Após culpar a imprensa pela Covid-19, Bolsonaro surge como bufão no rastro do discurso de Donald Trump

     
    Há muito deixou de ser novidade que o presidente Jair Bolsonaro insiste em ser um pândego incorrigível, situação que lhe proporciona a possibilidade de estar no noticiário de forma quase ininterrupta, a reboque de declarações estapafúrdias.

    Sempre contrariando o óbvio, Bolsonaro age dessa maneira porque, sem até agora ter descido do palanque, necessita levar a um delírio quase constante sua massa de apoiadores. De tal modo, não causou surpresa a declaração do presidente acerca da epidemia do novo coronavírus – agora pandemia –, cuja magnitude, segundo o presidente, é de responsabilidade da imprensa.

    Na última terça-feira (10), em Miami, o presidente brasileiro disparou mais uma de suas enfadonhas pérolas: “No meu entender, muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propala ou propaga pelo mundo todo”.

    É sabido que Jair Bolsonaro nutre ojeriza aos meios de comunicação que não se colocam em posição genuflexa diante do Palácio do Planalto, mesmo que em troca do dinheiro oficial, mas culpar a imprensa pela pandemia de coronavírus é o ápice da delinquência intelectual, talvez seja caso de internação compulsória, com direito a camisa de força.

    Apenas alguém com massa cinzenta seriamente comprometida é capaz de imaginar que jornalistas combinaram com 118 países e seus respetivos governantes para produzir notícias sobre a contaminação de quase 120 mil pessoas e a morte de mais de 4 mil.

     
    Como se o primeiro capítulo besteirol oficial não bastasse, Bolsonaro foi além na questão do coronavírus e disparou: “Eu acho… eu não sou médico, não sou infectologista. Do que eu vi até o momento, outras gripes mataram mais do que essa”.

    Bolsonaro precisa compreender que a questão principal não é o baixo índice de letalidade da Covid-19, no geral, mas no âmbito de pessoas com mais de 60 anos ou com doenças pré-existentes. Nesse recorte, o índice de letalidade do novo coronavírus dispara de forma exponencial e fica no intervalo entre 15% e 18%.

    Considerando que a saúde pública no Brasil é caso de polícia e que a rede hospitalar do Estado não está preparada para atender casos como o da Covid-19, bom seria se o presidente da República ficasse calado.

    O discurso tosco e irresponsável de Bolsonaro acerca da pandemia do novo coronavírus foi previamente combinado com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que até a noite de quarta-feira (11) resistia em aceitar a dura realidade provocada pela Covid-19.

    Após o pronunciamento de Trump, em que foi anunciado estado de emergência nos EUA, espera-se que Jair Bolsonaro tenha percebido que ser subserviente ao inquilino da Casa Branca não é a melhor das decisões e pouco ajuda o Brasil. Até porque, Donald Trump, mesmo que de maneira irresponsável, procurou defender os interesses americanos, deixando Bolsonaro à beira do caminho.

    Em suma, o presidente brasileiro rompeu esta quinta-feira acreditando que o Palácio do Planalto é um enorme picadeiro.