Adriano da Nóbrega, o herói do clã Bolsonaro, e o “bang-bang” de uma família de bicheiros do Rio de Janeiro

    O clã Bolsonaro faz lembrar o filme “Os Intocáveis” (1987), do diretor Brian de Palma, cuja trilha sonora ficou a cargo do genial Enio Morricone. Até dias antes do Carnaval, a família do presidente da República estava deveras preocupada com a forma como foi morto o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-capitão da Polícia Militar fluminense, que apesar de ter sido expulso da corporação e preso conseguiu empregar a mãe e a ex-mulher no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

    O presidente da República chegou a sugerir a realização de uma perícia independente no corpo de Adriano e nos celulares utilizados pelo miliciano, como forma de elucidar o assassinato e para evitar que alguma conversa forjada do próprio Jair Bolsonaro fosse enxertada nos aparelhos de comunicação do então chefe do “Escritório do Crime”, grupo de matadores de aluguel que atua na comunidade de Rio das Pedras, na Zona Oeste carioca.

    Como se um passe de mágica tivesse ocorrido, o presidente e seus herdeiros não mais se preocupam com Adriano da Nóbrega, o criminoso que alimentou o caixa de Fabrício Queiroz, parceiro de Flávio Bolsonaro no esquema das “rachadinhas”. Aliás, o próprio miliciano admitiu em gravação telefônica que se beneficiava das “rachadinhas”.

    Bolsonaro e os filhos, como já foi possível constatar, creem que são donos do Brasil, têm certeza da relação parental com Aladim e não duvidam que são os mais espertos do País. Até porque, a soberba de cada integrante do clã fala por si.

    Antes que a quarta-feira de Cinzas termine e o período da Quaresma avance, somos obrigados a, fincando o pé no Carnaval, voltar no tempo e dar um passeio na seara dos contraventores. Na madrugada de terça-feira (25), após deixar o Sambódromo, no Rio de Janeiro, o contraventor Alcebíades Paes Garcia, o Bidi, foi morto na Barra da Tijuca por dois homens encapuzados, que teriam disparado 40 tiros na van que o levava para casa.

    Bidi era filho do também contraventor Waldomiro Garcia, o Miro, e irmão de Waldomiro Paes Garcia, o Maninho. Um dos mais poderosos bicheiros do Rio de Janeiro, Miro foi presidente de honra do Salgueiro e morreu em 2004, aos 77 anos, um mês após Maninho ter sido metralhado e morto na Zona Oeste carioca.

    Maninho morreu aos 42 anos, em 2004, executado por assassinos de aluguel quando deixava de uma academia de ginástica na companhia do filho Myro Garcia, à época com 15 anos. Myro sobreviveu ao primeiro atentado, mas foi assassinado aos 27 anos, em 2017, também quando deixava uma academia.

     
    Filha do falecido Maninho, Shanna Harrouche Garcia e seu ex-marido, José Luiz de Barros Lopes, o Zé Personal, assassinado em setembro de 2011, tinham como chefe da segurança pessoal ninguém menos que Adriano Magalhães da Nóbrega. O miliciano foi expulso da PM fluminense por suas ligações com a família de Shanna, que sofreu um atentado em outubro de 2019.

    Como se não bastasse, Adriano foi acusado de envolvimento na tentativa de homicídio contra o pecuarista Rogério Mesquita, que passou a disputar com Shanna Harrouche e Zé Personal o controle dos negócios do finado Maninho. Shanna e o ex-marido foram acusados de serem os mandantes do crime, ocorrido em maio de 2008, e seus seguranças, entre eles Adriano da Nóbrega, de terem feito os disparos contra Rogério, que sobreviveu ao ataque, mas acabou morto meses depois, em janeiro de 2009.

    Adriano foi acusado de ser segurança de Shanna e Zé Personal, assassinado em setembro de 2011. O então capitão chegou a ser preso em dezembro de 2011, na operação Tempestade no Deserto, justamente por ligação com a contravenção. Ele foi acusado de envolvimento na tentativa de homicídio contra o pecuarista Rogério Mesquita, que passou a disputar com Shanna e Zé Personal o controle dos negócios de Maninho, assassinado em 2004.

    Shanna e Zé Personal foram acusados de serem os mandantes do crime, que ocorreu em maio de 2008, e seus seguranças, entre eles Adriano, de terem feito os disparos contra Rogério. Ele sobreviveu ao ataque, mas acabou sendo morto meses depois, em janeiro de 2009. Durante audiências do caso na Justiça, testemunhas mudaram os depoimentos e livraram Shanna e Adriano das acusações. Disse Woody Allen: “Não é que eu tenha medo de morrer. É que eu não quero estar lá na hora que isso acontecer”.

    Ex-presidente de honra do Salgueiro e ex-marido de Shanna, o empresário Rafael Alves disse que o assassinato de Bidi foi motivado por uma briga envolvendo o espólio de Maninho, que, segundo consta, está avaliado em R$ 25 milhões e tem no centro da cobiça pontos de jogo do bicho, máquinas caça-níqueis e imóveis.

    Voltando ao clã Bolsonaro… Raimunda Veras Magalhães, mãe de Adriano, e a ex-mulher do miliciano, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, foram exoneradas do gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj em 13 de novembro de 2018, na sequência da divulgação do relatório do Coaf que flagrou movimentações suspeitas nas contas bancárias de Fabrício Queiroz, então assessor do parlamentar. Queiroz, apenas para relembrar, é amigo de longa data do presidente da República.

    Raimunda foi nomeada por Flávio Bolsonaro em 2 de março de 2015, ao passo que a nomeação de Danielle Mendonça ocorreu em novembro de 2010. Essas datas são importantes, pois mostram que as nomeações ocorreram anos após os acontecimentos criminosos envolvendo Adriano da Nóbrega e os contraventores liderados por Maninho e companhia.

    Apesar desses incontestáveis fatos, que o clã Bolsonaro certamente tinha conhecimento, já que foram largamente noticiados pela imprensa, o presidente da República e seus rebentos insistem em afirmar que Adriano da Nóbrega era um herói. Imagine se fosse criminoso!