Politizar o atentado a Jair Bolsonaro é misto de leviandade extrema, má-fé e fraude ao bom senso

    Se o atentado contra o presidenciável Jair Bolsonaro é inaceitável, principalmente em um regime democrático, politizar o episódio ultrapassa com folga as fronteiras do bom senso e ingressa na seara da utopia. No momento em que o País deveria torcer pela recuperação do candidato, seguidores de Bolsonaro dedicam-se a espalhar nas redes sociais informações mentirosas, como se isso pudesse mudar a realidade.

    A primeira acusação leviana com a rubrica dos seguidores do candidato do PSL é que o crime foi cometido por alguém ligado ao Partido dos Trabalhadores, próximo a Lula e Dilma Rousseff. Há uma distância enorme entre não gostar dos ex-presidentes e quere imputar indiretamente a ambos a responsabilidade de um crime que sequer foi investigado. Isso denota desespero por parte dos eleitores de um candidato que até então se apresentava como a única solução para os problemas nacionais.

    Na sequência surgiu na internet a informação criminosa, no melhor estilo da escola de Joseph Goebells, de que aquele que ousou atrapalhar o caminho de Luiz Inácio da Silva morreu de forma misteriosa. A imagem publicada nas redes sociais traz fotos de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André (morto em 18 de janeiro de 2002); Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT, ex-prefeito de Campinas (morto em 10 de setembro de 2001); Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco e ex-candidato à Presidência da República (morto em 13 de agosto de 2014); e Teori Zavascki, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal e ex-relator da Operação Lava-Jato na Corte (morto em 19 de janeiro de 2017). Mais uma vez a teria da conspiração entrou em cena para favorecer criminosos a serviço da mentira.

    Não é de hoje que no Brasil os bastidores das campanhas eleitorais são marcados por um jogo bruto e intenso, mas o comportamento acima descrito beira a sordidez, pois recorre ao vale-tudo apenas porque na alça de mira está o triunfo a qualquer preço. Causa espécie, contudo, o fato de que o cidadão, de maneira geral, aceite isso como sendo normal, quando na verdade deveria repudiar qualquer tentativa dessa natureza. O fazem de maneira quase obediente por acreditar que é possível mudar o Brasil na base do radicalismo, da truculência, da intolerância, da mentira, do non sense.


    Ato contínuo surgiu a informação verídica de que o responsável pelo ataque, Adélio Bispo de Oliveira, de 40 anos, foi filiado ao PSOL entre 2007 e 2014. Isso não significa que o partido está por trás do ataque a Bolsonaro, como querem fazer acreditar os seguidores do candidato do PSL. Querer vincular uma situação a outra é abrir caminho para a delinquência intelectual.

    Não há como faturar politicamente a partir de um episódio que representa uma apunhalada na democracia brasileira. Quem faz isso de maneira recorrente cai na esparrela daquilo que condena com veemência duvidosa: o nós contra eles. No Brasil não há mais espaço para esse tipo de confronto, no qual apenas uma ínfima minoria vence.

    O fato de alguém estar filiado a um partido político e cometer um crime não obrigatoriamente arrasta a agremiação à cena do delito. Não havendo provas irrefutáveis que comprovem essa conexão, qualquer ilação com esse objetivo é vilipêndio ao intelecto. Por certo surgirão afoitos a dizer que este portal está a defender essa ou aquela corrente, mas essa cantilena já perdeu o prazo de validade.

    O autor do ataque apresenta sinais de desequilíbrio comportamental e à polícia, no primeiro depoimento, disse ter “cumprido uma ordem de Deus”. Em sua página em rede social fica evidente que suas ideias passam ao largo da concatenação. Sobrinhas de Adélio disseram aos policiais que “ele era um missionário de igreja evangélica, mas nos últimos tempos ficava falando sozinho e estava com ideias muito conturbadas.”

    O mais prudente, no momento, é aguardar a conclusão da investigação, que, ao final e longe do calor dos fatos, revelará os motivos do crime e, eventualmente, apontará eventuais coautores e mandantes. O que na opinião deste noticioso é improvável. Querer antecipar conclusões é obra do achismo, que pode ser traduzida também como ignorância ou má-fé.