Crescem no governo as apostas sobre o tempo que Regina Duarte permanecerá como secretária da Cultura

 
Entre o convite para assumir a Secretaria Especial da Cultura, em 20 de janeiro, e a posse de Regina Duarte no cargo, em 4 de março, passaram-se 44 dias, período que a atriz e o presidente da República classificaram como “noivado”. Nesse período, muitas foram as polêmicas envolvendo a chegada da outrora “namoradinha do Brasil” ao governo de alguém que flerta diuturnamente com o retrocesso, exalta a era plúmbea, trata ditadores como heróis e homenageia de forma recorrente o torturador-geral da República, Carlos Alberto Ustra, o monstro do DOI-Codi.

Regina Duarte experimentou o autoritarismo no dia da posse, logo após dizer, em discurso com viés de dramalhão, que não esqueceu a prometida “carta branca”. Bolsonaro, que odeia a cultura e só concorda com ações do setor que se enquadrem na sua cartilha autoritária, rebateu afirmando que continua detendo poder de veto e que em todos os ministérios a situação foi idêntica.

“O convite que me trouxe até aqui falava em porteira fechada, carta branca. Não vou esquecer não, presidente. Foi inclusive com esses argumentos que eu me estimulei e trouxe para trabalhar comigo uma equipe apaixonada, experiente, louca para botar a mão na massa”, disse a atriz em seu discurso.

Com menos de uma semana no cargo, a nova secretária da Cultura já é alvo de apostas no meio político, pois há quem garanta que a atriz em breve será ejetada da pasta. Logo após a posse, segundo informações de bastidores, Regina Duarte teria avaliado a possibilidade de renunciar, tamanha foi a pressão exercida nas redes sociais pelos sempre descontrolados e intransigentes bolsonaristas, em especial os chamados “olavistas”.

Regina foi convencida a resistir, pelo menos por enquanto, o que teria evitado uma passagem mais que meteórica pela Secretaria da Cultura. Como o cenário já apontava nessa direção dias antes da posse, o Palácio do Planalto decidiu escalar alguns ministros para dar à nova secretária a blindagem necessária para enfrentar o serpentário em que se transformou o governo de Jair Bolsonaro. Se essa estratégia funcionará não se sabe, mas há muita peçonha sendo aspergida por todos os cantos.

No domingo (8), em entrevista ao programa dominical “Fantástico”, da TV Globo, Regina Duarte falou sobre as dificuldades e classificou como “problema que vai resolver” o fato de Sérgio Camargo estar na presidência da Fundação Palmares.

Na entrevista, ao ser questionada sobre a polemica envolvendo Camargo, a nova secretária da Cultura disse: “Estou adiando esse problema porque essa é uma situação muito aquecida”. Regina Duarte rotulou o presidente da Fundação Palmares como “um ativista, mais do que gestor público”.

 
Sobre o período que antecedeu a posse, a atriz não pensou duas vezes e disparou: “Estivemos ocupados com enormes dificuldades de toda uma facção que quer ocupar esse lugar. Quer que eu me demita, que eu me perca”.

Esses pontos da entrevista foram suficientes para Regina Duarte começar a semana debaixo de ataques. O presidente da Fundação Palmares abusou do tom irônico nas redes sociais para rebater alguém hierarquicamente superior. O clima de tensão ganhou contornos extras, a ponto de a secretária cogitar a possibilidade de pedir ao presidente da República para transferir a Fundação Palmares para outra pasta, caso Sérgio Camargo seja indemissível.

Nesta segunda-feira (9), o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, criticou publicamente Regina Duarte por ter usado o termo “facção” na entrevista ao “Fantástico”.

“O presidente valoriza a Cultura, que deve se espelhar na família tradicional e nos princípios cristãos. Nosso governo tem um norte: a vontade da maioria do seu povo. Nisso Regina e Bolsonaro devem estar juntos. São seus ministros e secretários que devem se moldar aos princípios publicamente defendidos pelo presidente da República, não o contrário. O uso do termo ‘facção’ em entrevista, sem nomear seus supostos integrantes, dá a entender que há divisões inexistentes e inaceitáveis em nosso governo”, escreveu Ramos em rede social.

Para piorar o que começou mal, Regina viu na tarde desta segunda-feira uma nomeação de sua autoria ser anulada pelo Palácio do Planalto. Em edição extra do Diário Oficial, o chefe da Casa Civil, Walter Souza Braga Netto, tornou sem efeito a nomeação de Maria do Carmo Brant de Carvalho, escolhida para comandar a Secretaria da Diversidade. Maria do Carmo foi alvo de críticas de aliados de Bolsonaro por ter comandado a Secretaria de Assistência Social durante o governo de Dilma Rousseff.

A grande questão é que qualquer crítica a situações que envolvem o governo Bolsonaro não pode ser verdadeira, pois é preciso preservar a “facção” que levou o ministro Luiz Eduardo Ramos a se manifestar em rede social. Goste ou não ou chefe da Secretaria de Governo, há sim uma “facção” operando dentro do governo para desestabilizar todos aqueles que ousam fazer críticas.

E por falar em críticas e ousadia, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) sentiu-se atingido com a palavra “facção”, por isso teria tomado uma decisão radical, não sem antes mostrar-se colérico. Conhecido como “02”, Carluxo disse a interlocutores que não sossegará enquanto não tirar Regina Duarte do governo do pai, que acompanha o desenrolar dos fatos à distância, mais precisamente em Miami.