Integrantes de Conselhos de Administração de empresas, privadas ou estatais, tornaram-se meros despachantes de luxo de propostas apresentadas executivos das companhias. Pelo menos é essa a conclusão a que se chega diante do marasmo que toma conta da criminosa e superfaturada compra da refinaria de Pasadena (Texas), que pelo avanço da ferrugem nas instalações passou a ser chamada de “ruivinha”.
Capítulo de estreia do calvário da petista Dilma Rousseff, que ao dar explicações sobre o negócio mergulhou no maior escândalo de corrupção de todos os tempos, o Petrolão, a compra da refinaria texana é alvo de ação da Advocacia-Geral da União (AGU), que está decidida a cobrar na Justiça prejuízo avaliado em R$ 2 bilhões.
A AGU quer que arquem com o bilionário rombo alguns ex-dirigentes da Petrobras, como José Sérgio Gabrielli (presidente executivo), Nestor Cerveró (Internacional), Renato Duque (Serviços), Paulo Roberto Costa (Abastecimento), Almir Barbassa (Financeiro), Alberto Guimarães, Guilherme Estrella (Exploração), Gustavo Tardin Barbosa (Petrobras América), Ildo Sauer (Gás e Energia) e Luis Carlos Moreira Silva (gerente da área Internacional).
No caso de a Justiça dar seguimento à ação proposta da AGU, o País estará diante da primeira condenação imposta a pessoas envolvidas na inexplicável aquisição da refinaria de Pasadena. De igual maneira, a AGU também está debruçada sobre uma possível responsabilização de Dilma, que por ocasião do negócio presidia o Conselho de Administração da Petrobras.
Dilma, agora ex-presidente da República, alegou que a autorização para a concretização do negócio foi dada a partir de relatório equivocado e tendencioso apresentado por Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional da estatal e preso na Operação Lava-Jato. Em depoimento de delação premiada, Cerveró não apenas desmentiu a petista, como afirmou que ela sempre soube do esquema de corrupção que emoldurou a compra da refinaria.
O UCHO.INFO não tem dúvidas acerca do conhecimento de Dilma sobre o viés nebuloso do negócio, o que justifica responsabilizar a petista pelo malfeito, mas não se pode puni-la de maneira isolada. Quando um problema grave acontece nas finanças de uma empresa, por exemplo, não se pode culpar o porteiro por ter permitido a entrada do gerente do banco. Na verdade, a responsabilidade estende-se desde os escolhidos para comandar o setor financeiro da empresa até o presidente da mesma.
Longe de querer despejar sobre Dilma o manto da inocência, mas não se pode punir alguém por decisão tomada no âmbito de um colegiado. À época dos fatos, Dilma tinha como parceiros no Conselho de Administração da Petrobras algumas estrelas do cenário econômico e produtivo nacional, como Jorge Gerdau Johannpeter (Grupo Gerdau), Fábio Barbosa (Editora Abril), Claudio Luiz da Silva Haddad (Insper), Roger Agnelli (então presidente da Vale e morto em acidente aéreo), Guido Mantega (ex-ministro da Fazenda), Arthur Sendas (falecido) e José Sérgio Gabrielli de Azevedo (ex-presidente da estatal e filiado ao PT).
A denúncia de que US$ 3 milhões teriam sido distribuídos entre os conselheiros causou enorme constrangimento, mas até agora a acusação não foi comprovada. Porém, muito estranhamente, as gravações das reuniões do Conselho de Administração da Petrobras realizadas à época foram destruídas. Por outro lado, a responsabilidade de Dilma pelo malfadado negócio foi descartada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que condenou os demais diretores, os quais ingressaram com recursos.
Considerando que na democracia o “pau que bate em Chico, bate em Francisco”, nenhum dos envolvidos no nebuloso negócio pode escapar à mira da Justiça, a começar pelos outrora conselheiros acima mencionados, que continuam não sendo importunados pela lambança.