Brasil não pode pensar no futuro enquanto a política continuar órfã de renovações e fogueira de vaidades

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A política brasileira envelheceu e não há no horizonte qualquer expectativa de mudança no curto prazo, pois o processo de renovação acabou suprimido por disputas partidárias absurdas. O que para muitos pode parecer dose extra de pessimismo, na realidade é um retrato do cenário atual.

Depois de permanecer em berço esplêndido durante mais de uma década, a população decidiu ir às ruas para protestar contra a corrupção sistêmica e a incompetência devastadora que marcaram os governos petistas. A chiadeira culminou com o impeachment de Dilma Rousseff, mas até agora não apareceu na vitrine política alguém disposto a romper o status quo.

Encerradas as eleições municipais – o segundo turno foi realizado no último dia 30 de outubro –, o assunto do momento é a corrida presidencial de 2018, como se o Brasil não precisasse no momento discutir temas distintos. É extremamente cedo para tratar do assunto, principalmente em um país que tem dificuldades para deixar o atoleiro da crise.

Deixando de lado essas questiúnculas, os nomes que se apresentam como possíveis candidatos à sucessão de Michel Temer são o que se pode chamar de “ducha de água fria”. Enquanto a esquerda brasileira, maciçamente rejeitada nas urnas, tenta se reinventar, os tucanos, líderes da outrora oposição, retomam o salto alto enquanto alimentam a histórica cizânia “interna corporis”.

O quadro que se apresenta impede qualquer brasileiro de bem de sonhar com dias melhores. Afinal, se de um lado há uma silenciosa queda de braços travada por Geraldo Alckmin, Aécio Neves e José Serra, por outro avançam os pífios espetáculos de vaidade protagonizados por Lula e Fernando Henrique Cardoso.

Em relação ao trio de pretendentes tucanos, Alckmin é, por enquanto, o que tem mais condições políticas de ser o candidato do PSDB ao Palácio do Planalto. Mas para chegar ao posto terá de desbancar Aécio e Serra, que agora decidiram unir-se para colocar em marcha a vingança maligna. Afinal, a esses senhores pouco importa se a nação tem suas premências ou se a sociedade cultiva anseios.


Lula, que conta os dias para a chegada do camburão da Polícia Federal que o levará ao encontro do juiz Sérgio Moro, age nos subterrâneos petistas para manter seu nome em voga e tentar impedir o pior (a prisão). Vez por outra alguém incensa seu nome como candidato em 2018 ou a única pessoa capaz de reerguer o aniquilado PT, mas isso não passa de estratégia de desesperado. Aliás, quem patrocinou o período mais corrupto da história nacional não tem condições de ressuscitar um partido que naufraga na lama da corrupção. Mas com isso Lula consegue deixar por alguns momentos o noticiário policial, enxertando seu nome em reportagens políticas.

No contraponto, fermentando a eterna briga entre tucanos e petistas, Fernando Henrique Cardoso nega que tenha interesse de retornar ao Palácio do Planalto. Sua manifestação resultou de artigo publicado pelo fiel escudeiro Xico Graziano, que defendeu o retorno de FHC em 2018 ou, então, no próximo ano, caso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decida pela cassação do registro da chapa Dilma-Temer, o que pode acontecer com muita facilidade.

Graziano abusou da própria imaginação, pois é preciso considerar que FHC nasceu em junho de 1931 e, se vencesse a próxima corrida ao Palácio do Planalto, assumiria a Presidência da República faltando poucos para completar 88 anos. Nada contra os mais idosos – no caso de FHC poder-se-ia chamar de “vintage” –, mas é preciso admitir que tirar o Brasil do buraco da crise exige disposição de sobra. Em relação ao tal artigo, publicado pelo jornal “Folha de S. Paulo”, ficou no ar um cheiro de missa encomendada. Aliás, a publicação permitiu que FHC retornasse ao noticiário, depois de algumas longas semanas de ostracismo.

Quando o PSDB e o PT recorrem, respectivamente, a FHC e a Lula como tábuas de salvação, é porque a política parou no tempo por preguiça de quem nela não quer entrar ou, então, porque quem está dentro não quer concorrência.

Há pelo menos seis décadas ouve-se dizer que o Brasil é o país do futuro. Resta saber quando esse futuro dará o ar da graça, pois a política brasileira continua refém no cativeiro do passado. Para piorar o cenário, o brasileiro não quer mais do mesmo, mas não sabe o que deseja por falta de opção.

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