Enquanto discute desembarque do governo, o rachado PSDB pode acabar despejado por Michel Temer

Ciente de que as eleições do próximo ano poderão passar ao largo do script da legenda, o PSDB mantém a indecisão sobre o desembarque do governo do presidente Michel Temer. Essa indefinição tem todos os ingredientes para custar muito mais caro do que imaginam os tucanos, pois assessores palacianos têm sofrido pressão da base aliada para que o presidente da República promova imediatamente uma reforma ministerial, defenestrando os tucanos dos ministérios que ocupam (Secretaria de Governo, Relações Exteriores, Cidades e Direitos Humanos).

O azedume que passou a emoldurar a relação entre Michel Temer e o PSDB cresceu nos últimos dias na esteira de artigo de Fernando Henrique Cardoso, que ressaltou no texto a necessidade de o partido sair do governo, sob pena de assim não fazendo chegar às eleições de 2018 abraçado ao enrolado PMDB.

Se por um lado a iniciativa de FHC surpreendeu parte da legenda, por outro surtiu efeito na ala do PSDB que defende o desembarque do governo, mais precisamente o grupo ligado ao governo Geraldo Alckmin (SP). Porém, a conhecida cizânia partidária que embala o tucanato continua impedindo uma tomada de decisão.

Abusando da ousadia, Fernando Henrique arriscou marcar a data limite do desenlace, 9 de dezembro, quando o partido realiza convenção nacional para a escolha dos novos dirigentes. Como destacou o UCHO.INFO em matéria anterior, se o problema maior do PSDB é a permanência no governo, que o divórcio político seja imediato.


A questão não é revanche por causa dos deputados peessedebistas que votaram a favor da denúncia contra o presidente, mas de sobrevivência política de Michel Temer ao longo dos próximos meses. Os que cobiçam os cargos dos tucanos não saíram do monastério mais próximo, pelo contrário, mas pode usar o escambo criminoso para aprovar no Congresso matérias de interesse de um governo com baixíssima popularidade.

Movido pela soberba, o PSDB tenta com esse discurso moralista “vender” à opinião pública a ideia de que não compactua com malfeitos, como, por exemplo, escândalos de corrupção. Contudo, entre o que os tucanos intentam e o eleitorado sabe sobre a realidade política há uma enorme distância.

Se os tucanos pretendem chegar à corrida presidencial de 2018 com alguma dose de fôlego eleitoral, o melhor é deixar o governo agora, antes que Michel Temer promova uma sessão de “degola”. Se isso acontecer [degola], o PSDB perderá mais espaço no mapa político-eleitoral.

Ademais, é importante ressaltar que o sonho do governador Geraldo Alckmin de chegar ao Palácio do Planalto pode se transformar em pesadelo. Isso porque não demorará muito para surgir no palavrório eleitoral a tese de que é preciso impedir a sequência de dois paulistas na Presidência da República. Como a passagem de Michel Temer pelo cargo não tem sido a mais exitosa, Alckmin é um forte candidato a patinar na largada.

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