Que o governo de Jair Bolsonaro é movido pelo populismo e pela fanfarronice o mundo já sabe, mas não será dessa maneira, irresponsável e debochada, que o País conquistará a confiança do investidor, cujos recursos são extremamente necessários para a retomada do crescimento econômico.
Após o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar, na quarta-feira (4), que o Produto Interno Bruto (PIB) de 2019 ficou em mísero 1,1%, derrubando inclusive as previsões feitas por integrantes do governo no início do ano passado, o presidente da República recorreu a um humorista para explicar o fiasco econômico. Na saída do Palácio da Alvorada, onde diariamente estão jornalistas à espera de uma declaração do chefe do Executivo federal, o humorista, caracterizado como presidente, atacou os profissionais da imprensa ao oferecer-lhes bananas. Enquanto isso, Bolsonaro acompanhava a ópera bufa aos risos.
Apoiadores do presidente alegam que o espetáculo circense ocorrido na portaria da residência presidencial é fruto da liberdade de expressão, como se Bolsonaro pudesse desrespeitar a Presidência da República como tem feito nos últimos tempos. Que ninguém pense que a economia retomará a rota do crescimento na esteira da borduna, pois analistas têm visão diametralmente oposta acerca do tema.
Horas depois do vexame oficial, o ministro Paulo Guedes, da Economia, disse ter se surpreendido com a maneira como as pessoas reagiram ao PIB de 2019. Guedes, que vem sendo cobrado pelo presidente para que o PIB do corrente ano seja de pelo menos 2%, diz sim a esses despautérios como se o cenário econômico pudesse ser controlado de acordo com as necessidades de cada país e os desvarios de cada governante. A própria equipe econômica do governo já começa a rever a previsão do crescimento do PIB para 2020, sendo que analistas e economistas que flertam com a realidade apostam em avanço de 1,5%.
Para desmontar os discursos descabidos de Bolsonaro e Guedes, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida – talvez o único nome respeitável do governo – disse nesta quinta-feira (5) que “não é normal um país como o Brasil crescer 1% ao ano”.
“Estou muito preocupado, não durmo tranquilo, não é normal um país como o Brasil crescer 1% ao ano, claramente causa frustração em vários segmentos da sociedade”, disse Mansueto durante abertura do Fórum Consad, em Brasília.
A fala sensata de Mansueto desautoriza não apenas o ministro da Economia, mas também e em especial o presidente da República, que não faz muito tempo admitiu publicamente ser um ignaro em termos econômicos.
O secretário do tesouro tem motivos de sobra para preocupar-se, uma vez que diante do cenário econômico o PIB deveria ser ligeiramente mais robusto. A inflação está baixa e a taxa básica de juro (Selic) encontra-se em patamares inéditos, mas a economia não deslancha. O problema está no desemprego alto, no elevado índice de informalidade laboral, no receio dos consumidores em relação ao futuro e a forma como o presidente da República lida com os problemas do cotidiano.
É um direito de Jair Bolsonaro aparecer em cena como patrocinados de um espetáculo circense, que depõe contra a desgastada imagem do País, mas que ninguém espere milagres no vácuo de comportamento tão condenável. Não obstante, tratar a democracia e o Estado de Direito aos pontapés não atrai investidores, pelo contrário.