Bruno Covas veta trechos de projeto de lei que poderiam enterrar escândalo da PPP da Iluminação

Que ninguém se engane com a sequência de fatos da política, porque nessa seara não existe coincidência nem inocentes de ocasião. Tudo o que acontece é pensado com muita antecedência e para atender determinado interesse.

Na edição de quinta-feira (23), o UCHO.INFO informou que um projeto de lei apresentado pelo líder do governo na Câmara Municipal de São Paulo, vereador João Jorge (PSDB), e aprovado pelo Legislativo paulistano reduzia poderes da Controladoria do Município, criado para combater a corrupção.

A proposta foi enviada à Câmara Municipal pelo prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), sem trechos que “engessava” a Controladoria, mas essa tarefa ficou a cargo de João Jorge, que apresentou projeto substitutivo, com a devida inserção de propostas de interessa da gestão tucana.

Quem conhece os meandros do Legislativo sabe que um líder de governo jamais apresenta substitutivo a um projeto do Executivo sem a concordância explícita do autor, ou seja, do próprio prefeito. Isso significa que Covas concordou – talvez tenha solicitado – com a inclusão de dois polêmicos parágrafos no substitutivo para reduzir os poderes da Controladoria-Geral do Município.

Considerando que no radar da Controladoria o maior escândalo é o da PPP da Iluminação Pública de São Paulo, que por conta de denúncia de corrupção teve suspenso contrato no valor de R$ 7 bilhões, a investigação do caso sofreria prejuízo se fosse mantida a versão original do projeto aprovado pela Câmara paulistana.

Diante da repercussão do escândalo da PPP da Iluminação, que provocou várias demissões no Departamento de Iluminação Pública de São Paulo (Ilume) e acabou arrastando ao olho do furacão a ex-primeira-dama Bia Doria, casada com o ex-prefeito João Doria, o atual prefeito não teve outra saída, que não vetar os trechos que esvaziavam os poderes da Controladoria.


O escândalo da PPP da Iluminação

O processo licitatório da PPP da Iluminação Pública de São Paulo estava a cargo do Ilume, departamento que era subordinado à Secretaria de Serviços e Obras, à época comanda por Marcos Penido. A condução do processo foi marcada por inúmeras irregularidades, pois era preciso beneficiar o consórcio vencedor, cuja empresa líder já prestava serviço à prefeitura e é acusa de pagar propina a integrantes do Ilume.

Com a renúncia de João Doria para disputar o governo paulista e a chegada de Bruno Covas ao cargo de prefeito, Penido foi transferido para a Secretaria das Prefeituras Regionais, mas, estranhamente, levou na bagagem a PPP da Iluminação Pública. Fosse a gestão tucana minimamente responsável e lógica, Penido teria sido afastado. Diante da subtração de poder da Controladoria do Município, Marcos Penido poderá decidir o que fazer com o escândalo de corrupção que mandou pelos ares a PPP.

Doria, enquanto prefeito da maior cidade brasileira, sempre soube das transgressões cometidas no processo de licitação da PPP da Iluminação Pública, até porque era impossível não saber, mas preferiu fechar os olhos. Foi avisado algumas vezes do que estava ocorrendo, mas fez ouvidos moucos. Afirmar que foi conivente com o esquema é leviandade, mas diante dos fatos Doria não pode se apresentar ao eleitorado como gestor, após um escândalo desse porte.

O imbróglio é tão rumoroso, que até a ex-primeira-dama Beatriz Maria Bettanin Doria, conhecida como Bia Doria, foi arrastada para o olho do furacão. Um e-mail entregue ao Ministério Público paulista revela que a prefeitura de São Paulo realizou serviços de modernização da iluminação do palco do santuário Theotokos, comandado pelo popular padre Marcelo Rossi. Na verdade, o serviço foi executado pela empresa FM Rodrigues, que era responsável pela manutenção da iluminação da cidade e liderou o consórcio vencedor da PPP.

Bia Doria foi convocada pelo MP para depor na qualidade de testemunha, em junho, mas alegou impossibilidade por motivo de viagem. Bia Doria depôs na quarta-feira (8) e negou ter solicitado a instalação de equipamentos de iluminação na parte interna do templo do padre Marcelo.

O depoimento da ex-primeira-dama é desmontado pelas declarações do técnico de iluminação do templo, Antonio Nunes de Miranda Sobrinho, que em junho disse aos promotores que Bia Doria deu ordem para instalar luzes de LED, um equipamento para efeitos e uma mesa para controlar a intensidade da iluminação.