Bolsonaro diz que isolamento é invenção da imprensa, mas situação do presidenciável do PSL só piora

Presidenciável do PSL, o deputado federal Jair Bolsonaro (RJ) está isolado em seu projeto de chegar ao Palácio do Planalto, mas não admite a realidade dos fatos. Após fracassadas investidas com o objetivo de conseguir um candidato vice para “chamar de seu”, Bolsonaro preferiu culpar a imprensa pelo momento de dificuldade. Disse o pré-candidato à Presidência da República que tem apoiadores em todo o País e que o mencionado isolamento é invenção dos meios de comunicação.

“A maioria da imprensa cria falsa narrativa como se tivesse sido descartado por fulano e cicrano (sic). Jamais me comprometi com nenhum dos citados. Sempre deixei claro que meu partido é o povo e agora tentam desonestamente inverter a situação para mais uma vez nos descredibilizar!”, escreveu Bolsonaro no Twitter.

Assim como qualquer brasileiro, Jair Bolsonaro tem garantido o direito à livre manifestação do pensamento, mas não pode querer que a opinião pública creia em suas palavras. Mesmo que nada de relevante tenha feito ao longo de 28 anos de mandato como deputado federal, Bolsonaro não é um inocente que caiu de paraquedas no Congresso Nacional.

Ciente de como funciona o Parlamento federal em seus subterrâneos, o pré-candidato peca ao afirmar que jamais se comprometeu com os partidos com os quais conversou nas últimas semanas. Sentar-se à mesa de negociações com Valdemar Costa Neto, “dono” do Partido da República, sem disposição a contrapartidas é algo que simplesmente inexiste. Quem conhece razoavelmente a política nacional sabe que Costa Neto é movido pelo fisiologismo, o que significa troca de cargos (muitos) por apoio político.

Política no Brasil está longe de ser ciência exata – assim é em qualquer parte do planeta –, portanto a euforia que tomou conta da pré-candidatura de Bolsonaro tem pinceladas de precipitação. No momento em que Valdemar Costa Neto desiste de indicar o candidato a vice, é porque há algo errado no projeto do parlamentar fluminense. A situação piora sobremaneira quando partidos conhecidos como “nanicos” adotam postura idêntica, ou seja, negam qualquer possibilidade de aliança eleitoral.

Mesmo assim, Jair Bolsonaro abusou do proselitismo barato para justificar os fracassos colecionados ao longo dos últimos dias. “O nosso partido é o povo e não os líderes partidários que representam o atual sistema no Brasil”, afirmou em mensagem publicada no Twitter.


Bolsonaro pode falar o que bem entender, mas uma declaração desse naipe mostra sua incapacidade de governar, pois no presidencialismo representativo, adotado pelo Brasil, é impossível governar sem acordo político-partidários.

É preciso mudar a forma de fazer política no País, mas não será da noite para o dia que essa mudança acontecerá, muito menos à base do pé de cabra, como defende Bolsonaro. Recentemente, o pré-candidato do PSL externou sua disposição de colocar somente militares no comando de todos os ministérios, caso seja eleito. Tal afirmação permite concluir que os aliados ficarão de mãos vazias.

Uma das questões que dificultam os mencionados acordos passa pela reforma eleitoral aprovada pelo Congresso Nacional em outubro de 2017 e atende pelo nome de cláusula de barreira, também conhecida como cláusula de desempenho.

Com a nova regra, já valendo nas eleições que se aproximam, partidos têm de conseguir nas urnas 1,5% dos votos válidos para deputado federal, em pelo menos um terço dos estados da federação. Do contrário, o fundo partidário, calculado de acordo com o tamanho das bancadas na Câmara dos Deputados, será seriamente comprometido. Isso explica o apetite dos partidos pequenos por cargos.

Em apenas 48 horas, Bolsonaro teve a negativa do PR, que indicaria como candidato a vice o senador Magno Malta (PR), e do PRP, partido do general da reserva Augusto Heleno. A última boia nesse maremoto político-eleitoral é o PRTB, partido do também general da reserva Alberto Mourão. O PRTB é comandado por Levy Fidelix.

Goste ou não o seu fã-clube, Bolsonaro está isolado em termos de alianças políticas visando a eleição presidencial. Isso representa exiguidade de tempo de rádio e televisão. Alguém há de dizer que a candidatura pode ter sucesso a partir das redes sociais, mas com o período de campanha limitado a 45 dias qualquer ação para convencer o eleitor exige tempo de televisão – por enquanto Bolsonaro tem apenas 8 segundos diários. Nas redes sociais, uma campanha eleitoral tem prazo de maturação mais longo.