Chantagista, Bolsonaro propõe recuo em manifestações se Congresso desistir de R$ 15 bi do Orçamento

 
Ultrapassa com folga o limite do razoável a postura do presidente Jair Bolsonaro em relação aos protestos contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) agendados para o próximo domingo (15).

Depois de conclamar a população a participar das manifestações, Bolsonaro, que vem sendo pressionado por ministros de Estado a pedir o cancelamento do movimento, mais uma vez recorreu ao populismo barato para não sair como perdedor de um processo de queda de braços com o Parlamento que poderá levar o País à débâcle econômica.

Em Miami, onde cumpre agenda oficial marcada pela subserviência ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Bolsonaro sugeriu nesta segunda-feira (9) que os protestos do dia 15 de março podem perder força caso o Congresso concorde em abrir mão do controle de R$ 15 bilhões do Orçamento impositivo.

“O que a população quer, que está em discussão lá em Brasília: não quer que o Parlamento seja o dono do destino dos R$ 15 bilhões do Orçamento”, disse Bolsonarona capital do estado norte-americano da Florida.

Ciente de que a situação do governo na área econômica não é das mais confortáveis, até porque a pasmaceira da equipe comandada pelo ministro Paulo Guedes chega a assustar, Bolsonaro disse que os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, respectivamente, têm a oportunidade de minimizar os protestos se “anunciarem algo no tocante a dizer que não aceitam” que o Congresso controle os R$ 15 bilhões.

 
“Acredito que eles possam botar até um ponto final na manifestação, não um ponto final, porque ela vai haver de qualquer jeito no meu entender, mas para mostrar que estamos sim afinados no interesse do povo brasileiro”, declarou o presidente.

Essa postura típica de chantagista profissional inverte o cenário “pintado” pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), Augusto Heleno, que recentemente afirmou que o governo não poderia ser refém do Parlamento. “Não podemos aceitar esses caras chantageando a gente. Foda-se”, disse Heleno.

O mundo já sabe que Jair Bolsonaro quer implantar no Brasil uma ditadura moderna travestida de democracia embalada pelo conservadorismo e pela tese boquirrota da família tradicional, mas é inaceitável que o presidente tente emparedar um dos Poderes constituídos para levar adiante um projeto autoritário e que atenta contra o Estado de Direito.

Em vez de buscar a conciliação, Bolsonaro inflama ainda mais seus apoiadores com uma proposta que só pode ser classificada como criminosa. Ou seja, sem ter como recuar, já que seria obrigado a vestir a fantasia do derrotado, o presidente encontrou uma alternativa que só piora a situação.

No contraponto, o Congresso, ciente de que pode dificultar a vida do governo, preferiu esperar os resultados das manifestações e a reação de Bolsonaro após os protestos para definir o formato e a intensidade da reação. Qual seja o resultado das manifestações, o que podemos afirmar é que o futuro do País será excessivamente sombrio nos próximos anos.