Cardozo rasga discurso moralista de um ano atrás e transforma-se em advogado do meliante Lula

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Se para um bacharel em Direito o exame da Ordem é uma das mais penosas etapas da carreira, no caso de José Eduardo Martins Cardozo, advogado-geral da União, a defesa de um corrupto que acredita ser deus por certo é a derradeira prova de fogo.

Longe de ser um advogado brilhante – é o que dizem alguns colegas de profissão em São Paulo – Cardozo só foi para a Advocacia-Geral da União porque não sabia como escapar dos apelos de Dilma Rousseff, a presidente que está desidratando politicamente com impressionante rapidez.

Contudo, Cardozo não esperava que um dia teria de defender alguém tão enrolado quanto Lula, sendo obrigado a enfrentar um Supremo Tribunal Federal enfurecido pelas criticas levianas do palestrante em fuga. Lula, em conversa com Dilma, logo após depoimento à Polícia Federal, disse que o STF estava “completamente acovardado”, referência idêntica feita em relação ao Superior Tribunal de Justiça.

É fato que no Supremo há magistrados experientes que certamente não julgam com o fígado, mas o estrago está feito e já é considerado por muitos como irreversível. Isso significa que será quase impossível reverter a suspensão da posse de Lula como ministro da Casa Civil, pois, além das críticas rasteiras ao Judiciário, a fala de Lula colocou em xeque a idoneidade do Supremo e provou que sua ascensão à Casa Civil foi um armação criminosa, com essência de inequívoco golpe de Estado.

Nesta quinta-feira (17), o ministro Celso de Mello, decano do Supremo, falou em tom duro e, em nome da Corte, criticou a fala marginal do ex-presidente da República, sem em nenhum momento mencioná-lo nominalmente. “Esse insulto ao Poder Judiciário, além de absolutamente inaceitável e passível da mais veemente repulsa por parte desta Corte Suprema, traduz reação torpe e indigna, típica de mentes autocráticas e arrogantes que não conseguem esconder o temor pela prevalência do império da lei e o receio pela atuação firme, justa, impessoal e isenta de juízes livres e independentes”, afirmou o magistrado.

Mais adiante, Celso de Mello que com a devida classe aplicou uma carraspana em Lula e Dilma Rousseff, disse que “ninguém está acima da autoridade das leis e da Constituição”. E completou dizendo: “Por isso, Senhor Presidente, cumpre não desconhecer que o dogma da isonomia, que constitui uma das mais expressivas virtudes republicanas, a todos iguala, governantes e governados, sem qualquer distinção, indicando que ninguém, absolutamente ninguém, está acima da autoridade das leis e da Constituição de nosso País, a significar que condutas criminosas perpetradas à sombra do Poder jamais serão toleradas, e os agentes que as houverem praticado, posicionados, ou não, nas culminâncias da hierarquia governamental, serão punidos por seu Juiz natural na exata medida e na justa extensão de sua responsabilidade criminal!”.


A grande questão é como José Eduardo Cardozo conseguirá defender no STF um ministro que está acostumado às delinquências apenas por que cultua a impunidade e acredita ser inalcançável. Há exato um ano, em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, Cardozo destilou um moralismo que não coaduna com as práticas subterrâneas do seu partido, o PT.

Disse o então ministro da Justiça: “Ao longo do último período foram criadas medidas de combate à corrupção. O governo tem também uma posição firme de não interferir em investigações e garantir que a PF tenha verbas e autonomia para investigar. Houve também a nomeação de uma pessoa que age com absoluta independência no comando do Ministério Público.”

A entrevista de Cardozo foi publicada no dia 16 de março de 2015, portanto um dia após as manifestações do dia anterior que tomaram o País. Naquele momento, José Eduardo Cardozo falou sobre o pacote anticorrupção que seria apresentado pelo governo do PT, que estava calcado em um tripé: punir corruptos com rapidez, tornar mais céleres os processos contra desvios de recursos públicos e criminalizar os servidores que enriquecem ilicitamente.

Perguntado sobre a palavra de ordem que dominou as manifestações de 15 de março do ano passado – “Não ao Acordão” (acordo de leniência com as empresas investigadas na Operação Lava-Jato) – Cardozo não imaginava naquele momento que um dia seria obrigado a defender o responsável pelo período mais corrupto da história nacional. O ministro afirmou: “Nunca houve por parte do governo nenhuma intenção de que não existam punições.”

Diz a sabedoria popular que o tempo é o senhor da razão, por isso paciência jamais será sinônimo de letargia. Afinal, o planeta é pequeno e redondo como moeda de um cêntimo e a vida é cruel com aqueles que falam sem pensar nas consequências. José Eduardo Cardozo rasgou o discurso moralista de um ano atrás, mas agora terá de provar que, do alto da soberba, saberá atuar como reles advogado de porta de cadeia. Até porque, o cliente do momento o transformou nesse profissional.

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