ex-ministro candidato do que um empresário paraquedista sonhando alto. Tudo no melhor estilo “já que não tem tu, vai tu mesmo”. Para quem ousa afirmar que faz oposição na esfera federal, na Pauliceia Desvairada o PSDB cada vez mais deixa a desejar.

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